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'Marujo ê, Marujo a'

Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador

Samba do Caboclo conecta a cultura do axé carioca com o da Bahia através da batida do tambor

Mariana Barreto • 04/08/2024 às 3:00 • Atualizada em 04/08/2024 às 12:49 - há XX semanas

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O chão tremeu no compasso dos tambores, guiando até a batida do coração de quem assistiu ao grupo carioca Samba de Caboclo, na noite deste sábado (3), no Museu de Arte Moderna da Bahia, que foi palco de uma celebração à cultura e religião de matriz africana em formato de roda de samba.


				
					Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador
Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador. Mariana Barreto/Bahia FM

"Marujo ê, Marujo a... Quem não acredita em Marujo, se embola e se afoga na beira do mar" foi assim, pedindo licença aos ancestrais, que o multiartista baiano Lui entrou no palco e iniciou a festa com vista para o mar.

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					Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador
Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador. Mariana Barreto/Bahia FM

Sempre trazendo o afeto e o amor nas melodias, o cantor de Alagoinhas, interior da Bahia, também utiliza a música como instrumento de luta e resistência contra a homofobia, intolerância religiosa e contra o preconceito com aqueles que são soropositivo. Para isto, ele se encontrou no samba.

"Já cantei diversos gêneros musicais, mas sempre volto ao samba, então falei vou assumir isso e comecei a fazer música pegando axé, forró, MPB e trazendo para o samba, mas é o samba de raiz, de terreiro, samba de roda do recôncavo" contou o cantor.


				
					Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador
Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador. Mariana Barreto/Bahia FM

Envolvendo o público com mais de 2.500 pessoas, Lui cantou e girou a saia no palco entre 16h e 18h, abrindo espaço para o Samba de Caboclo fazer uma entrada triunfal com a presença do Marujo, homenageado da noite.


				
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Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador. Mariana Barreto/Bahia FM

A noite marcou o quarto encontro dos artistas do Rio de Janeiro com a Bahia, que segundo Lui, "representa a grande difusão da cultura preta no nosso país e sem dúvida o tambor é a nossa linguagem, o nosso eixo".


				
					Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador
Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador. Mariana Barreto/Bahia FM

Além do samba no pé a festa contou com uma bebida famosa entre os candomblecistas: a meladinha, que é uma mistura de cachaça com mel, que costuma ser usada nas sessões de terreiro como oferenda aos orixás.

Sincretizado na fé

"Sim, vou no terreiro pra bater o meu tambor, bato cabeça e firmo ponto, sim, senhor!" Neste hino do samba brasileiro, Zeca Pagodinho usa o poder da música para reafirmar a própria fé. É a partir desta busca pela liberdade de expressão artística e religiosa que surge o Samba de Caboclo, um grupo de samba de roda carioca formado por candomblecistas que queriam dar continuidade às canções que faziam nos terreiros.


				
					Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador
Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador. Mariana Barreto/Bahia FM

"Infelizmente no Rio de Janeiro existe um preconceito muito grande para quem é da cultura afro, a gente não tem espaço, a gente não pode cantar na praça como os crentes fazem. Se a gente fizer uma brincadeira nossa na praça todo mundo para pra dizer que é macumba, sem conhecer o fundamento de cada coisa", disse um dos integrantes, Serginho Procópio, em entrevista exclusiva ao Mundo Bahia FM.

O público presente compartilha com os artistas a preocupação em combater a intolerância religiosa, que está diretamente ligada a cultura afro-brasileira.


				
					Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador
Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador. Mariana Barreto/Bahia FM

"A gente precisa valorizar as nossas raízes e entender que a cultura faz parte dessa religiosidade que abrange não só a religião do Candomblé, mas todas as pessoas que gostam de música e de arte", relatou Laise Viana que estava com a namorada Marcia Rabelo.


				
					Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador
Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador. Mariana Barreto/Bahia FM

Juntos há cinco anos, a banda já passou por São Paulo, Belo Horizonte, Recife e agora Salvador, a cidade com mais negros do Brasil. "Aqui é onde a gente se sente em casa, onde a gente sente essa ancestralidade aflorar mais, sem dúvida alguma", complementou Serginho.

Carregado de axé

O termo "axé" é usado como cumprimento nas religiões de matriz africana e, também, como um desejo de felicidade ao outro. Este foi o sentimento compartilhado nesta noite, com um público carregado de axé.


				
					Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador
Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador. Mariana Barreto/Bahia FM

Todos ali presentes se conectaram e, não foi apenas pela felicidade, "aqui todo mundo tem um pé [afro-descendente]. Eu mesma tenho um pé e o corpo inteiro. É minha ancestralidade. Nem que eu não dissesse, não podia negar", disse Cristiane Barroso ao lado da amiga Cintia, apontando para os traços negros.


				
					Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador
Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador. Mariana Barreto/Bahia FM

Em uma homenagem como esta, cada detalhe foi essencial, iniciando pela decoração com estátuas e oferendas aos orixás que encantou a filha de Iansã, Neide, logo na entrada ao encontrar sua deusa. "Isso aqui pra mim é muita cultura é a origem da minha religião, eu sou candomblecista, sou feliz e acho que Exu é quem abre este caminho pra gente".


				
					Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador
Axé e resistência: uma noite com Samba de Caboclo em Salvador. Mariana Barreto/Bahia FM

"Só de chegar a gente já sente a energia positiva, a energia dos caboclos, dos orixás. Isso é muito representativo, a gente consegue ressignificar nossa ancestralidade aqui" ressaltou Camila Carvalho, que foi ao show pela primeira vez com a amiga Gabriele Leite.

Samba de Caboclo voltará a Salvador

Durante o show, os artistas revelaram que a próxima edição do Samba de Caboclo já tem data marcada no dia 12 de outubro e será no mesmo local, no MAM, próximo à água do mar.

O casal de umbandistas, Isis e Diego, que foram no Samba de Caboclo pela segunda vez, ficaram felizes com a ideia, "o mar também é natureza e deixa a gente mais próximo da nossa ancestralidade, temos sempre que cultuar o que vem de graça da terra".

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