|
---|
Visões diferentes entre os escritores Javier Moro e Ordep Serra (de branco) marcaram a mesa sobre história da Bahia |
A mesa especial sobre história da Bahia da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica) pegou fogo na tarde desta sexta-feira (19). Com o tema 'Questionando o 2 de Julho', os escritores Ordep Serra, de Cachoeira, e Javier Moro, natural de Madrid, Espanha, não entraram em acordo sobre suas interpretações da independência baiana.
Veja também:Cachoeira tá Flica: veja a movimentação de visitantes e populares em festival literário "Eu não me exijo citado como tropicalista", dispara Capinan em mesa sobre tropicalismo na Flica Flica 2012: trio de baianos protagoniza 'aula de história' sobre escravos, candomblé e as revoltas Flica 2012: Veja como foi o show de Mateus Aleluia na quinta-feira (18) Flica 2012: Técnica, inspiração e leitores marcaram mesa especial sobre poesia Dom Pedro I foi um dos assuntos mais polêmicos na mesa. Os escritores, com visões diferentes, entraram em conflito sob a mediação do gaúcho Aurélio Schommer. "Você não gosta de D. Pedro I porque ele não era suficientemente brasileiro", dizia o espanhol. "Eu juro que não quero brigar por conta de D. Pedro I", rebatia Ordep.
Família Real no RingueA polêmica começou quando o cachoeirano Ordep Serra tomou a palavra. "Eu valorizo outros heróis que não os dele (Javier Moro). Os heróis dele são D. Pedro I, que acho até que era o mais simpático desse grupo. Eu valorizo os caboclos, Maria Quitéria, Joana Angélica, esses são os meus heróis", disse Ordep.
"Eu valorizo os caboclos, Maria Quitéria, Joana Angélica, esses são os meus heróis". Ordep Serra |
"Eu não trato o personagem D Pedro I como um ser perfeito. Eu fiz dele um personagem completamente selvagem e único na história. Quando me encontrei com D Pedro I, vi nele um 'macho alpha' que não consegue se domar", explicou Javier. "Eu não quero menosprezar o que o povo fez aqui 'na' Cachoeira (em relação às lutas de independência). Mas eu repito: meu livro não é um livro de história. Um livro de história é ilegível para mim. O que eu faço é literatura", completou Javier.
"Um livro de história é ilegível para mim. O que eu faço é literatura". Javier Moro |
O escritor espanhol foi considerado pela produção como um dos nomes principais dessa edição da Flica. "Ele é um autor de best-sellers. Todos seus livros são muito vendidos", disse Alan Lobo, curador e coordenador geral do evento.
|
---|
Nas considerações finais, plateia criticou a forma como o tema foi conduzido na mesa |
Entre as perguntas da plateia através de bilhetes, uma arrancou risos de todos: "futuramente Lula será um mito a ser canonizado?". "Lula já é um mito", disse Javier. "A gente tem que esquecer isso de ser canonizado", falou Ordep. Em meio ao debate, outro bilhete comentava sobre a mesa. "É possível perceber que existem interpretações diferentes, mitologias diferentes", dizia um anônimo. "A questão aqui não são mitologia versus mitologia e sim história versus literatura", rebateu Javier sob aplausos.
"A questão aqui não são mitologia versus mitologia, e sim história versus literatura". resume Javier |
Em outro momento, o espanhol também fez uma crítica ao desconhecimento das pessoas sobre os países vizinhos, ou aqueles com fatos históricos interligados. "O que me impressiona é que os argentinos não sabem nada da história do Brasil, os brasileiros não sabem nada da história do Peru, os peruanos não sabem nada da história dos colombianos. Na Espanha, ninguém sabe quem é Carlota Joaquina. Lá, ninguém sabe sequer que o Brasil foi um império", disse.
Plateia critica mesa pela fuga do temaUm dos pontos altos da mesa aconteceu no encerramento. Depois de fazerem suas considerações finais, o trio que comandou o debate ganhou uma crítica de uma homem da plateia. "Vocês ficaram devendo um discurso sobre o método da ficção e da história. Afinal, esse foi o verdadeiro tema desta mesa", criticou. *O iBahia está na Flica fazendo cobertura do evento em tempo real