De serralheiro, ainda bem novo, enquanto dividia o trabalho com os estudos, passando pela faxina e pela venda de balas no ônibus, à produtor de um dos telejornais da TV Bahia. Este é um breve resumo da trajetória de Mateus Massena, 24 anos, convidado do quadro 'Veio da Periferia', do programa Atitude deste domingo (24).
Filho de mãe solteira, o jovem, nascido e criado no bairro de Cajazeiras, conta que desde muito precisou trabalhar para complementar ajudar na renda de casa e seguir a carreira no jornalismo sempre foi um sonho, mas parecia ser distante, em meio as dificuldades.
Leia também:
"Desde os oito anos eu trabalho para poder ajudar minha mãe em casa. Sempre foi essa rotina de trabalho, escola, trabalho. Trabalhei como serralheiro, descascava e soldava as grades, ganhava dez reais por semana e dez reais naquela época eu achava que ia conquistar o mundo. Depois trabalhei em um mercado, também limpava uma barbearia. E também já trabalhei como baleiro no ônibus, tinha uma época que era de domingo a domingo, até conseguir um emprego no Sesi, meu primeiro trabalho de carteira assinada e poder sonhar com a faculdade".
Assim como o Atitude, que volta seus olhares para os jovens da periferia, foi dela que surgiu primeira oportunidade de Massena no jornalismo. O produtor conta que seu primeiro trabalho na área foi em um portal de notícias da comunidade, tópico que mais tarde veio a ser seu objeto de pesquisa de TCC na formação da faculdade em uma análise do site 'Nordeste Eu Sou'.
"Sempre sonhei em fazer jornalismo, mas achava que era impossível para mim. Eu achava que era algo que nunca estaria ao meu alcance diante a realidade que eu vivia. Até que eu entrei na faculdade e minha primeira oportunidade foi na comunidade, em um portal comunitário. Eu pensei 'Não sei nada ainda, mas vou arriscar'. E fui, minha primeira entrevista foi com Léo Santana quando ele fez um show em Cajazeiras".
Foi ali, ainda no começo de sua história, que Mateus chamou atenção e deu início a sua história na TV Bahia.
"Meu trabalho lá foi ganhando relevância, as pessoas foram reconhecendo e um determinado período alguém daqui da TV Bahia falou comigo pelo Facebook e que disse que tinha vaga de estágio aberta para me perguntou que eu gostaria de fazer parte do quadro da empresa. Eu achei que era fake (risos). Foi uma decisão muito difícil porque eu já estava trabalhando em uma empresa há quatro anos, já tinha estabilidade, e eu tive que abrir mão disso tudo pra voltar a ser estagiário, foi um baque, mas era o que eu queria".
Como estagiário, o Mateus conta que começou do zero e encarou diversos desafios. "Quando vim pra cá não sabia como funcionava nada, fui aprendendo a produzir telejornal, aprender a produzir notícia e aí eu fui encarando os desafios. Não foi fácil. Quando a gente vem de comunidade as pessoas olham diferente, mas eu vim aberto a aprender e também trazer novas possibilidades".
Entre as novas possibilidades, Massena, junto a Bruno Pita, chefe de reportagem da TV Bahia, promoveu um encontro entre portais comunitários de Salvador na emissora na tentativa de aproximar a comunidade da mídia tradicional e ajudou a formar a primeira turma do Parceiros do BMD, que dá aos jovens de comunidade a oportunidade de colaborar com o progama.
"Eu sempre busco valorizar o que há de melhor na comunidade. Por anos fomos retratados de forma negativa nas mídias tradicionais, até hoje ainda tem um pouco disso. Então, tento, do meu jeito, quebrar isso e trazer o que há de melhor das comunidades. Porque dentro das periferias existem pessoas que às vezes por falta de oportunidade não são vistas, não são reconhecidas".
Antes mesmo de assinar a carteira como produtor, Massena teve a sua primeira experiência como repórter ao vivo no telejornal que hoje ajuda a colocar no ar. O ao vivo aconteceu em 2019, em uma cobertura especial da Black Friday. De lá para cá, o rosto de Mateus virou "figurinha carimbada" com outras participações, além de produzir matérias com reconhecimento nacional.
"Teve uma matéria que eu fiz que é exemplo disso, que foi de duas famílias que estavam tendo que cozinhar com etanol por causa do aumento do gás. Essa matéria tomou uma proporção gigantesca, ela ganhou o Brasil. Quando chegaram as doações para aquela duas famílias, foi tanta doação nós conseguimos ajudar outras quarenta. Isso para mim foi incrível, é sentimento que eu não sei nem descrever".
Como jornalista, além de realizar o sonho de estar a frente das câmeras contando histórias, caminho que vem sendo traçado com suas participações no Bahia Rural, Massena busca com seu trabalho mostrar a comunidade de forma não marginalizada nas telas e dar espaço e voz para a periferia, que por anos, foi apagada na mídia tradicional.
"É muito gratificante e também é uma representatividade para as pessoas que me acompanham, as pessoas que me conhecem há muito tempo. É muito bom às vezes você ouvir 'Ah, eu não ia fazer jornalismo, mas eu fiz porque eu me inspirei em você, porque eu vejo que você corre atrás, porque eu vi que você conseguiu, então eu também posso'. Hoje em dia, se eu estou onde eu estou é as oportunidades que eu consegui e também porque me permiti. Quero continuar fazendo meu trabalho e contando histórias em matérias que possam mostrar a realidade das pessoas e transformar a vida delas".