Que o mercado está propício para as sereias de todas as formas, isso é fato. Entretanto, ainda há um longo caminho e o maior de todos os impedimentos é o cultural. Por exemplo, há marcas que ainda usam modelos magras no catálogo de plus size, as roupas são caras e as opções ainda restritas. A jornalista Lis Trancoso é uma das 56 milhões de mulheres que usa GG que sente nas curvas essa dificuldade:
— Eu quero usar uma roupa moderna e estilosa e não tem pra o tamanho que visto. Muitas lojas não têm tamanhos maiores e, nas poucas que têm, os preços são muito altos ou são aquelas peças meio largadas. Dá um desânimo comprar roupas — relata Lis.
Para a professora de moda e consumo da UEPE e pesquisadora do Centro de Estudos do Consumo da Coppead, Ana Paula de Miranda, as marcas que ainda não tem uma linha ou produzem peças maiores estão perdendo dinheiro. — As pessoas estão cada vez mais confortáveis com seus corpos considerados despadronizados.
Ela também critica que há marcas que defendem a diversidade, mas, na prática, continuam fazendo grade até o 42, no máximo até o 44, que nem plus size é. — Isto é uma incongruência com o discurso que muitas têm de pregar o bem-estar e fazer roupas em que as pessoas não caibam. Destoa do discurso de diversidade.
Outra crítica de ambas é a rotulação.
— Quando está escrito ‘tamanho especial’, eu nem entro na loja, tenho pavor. O plus size é gourmetização do tamanho especial — conta Lis, que, para fugir do massivo discurso da magreza, também segue mulheres que assumem suas curvas com gosto.
— Acho a Preta Gil e a atriz Fabiana Karla maravilhosas. Elas são exemplos de pessoas públicas com as quais me identifico, pois mostram que não precisa ser magra para se bela e se vestir bem.
A cantora não veste numeração plus size , mas a forma como se valoriza a tornou uma referência para mulheres reais que sofrem com esta ditadura. Assim como sua seguidora Lis, Preta também acha o termo “ plus size ” negativo.
— Já evoluímos muito nesse sentido, mas este é um termo que não gosto muito pois eu acredito que deveria haver roupas para todo tipo de pessoa e que a moda não deveria se limitar a um determinado tipo físico padrão. O Brasil se caracteriza por ser uma mistura de tipos e quem estiver atento a isso vai poder atender as necessidades de muita gente — pontua Preta, que já participou da co-criação de três coleções com numerações maiores e modernas.
Para ela, o importante é ter oferta para todos os gostos e tamanhos: — É preciso entender que não importa o manequim. A consumidora quer ser sexy, chique, elegante e estar na moda. Expressar sua personalidade e a roupa é fundamental.
Ana Paula corrobora Lis e Preta: rotular não é positivo. Para ela, as marcas deveriam apenas oferecer mais opções de numeração. — Ao entrar em uma loja que diz que é para gordos, a pessoa já se sente mal. Percebo que não acontece só com gordos. E isso vale para tudo o que é desviante do considerado padrão. O consumidor não quer ser rotulado. Ele quer se identificar com a marca pelas características, como sensualidade, consciência ativista, irreverência, não importa o tamanho que tiver.
As empresas, por sua vez, afirmam que para se chegar a uma coleção, modelos das roupas e até mesmo lojas é feita muita pesquisa junto às consumidoras. — As mulheres reais são as verdadeiras. Temos que tirar da cabeça essa mentalidade de que, se você não cabe em uma caixa x , você não pode ser feliz ao pertencer a y, tudo é relativo. Há que se querer optar pela saúde, por se amar, se cuidar e não sofrer para parecer com um grupo. Se amar é a melhor forma de se vestir — afirma Preta.
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Redação iBahia
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