Consolidada como a maior celebração da cultura afro-brasileira na Bahia, a festa de Iemanjá, celebrada no dia 2 de fevereiro, completa 100 anos de realização pela colônia de pescadores do Rio Vermelho. O festejo, que é quase exclusivamente soteropolitano, surgiu após um período de dificuldade para os pescadores, como explica o historiador Josenildo Sales.
“A gente tem em meados do século 20, pelos anos de 1923 onde havia uma escassez de peixe na costa brasileira, aqui na costa baiana e pelo rio vermelho e pedindo para que os peixes voltassem a uma grande quantidade para suprir necessidade da população pesqueira, os pescadores se juntaram e começaram a fazer oferendas a iemanjá para que esses peixes voltassem e naquele momento que ainda não era festa se inicia a ideia de oferenda pra Iemanjá. Então nesse momento começa a se pensar uma ideia de retorno dos peixes e alimentar essa população. Mas a festa ela só vai se dar mesmo no período lá mais ou menos de 1950, onde vai se dar a festa, uma festa religiosa chamada de festa de Iemanjá”, conta.
Leia também:
A comemoração do centenário do presente à Iemanjá também propõe uma revisão histórica sobre a representação das divindades africanas no Brasil. A colônia de pescadores vai passar a abrigar uma escultura realista, que personifica uma iemanjá negra, com traços africanos. O artista plástico que assina a escultura, Rodrigo Siqueira, conta que a imagem vai além de uma reparação.
“A materialização de um orixá tão antigo como o Iemanjá, eu acho que não é só uma reparação, eu acho que é devolver para a senhora do mundo, a dona das águas, a mãe do mundo uma história que foi usurpada, foi roubada pelo colonizador. A gente está falando de dez mil anos antes de cristo e não dois mil e vinte e três anos, então a gente tem que devolver ao continente africano, aos africanos, as africanas essa origem, reconhecimento dessa origem. Que você veja, o colonizador já roubou a riqueza, se apropriou de símbolos de práticas litúrgicas, culturais, religiosas. Então a gente quando faz uma peça dessa não é só para o soteropolitano poder se ver através de uma imagem negra, poder rezar com a beleza de uma imagem negra, mas é poder saber a importância que os nossos ancestrais, que os nossos antepassados têm, não só para história cidade de salvador, mas a história da humanidade”, explica.
Como não poderia deixar de ser, a celebração deste ano terá uma programação toda especial, com o tema “Odoyá, 100 anos de festa e reverência a Iemanjá”. Os festejos começam hoje, com a entrega do “presente de Oxumaré”, no Dique do Tororó, à meia-noite.
O presente de Iemanjá sai amanhã, às quatro e meia, do Terreiro de Ilê Oxumaré, na Vasco da Gama, e deve chegar à praia de Santana, no Rio Vermelho, por volta das 5h, quando acontece a tradicional Alvorada, permanecendo até as 16h.
Logo depois, a oferta segue na embarcação “Rio Vermelho” para o “Buraco de Iaiá” que é a localização exata no mar, de um buraco em formato de concha, a 3 milhas náuticas da terra, onde as oferendas são depositadas. Enquanto isso, em terra, das 08 da manhã de hoje até às 06 da tarde de amanhã, os pescadores da colônia do Rio Vermelho, e seus colaboradores, organizam a casa de iemanjá e o barracão, onde ficam a imagem principal e os balaios, conduzindo os fiéis em filas para depositar flores, oferendas e fé para a Rainha do Mar.
A partir de hoje, o trânsito começa a sofrer alterações no rio vermelho e as mudanças vão permanecer até às 06 da manhã de sexta.
A Transalvador vai fazer desvios do fluxo de veículos e vai instalar barreiras nas imediações do bairro para garantir a comodidade de quem chegar e sair da região.
Os moradores do Rio Vermelho vão poder ter acesso às suas moradias, dependendo das condições da via, desde que apresentem algum comprovante de residência. Além disso, a festa vai contar com reforço na segurança. De acordo com a secretaria de segurança pública, cerca de mil policiais e bombeiros vão atuar durante a celebração.
Leia mais sobre Fala Bahia no iBahia.com e siga o portal no Google Notícias.
Veja também: