Ela foi a primeira mulher a assumir um cargo de juiz no Irã, mas foi demitida do posto após a revolução islâmica de 1979 ter determinado que as mulheres não têm capacidade para julgar. Aos 64 anos, Shirin Ebadi vive exilada na Inglaterra, de onde escreve livros e milita pelos direitos humanos e pela liberdade de expressão em seu país de origem. Em visita ao Brasil, a vencedora do prêmio Nobel da Paz (em 2003) falou sobre a crise que vive o atual governo iraniano, as desigualdades de direitos para as mulheres e afirmou que "a democracia nos países árabes ajudará a democracia no Irã". Ebadi concedeu nesta terça-feira (7) uma entrevista coletiva na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em São Paulo. Acompanhada de um tradutor, a advogada disse que gostaria de encontrar Dilma Rousseff, mas, após a recusa da recepção, escreverá uma carta para a Presidência. "Agradeço a Dilma por ter ajudado a prevenir o apedrejamento de uma mulher no Irã. [...] Vim agradecer o Brasil. É esse tipo de ajuda que precisamos [...] Não queria falar de política com ela, mas sobre direitos humanos, especialmente direitos das mulheres. Agora, de qualquer forma, vou mandar uma carta." Confira abaixo os principais temas da entrevista: Morte de bin Laden Ebadi foi voz dissonante entre os ativistas de direitos humanos ao defender a morte do líder da rede terrorista da al-Qaeda, Osama bin Laden, pelos EUA. Questionada se isso não seria uma contradição, ela disse que se espanta com quem defende Bin Laden. "Ele teve oportunidade, por dez anos, para se apresentar e ser julgado num tribunal, mas vivia numa mansão com várias esposas. Ele não estava disposto a se render." Crise no Irã "Há hoje no Irã três crises. Uma do povo contra o governo em geral e por isso há tantos estudantes, jornalistas, ativistas de direitos humanos e advogados presos. A segunda crise é de uma parte do governo, de direita, com outra, de esquerda. A terceira é que os direitistas estão brigando entre si. Desde o mês passado, [o presidente] Ahmadinejad está em conflito com o líder supremo [aiatolá Ali Khamenei]. [...] Hoje inclusive alguns apoiadores do presidente estão presos." "O melhor evento que pode acontecer hoje no Irã são eleições livres sob a supervisão da ONU. No Irã, as eleições não são livres. Qualquer pessoa que se candidatar precisa ser aceita pelo conselho, que não é eleito pelo povo. [...] Na eleição de junho de 2009, aproximadamente 300 pessoas se candidataram, mas só quatro foram aceitoa, Ahmadinejad, que já era presidente, e outros três ex-membros do governo." "Hoje o presidente tem pouquíssimo apoio. [...] O povo protesta, mas não comete violência. O governo ataca e mata o povo, mas este não usa da violência, apesar de manter as críticas. É por isso que o povo está sendo vitorioso. Tenho certeza de que a democracia chegará ao Irã." Revolta árabe "Os países que se revoltaram, com exceção da Síria, todos tinham apoio dos EUA, que apoiavam governos ditatoriais. O povo cansou e expulsou os ditadores. [...] A democracia nos países árabes ajudará a democracia no Irã. Espero que os ditadores árabes vão embora. Mas a expulsão não é suficiente. Tem que haver democracia depois. Há 32 anos expulsamos um ditador, que era o xá, mas não foi o suficiente, porque veio outra ditadura substitui-lo." Religião "Eu acredito em direitos universais. E eles são compatíveis com qualquer religião ou credo. Se tivéssemos uma reinterpretação correta do Islã, respeitaríamos esses direitos." Mulheres "As mulheres só vão ter direitos plenos se estiverem numa sociedade democrática. Numa sociedade ditatorial, o conceito de direitos humanos não tem nem sentido. [...] Mais de 65% dos estudantes universitários do Irã são mulheres. Mas, infelizmente, depois da revolução [islâmica, de 1979], entraram leis discriminatórias, em discordância com a situação cultural da iraniana. Por exemplo, a lei de compensação dá duas vezes mais dinheiro pela morte de um homem do que de uma mulher. No tribunal, a testemunha de duas mulheres é igual à de um homem. O homem pode ter quatro esposas e se divorciar sem motivo específico, enquanto é extremamente difícil conseguir um divórcio para uma mulher. No Irã, qualquer mulher, seja iraniana ou estrangeira ou de qualquer religião, precisa cobrir o corpo todo, deixando apenas o rosto a mostra. Se alguma sair assim como estou na rua, a pena são 80 chibatadas." As informações são do G1
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