Com o poder da improvisação, o jazz representa a luta pela liberdade de povos escravizados e um movimento em busca de sociedades mais inclusivas. Com o objetivo de evidenciar a importância desse gênero musical, em 2011, a UNESCO definiu 30 de abril como o Dia Internacional do Jazz.

Em Salvador, o som da improvisação continua pulsando graças a eventos e espaços na cidade que abraçam a música instrumental. Palcos como o Jazz na Avenida e o Museu de Arte Moderna da Bahia, que recebe o projeto JAM no MAM, são fundamentais para manter a cena local, abrindo caminhos para artistas e orquestras que mantém viva a conexão do jazz com a cidade.
Leia também:
Porém, a valorização da música instrumental em palcos próprios na capital baiana é antiga. Nos anos 80, o Grupo Garagem, banda formada por Ivan Huol, Rowney Scott e Ivan Bastos, se uniu a outros artistas da região para criar um espaço dedicado ao jazz: o bar Adlibto.
Outro local que foi ponto de encontro da cena instrumental em Salvador foi o Bra Vagão, formado por dois artistas, um suíço e um alemão. "Eles trouxeram para cá a cultura do jazz tradicional" relembra Ivan Huol.
Essas iniciativas de músicos para destinar espaços específicos para o jazz deixou um legado importante. Foi a partir deles que surgiram outras orquestras e palcos voltados à música instrumental na cidade.
Legados do Jazz em Salvador

Entre 1993 e 2001, no Museu de Arte Moderna da Bahia, músicos se reuniam em Jam Sessions baseadas na improvisação de jazz, conhecidas como "Jazz MAM". Elas aconteciam em frente à igreja do Solar do Unhão, sob a coordenação do músico Ivan Huol.
O projeto teve uma pausa e retornou ao museu em 2007 repaginado como JAM no MAM. Ainda hoje ocorre a Jam Session, tendo a banda Geleia Solar como anfitriã e abrindo o palco para artistas locais que queiram se arriscar na improvisação.
Outro point para os artistas de jazz atualmente é o ponto de cultura Jazz na Avenida, na Boca do Rio. O espaço, liderado por Laurent Rivemales, propõe um ambiente de liberdade criativa como forma de resistência à indústria musical.
"A gente propõe um ambiente fértil onde os artistas possam experimentar, criar, se reinventar, sem a pressão de se encaixar num padrão comercial", afirma Laurent.
O Jazz na Avenida acontece todas as sextas-feiras e funciona como um celeiro de novos talentos. Com entrada gratuita, o espaço se mantém hoje com apoio do Ponto e Cultura e do Ministério da Cultura, com uma verba que ainda está em processo de liberação, além do público que consome no local.

Além de espaços fixos, Salvador conta ainda com iniciativas como o festival "Oxe é Jazz", realizado pelo guitarrista Eric Assmar, que recebe artistas de diferentes gerações e reforça a diversidade da música instrumental.

Com shows gratuitos em espeços abertos, o "Oxe é Jazz" traz a proposta de ampliar a escuta e democratizar o acesso ao gênero em diferentes territórios de Salvador.
Presença feminina nas Jam Sessions
Apesar do histórico de destaque majoritariamente masculino do jazz, Salvador tem presenciado um movimento crescente de mulheres ocupando os palcos da música instrumental. É nesse contexto que nasce o Jam Delas, coletivo formado exclusivamente por mulheres instrumentistas da Bahia.

O grupo surgiu dentro das próprias Jam Sessions, reunindo musicistas que atuam em outras formações importantes da cidade, como a Geleia Solar e a Orkestra Rumpilezz. O Jam Delas se apresenta em casas de show como na Casa da Mãe e no Colaboraê, ambos no Rio Vermelho, espaços que fornecem um ambiente seguros, criativos e potentes para mulheres tocarem.
Mais do que ocupar o palco, o coletivo busca repensar estruturas, propor novas estéticas e romper com padrões machistas ainda presentes na cena musical. Cada apresentação do grupo reúne integrantes diferentes, pela quantidade de mulheres que integram o coletivo, reafirmado o protagonismo feminino no cenário do jazz em Salvador.
Série especial do Mundo GFM
Na próxima reportagem da série especial do Mundo GFM será possível conhecer mais sobre a trajetória desse coletivo de mulheres e como elas têm mostrado um novo ponto de vista do jazz em Salvador.