Localizado próximo ao Centro Administrativo da Bahia, o bairro de Sussuarana fica em uma região do antigo quilombo do Cabula, destruído em 1807. De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Sussuarana contava, em 2010, com aproximadamente 110 mil habitantes.
O crescimento do bairro foi tanto que ele começou a ser subdividido em localidades, como Nova Sussuarana, Novo Horizonte e Sussuarana Velha, além de ainda contar vários loteamentos e conjuntos habitacionais.
Dona Antonia Elita Santos, de 61 anos, mora há 40 anos no bairro e lembra detalhes de como foi o processo de evolução da região. Sobre isso, ela destacou que a união da comunidade foi fundamental durante o seu desenvolvimento.
“Quando cheguei aqui em Sussuarana, não havia nada. Nós morávamos em casa de madeirite e, para se ter uma ideia, nem cachorro tinha na região. A gente não tinha energia, água, transporte. E foi aí que começamos a descobrir a necessidade de estar se agregando junto com outras pessoas para conseguir melhorias para esse bairro”, disse.
E complementou: “Diante de tanta demanda que a gente via, sem escola, sem posta de saúde, começamos a nos organizar enquanto sociedade civil, decidimos fundar a associação de moradores e foi através dela que conseguimos alguns benefícios”.
Juntamente com o crescimento populacional, alguns problemas começaram a ficar mais evidentes em Sussuarana. No entanto, a região é muito mais do que isso. Ela é repleta de jovens talentos e possui um grande potencial cultural.
E foi pensando nisso que um grupo formado por Sandro Sussuarana, Evanilson Alves, Maiara Guedes e Omael Vieira decidiu criar, em 2011, o projeto Sarau da Onça, que é um coletivo que desenvolve ações culturais, educacionais e de formação para jovens de Salvador.
Evanilson, que mora no bairro há mais 20 anos, contou que o projeto surgiu a partir da necessidade de mostrar que o bairro ia além da violência que era destacada nos veículos de comunicação.
“A gente queria contrariar essa estatística. Então, sentamos, pensamos em várias propostas, alternativas, e chegamos à conclusão de fazer esse evento, que unisse, naquele momento, a música, a dança, a poesia e o teatro. E é, a partir daí, que nasce o Sarau da Onça”, relembrou.
Em entrevista ao Fala Bahia, da Bahia FM, o morador frisou que a ideia do projeto é, justamente, trazer a perspectiva de há um grande potencial cultural na comunidade. Evanilson destacou, ainda, que o Sarau possibilita um novo olhar para os jovens.
“O projeto, por si só, já é um diferencial da favela e um divisor de águas, porque a gente traz à tona as cenas, as situações do cotidiano, faz com que os jovens despertem um censo crítico sobre a sociedade. E tudo isso através da palavra, da poesia, da música...”.
Assim como o Sarau da Onça, outros projetos desenvolvidos pelos próprios moradores acontecem na comunidade. No entanto, Dona Antonia Elita reforçou que, mesmo com essas iniciativas, ainda há a ausência de espaços culturais que contemplem outras ações, principalmente para os jovens.
“O nosso sonho é que tivéssemos aqui um Centro Cultural, para que esses jovens pudessem desenvolver suas habilidades e atividades. Com certeza, se tivesses esse equipamento, com a ajuda dos nossos governantes, Sussuarana estaria em um outro patamar”, enfatizou.