O músico, jornalista e produtor Eduardo Scott é o convidado do episódio 53 do Geração GFM, podcast comandado por Thiago Mastroianni e Dino Neto e transmitido neste domingo (28) pela GFM 90,1 e pelo YouTube. Durante o programa, Scott, que fez parte de importantes bandas de punk rock dos anos 80, relembrou sua trajetória musical e contou histórias do período em que trabalhou como divulgador de grandes gravadoras, como a PolyGram.
Fundador e vocalista do grupo Gonorreia, um dos precursores do punk rock baiano, Scott recordou a estratégia de divulgação do grupo, por meio de pichações em muros, e disse ter passado por maus bocados com a censura federal nos anos 80, já no fim da ditadura. Na época, a banda costumava se apresentar em eventos ao lado do grupo Camisa de Vênus, comandado por Marcelo Nova.
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"Quando apareceu o Camisa de Vênus, ninguém falava o nome da banda porque era uma aberração na época. Quando surgiu o Gonorreia, eu cheguei na sede da Polícia Federal pra liberar o primeiro show e a doutora Maria Helena, chefe da censura, falou logo 'primeiro foi aquele senhor com aquele nome horrível de Camisa de Vênus. Agora vem o outro com esse nome de doença venérea, o que é que você quer?'. Eu disse: 'o que a gente quer é chocar a família baiana'. E ela riu, porque na verdade o que ela fazia era um trabalho de censura federal que não tinha o menor critério", disse.
Pela proximidade com o Camisa de Vênus, Scott foi convidado para liderar a banda na turnê de retorno, em 2010, já que o vocalista Marcelo Nova não quis participar do projeto. O músico disse que nunca imaginou receber o convite e ressaltou que estava preparado para as reações dos fãs da banda.
"Você tem que acreditar, investir e usar o que você conhece para convencer as pessoas. Só o tempo iria mostrar. Tanto que a turnê durou cinco anos e meio. A gente tinha os que não gostavam, que são as viúvas, tinha os que adoravam, que nunca tinham visto, e os que entendem que existe a banda e a carreira solo do artista. Tem muita gente jovem que conheceu a banda porque ouviu nos discos do avô. A renovação é o que faz uma banda que tem muito tempo de carreira continuar", pontuou.
Durante o programa, Scott também fez comentários sobre a atual situação do mercado musical. "O pior que está acontecendo hoje é a idiotização da música. Hoje em dia o pessoal faz primeiro a coreografia e depois a música. O segundo problema é que o jovem de hoje não ouve a música de três minutos toda. Ouve 1min50s e já muda pra outra. A facilidade que tem hoje está destruindo isso. E outra coisa é que os artistas não querem mais arriscar. É muito mais fácil montar uma banda cover, porque é arriscado ser autoral. Se me perguntarem qual banda nova de rock eu indico, vou dizer que não sei".
Gravadoras
Além da estrada musical, Scott também trabalhou como divulgador e produtor em grandes gravadoras, como Warner, Polygram e BMG. Ele avalia que seu grande diferencial nesse período era a boa relação com os profissionais da mídia. "Essa relação é muito importante, porque você pode ser um grande profissional, mas se você é antipático e arrogante, não consegue chegar nas pessoas", pontuou.
Por esse mesmo motivo, Scott relatou nunca ter tido problemas com artistas considerados "temperamentais". "Artista é ser humano. Um dia tá bem, um dia tá chateado. O problema maior que eu tive foi com aqueles que fazem um 'sucessinho' e começam a se achar os maiores, e não é assim. O sucesso é uma coisa que você tem pelo seu talento, sorte, equipe, você chega no topo, mas não vai continuar no topo. Quem acha que sucesso é eterno está completamente enganado", comentou.
Trabalho com Ivete
Scott ainda relembrou o período em que foi assessor de comunicação da cantora Ivete Sangalo. Ele permaneceu na função durante dez anos, e por esse motivo era chamado de "Highlander", em referência ao filme dos anos 80 que conta a história de um guerreiro imortal. "A média era que os assessores ficassem apenas um ano, um ano e meio", explica.
Para o músico, vindo do universo do rock, nunca foi um problema trabalhar com Ivete. Ele revelou, inclusive, que a relação de ambos era tão boa que ela ajudou a financiar um disco de sua banda. "O disco do Gonorreia que saiu em 2006 pela gravadora Universal Music foi produzido por mim e por ela. Nós dois pagamos a produção do disco, muita gente não sabe", disse.
Sobre o Geração GFM
Com muito bom humor e leveza, Thiago Mastroianni e Dino Neto conduzem entrevistas com ícones dos anos 80 e 90, toda semana, em duas versões: uma especial para o rádio 90,1, e outra edição com bate-papo na íntegra no Youtube.
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