"Leve com você só o que foi bom, ódio e rancor não dão em nada. Ouço aquele som e lembro de você...". É com a energia desses versos que Natiruts se despede dos palcos após 28 anos de banda. A turnê chega a Salvador neste sábado (7), às 21h, na Arena Fonte Nova.
O que todos querem saber é o que levou a banda a acabar, e para justificar, os amigos, que se conhecem pelo futebol, seguem a referência do ídolo Pelé. "Ele soube parar na hora certa, quando foi tricampeão mundial. Ele atingiu o topo, parou e se eternizou como o rei do futebol”, disse o baixista Luis Mauricio durante entrevista ao Mundo Bahia FM.
Leia também:
Eu acho que quando você atinge o teto você não tem mais para onde subir, a tendência é descer e a gente sempre falou sobre isso, de parar no auge. Luis Mauricio
E eles estão no auge! Os amigos de palco estão provando para si e para o Brasil o sucesso que é Natiruts, lotando estádios e abrindo datas de show extra.
"A gente nunca imaginou tocar em estádio para 50 mil pessoas", detalhou o artista sobre o primeiro show da turnê de despedida, em Brasília. Em São Paulo, os ingressos do Allianz Parque esgotaram em 20 horas e foram abertas três novas datas na cidade.
Além de estar em um ótimo momento da carreira, os artistas sentem que artisticamente já chegaram em um limite, produzindo músicas que são "um pouco mais do mesmo", por isso decidiram parar.
Luis revelou que após o final da turnê ele pretende descansar, aproveitar a família e se dedicar ao projeto que está engajado desde 2020 com a Associação Brasileira de Cannabis e Cânhamo Industrial.
Do rock ao 'Natiruts Reggae Power'
Em uma época que o rock ganha notoriedade, principalmente em Brasília, com bandas como Legião Urbana, Raimundos, Plebe Rude e tantas outras, surge Natiruts, a banda que iria “estourar a bolha” da música nacional tocando reggae.
Luis conta que começou a tocar aos 13 anos em uma banda na escola chamada Conexão Brasília, inspirado nesse boom do rock dos anos 80, e só foi se aproximar de outros gêneros quando tocou em bares.
Foi através de Gilberto Gil que o baixista conheceu o reggae. Ele começou a tocar a canção "Não Chore Mais" - a versão brasileira da música "No Woman No Cry" de Bob Marley.
Primeiro eu conheci a música de Gilberto Gil, me encantei e depois fui descobrir que a canção era de um tal de Bob Marley. Luis Mauricio
Isso tudo foi antes mesmo de conhecer Alexandre Carlo, parceiro de palco. Os amigos foram apresentados jogando futebol na Universidade de Brasília, onde estudavam, e a paixão pelo futebol e pelo reggae os uniu. "A gente tem uma logomarca que é um bonequinho, um rasta jogando futebol. Se tornou o símbolo da nossa banda".
A figura que representa o grupo os ajudou a vender discos no início da carreira. Isso porque eles começaram com o nome "Nativus", mas mudaram ao descobrir que já existia outra banda com esta nomenclatura. Foi aí que lançaram o primeiro álbum, apenas com a logo, e estouraram nas paradas.
Seguindo o caminho de ícones da música que apresentaram o reggae para o Brasil, como Edson Gomes, Tribo de Jah e Cidade Negra, o Natiruts foi essencial para popularizar o estilo musical.
"Talvez quem começou essa história aqui no Brasil foi Gilberto Gil, foi Edson Gomes, foi Tribo de Jah e a gente veio para reforçar isso".
Boca a boca que lota estádios
No início, era uma banda independente que vendia as fitas cassetes nas ruas e contava com o público para ajudar na divulgação "boca a boca".
"Geralmente chega na época do verão e as pessoas viajam para as praias e muita gente levou a nossa fita cassete para as praias e apresentou nosso som para o litoral do Brasil de norte a sul", disse o baixista.
Com a ajuda do público, eles passaram a receber convites de shows pelo país, até assinarem com uma gravadora e serem chamados para apresentações internacionais.
O grupo começou pela na América do Sul, tocando em locais pequenos para 200 pessoas, e depois retornando para os mesmos países lotando estádios, como aconteceu na Argentina, em um show que realizaram para mais de 10 mil pessoas.
O povo que fez a gente acontecer Luis Mauricio
Após venderem quase 40 mil discos de forma independente, a conexão entre Luis e Alexandre vai além de sócios de banda. "Na minha humilde opinião, ele é o maior compositor da minha geração, ele é um ídolo para mim, não só dentro da canção até pelas ideias dele", diz o baixista.
Despedida em Salvador
Entre os momentos marcantes na Bahia, Luis lembrou do primeiro show em Salvador, em 1998, no mesmo dia do jogo da final da Copa do Mundo, quando o Brasil perdeu de 3x0 da França. A data ficou marcada como a pior derrota da seleção brasileira até chegar o famoso 7x1 contra a Alemanha, em 2014.
“A gente ficou preocupado: ‘Pô, como é que vai ser o show, aquele clima triste?’. Quando a gente chegou lá com os meninos da Djamba tava lotado, parecia que o Brasil tinha ganho. O astral, a alegria, ninguém nem lembrava mais que o Brasil tinha perdido a copa do mundo".
Ansioso para a apresentação na capital baiana deste sábado na Arena Fonte Nova, o baixista deseja “que seja um show para lavar a alma”.