No cenário vibrante e tradicional do forró, as mulheres não apenas encantam pela voz, mas também desafiam as expectativas ao assumir papéis de destaque como instrumentistas. Em uma indústria musical frequentemente dominada por homens, formar e manter bandas de forró lideradas por mulheres é um ato de resistência e talento. O Mundo Bahia FM conversou com integrantes de grupos de mulheres no forró sobre desafios e triunfos alcançados.
“Percebemos um estranhamento no olhar, às vezes do público ou dos próprios técnicos de som que recebem a gente, algumas pessoas já falaram ‘nossa, vocês estão afinadas ein’, então isso traduz para a gente um pouco da cabeça das pessoas de duvidarem mesmo da capacidade”, diz Letícia da banda Flor de Imbuia.
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A artista destacou ainda que estar em uma banda de mulheres serve como influência para as novas gerações também, incentivando meninas a tocar instrumentos, além de apenas cantar.
“Se a gente pensasse em uma instrumentista mulher importante no Brasil, a gente vai lembrar de vocalistas ou até compositoras. Não tem uma diversidade muito grande de mulheres que tocam, por isso a gente acha importante ter esse diferencial.”
Conheça bandas de mulheres do forró em Salvador
Flor de Imbuia
A banda Flor de Imbuia é considerada a primeira banda feminina de forró de rabeca em Salvador. Formada por quatro mulheres que se encontraram na capital baiana, sendo elas: Letícia Corrêa (rabeca), nascida no Pará, Lu Aguiar, na zabumba e natural de Itabuna, Têba Rocha, trazendo as raízes do Vale do Capão tocando a sanfona, e Thalita Batuk, no triângulo, vinda diretamente de Goiás.
O grupo começou em 2018, quando a cantora e compositora Diana Ramos foi chamada para uma apresentação no espaço cultural Casa Preta, localizado no bairro Dois de Julho, e reuniu quatro mulheres e dois homens que tocavam forró e, a partir da harmonia deles neste show, nasceu a Flor de Imbuia.
Letícia Corrêa, integrante da banda, contou ao Mundo Bahia FM que após a saída de um dos integrantes da banda aflorou um desejo das musicistas que já existia.
“Entre nós mulheres já havia um desejo compartilhado, latente, de que em algum momento a banda se tornasse só de mulheres, então a gente aproveitou, de certa forma a saída de um dos integrantes e, a partir de 2019, nos tornamos uma banda só de mulheres.”
Flor de Imbuia tem um álbum lançado em 2021 com composições de Letícia, Diana e do amigo compositor Beto Cândido. Ouça abaixo.
O Véi Chico
Formado por Maria Brandão, na zabumba, e Ana Silva, na voz, o grupo surgiu há cerca de 2 anos, em Salvador, com a intenção de uma formação totalmente feminina, porém Ana relatou que “é muito difícil encontrar mulheres instrumentalistas para colar no projeto”, então a depender do tamanho do show, elas chamam amigos para complementar nos instrumentos.
Ana conta que começou a cantar aos 14 anos na cidade de Irará, onde nasceu, e teve muitas influências no forró, "a gente já tinha o costume de ouvir no interior, principalmente nas festas do São João, então eu vim crescendo com essa base do Gonzaga, Dominguinhos, Ademário, Flávio José.”
Em Salvador, a cantora se juntou a amiga Maria Brandão, que havia idealizado o projeto da banda O Véi Chico, com a intenção de evidenciar as mulheres no forró.
A banda conta com o apoio de amigos do forró, enquanto estão no início do projeto e, a partir do segundo semestre deste ano, terão o lançamento da primeira canção. Ana anunciou que a música “Vem” tem produção de Jó Miranda e é a primeira composição feita por ela.