Há quem diga que a música pop, no Brasil, começou com o surgimento do fenômeno Secos & Molhados, que teve o primeiro disco lançado em 1973. O jornalista e escritor André Barcinski parte dessa premissa em seu livro Pavões Misteriosos, obra de cabeceira para quem busca entender a música dos anos 70 e 80 para além dos medalhões e da tradição bossanovista. De fato, não é exagero algum dizer que o álbum de estreia do grupo formado por Ney Matogrosso, Gerson Conrad e João Ricardo deflagrou uma verdadeira revolução. Não à toa, ele é tão celebrado, 50 anos após o lançamento.
O Secos & Molhados começou suas atividades em 1971. O projeto, criado por Gerson e João, ganhou a voz e o rosto de Ney Matogrosso por intermédio da cantora e compositora Luhli (1945 – 2018), o que fez toda a diferença para o sucesso do trabalho. O álbum trazia, basicamente, canções feitas a partir de poemas, como "Rosa de Hiroshima", de Vinicius de Moraes, e "Rondó do Capitão", de Manuel Bandeira. É uma sequência de faixas que alterna climas diversificados: da introspecção tensa de "Sangue Latino" e "Fala" ao irresistível apelo pop de "O Vira", sucesso imediato entre as crianças; passando pelo rock progressivo de "Amor" e "Primavera nos Dentes". Da poesia à política, tudo está nas 13 faixas do disco.
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Além da capacidade de agradar diferentes públicos, o álbum de estreia do Secos & Molhados chamou atenção pela capa, uma criação do fotógrafo Antônio Carlos Rodrigues: os integrantes do grupo aparecem, maquiados, com suas cabeças expostas na mesa de um banquete. A maquiagem, por sinal, era um elemento fundamental da estética andrógina do grupo, algo revolucionário em tempos de ditadura militar. Toda essa combinação de aspectos contribuiu para que o grupo tivesse recordes de vendas de discos e lotações de shows. Em resumo: o álbum de 1973 do Secos & Molhados merece ser ouvido pelas gerações presentes e futuras.