O bairro Engenho Velho da Federação,
em Salvador, é uma verdadeira resistência negra na cidade. Na região é possível
encontrar pelo menos 19 terreiros de candomblé, entre eles o primeiro do
Brasil, o Casa Branca
Localizado às margens da Avenida Vasco da Gama, a história do bairro também tem relação com uma fazenda homônima, onde havia um grande engenho de cana-de-açúcar. Essa fazenda era o destino de muitos negros africanos escravizados no século XVII. Srº Antônio Santos Filho, de 61 anos, conhece de perto essa história. Ele mora no bairro há mais de 50 anos e destaca detalhes do processo de evolução da região.
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“Quando cheguei no Engenho Velho da Federação não tinha nada e hoje tem tudo. Aqui sempre foi uma região com muitas fazendas, cocheiras, inclusive por isso que surgiu o nome de ‘Baixa da Égua’”, disse.
Srº Antônio ainda relembra a construção do Conjunto Santa Madalena, que, segundo ele, mudou o cenário da localidade. “Não consigo lembrar a data exata, mas vi quando subiu o primeiro pilar do Conjunto Santa Madalena, que foi na época do prefeito Manoel Figueiredo Castro”.
Um dos destaques do bairro é o grande potencial cultural. Pelas ruas do Engenho Velho da Federação é possível encontrar diversos adolescentes e jovens que buscam apenas uma oportunidade de utilizar a arte como ferramenta de aprendizado e até mesmo de renda. E foi pensando em mostrar para a comunidade que era possível que o morador Luiz Augusto Ferreira, mais conhecido como Mestre Vermelhão, decidiu criar a Associação Artística e Recreativa de Capoeira Nossa Arte.
Atualmente, o projeto atende cerca de 180 crianças e adolescentes da comunidade, oferecendo aulas de capoeira, percussão, teatro e futebol.
“O projeto começou em 2001, por conta de uma necessidade de liberdade de expressão, de atividade, e também sugerindo uma oportunidade às crianças e jovens do bairro, para que pudessem ter um espaço de lazer, cultura, esporte e entretenimento. A ideia é que eles não fiquem na ociosidade de ‘trabalho x escola’, ‘escola x trabalho’”.
Apesar de ter a capoeira como “carro-chefe”, a associação também conta com o projeto Avassala-Som, quem, com um som envolvente, estimula os jovens a aprimorarem o conhecimento no mundo da percussão.
“O Avassala-Som foi criado justamente para oportunizar aqueles que muitas das vezes não têm afinidade com artes marciais, luta, capoeira, na área esportiva, mas que o talento artístico. Então, a ideia é envolver toda a comunidade no processo construtivo, porque se subi um todos estarão juntos subindo. A nossa ideia é do Avassala-Som é trazer uma música nossa, que a gente possa tocar à vontade, incluir novos instrumentos que não são normalmente vistos no mercado musical e mostrar o nosso talento”, enfatizou.