O jornalista Nelson Cadena senta-se em um banco na Praça da Piedade. Morou ali, na rua mesmo, por conta própria, em meados da década de 1970. Mais de 40 anos depois, de volta ao lugar em que passou noites a fio, ele senta-se, ajeita os óculos e suspira. Além das recordações que pipocariam na mente e no peito, estampava outras duas marcas daqueles tempos: a camisa florida e o resto da cabeleira. Um dos personagens do livro Anos 70 Bahia - que será lançado nesta terça-feira (04/04), a partir das 17h30, no restaurante Póstudo - Cadena foi hippie dos mais viscerais.
“Eu era um hippie pobre. Colhia cogumelo na ilha porque não tinha dinheiro para comprar maconha”, disse, com vestígios de sotaque castelhano. “Fazia meu chá de cogumelo e ficava de boa. Depois vim para Salvador morar uns tempos na rua”, lembrou o colombiano, que chegou na Bahia com 19 anos e, antes da Piedade, viveu em uma cabana que ele mesmo construiu na Ilha de Itaparica.
Fato real ou pura vertigem? Não se sabe. Na verdade, para boa parte daquela geração, tudo o que diz respeito àqueles tempos é pura vertigem. Prova disso são as histórias, entorpecidas com boas doses de erva, amor, cogumelo, sexo, ácido, rock n´roll e liberdade. Agora, muitas dessas memórias alucinantes e alucinadas estão disponíveis para quem quiser ler. Está tudo em Anos 70 Bahia (Corrupio).
Concebido pelo produtor cultural Sérgio Siqueira e pelo escritor Luiz Afonso, a publicação é um documento escrito por quem experimentou na pele - e no cérebro - os anos 70 em Salvador e outros picos de loucura e lisergia, como Arembepe e Itaparica. Coletânea de depoimentos publicados no Facebook, o livro reúne histórias de 200 colaboradores da página homônima à publicação.
Livro nasceu a partir de postagem no Facebook
'Anos 70 Bahia' teve uma criação tão espontânea quanto aqueles anos dourados. “Começou em uma brincadeira. Postei fotos dos anos 70 no Facebook em dezembro de 2014. Veio uma enxurrada de fotos de outras pessoas. Coloquei textos e surgiram muitos outros textos. Uma receptividade incrível. Aí criei uma página específica. Pronto”, explica o produtor cultural Sérgio Siqueira, que assina a autoria do livro com o escritor Luiz Afonso. Mas, para Anos 70 Bahia virar realidade, foi preciso pedir ajuda aos amigos. Sem verba, até uma vaquinha on line foi feita. Foram arrecadados R$ 5 mil.
Com o projeto consolidado, a Fundação Pedro Calmon se tornou um dos apoiadores. Os depoimentos estão na íntegra, como foram postados no Facebook. “Um livro que trata dos anos 70 não pode ser censurado”, afirma. Algumas imagens que deveriam estar no livro é que não foram publicadas, como a imagem de Mick Jagger com sua família tocando violão em Arembepe - no livro está apenas uma reprodução em desenho. “Ficamos com receio de algumas imagens por conta dos direitos autorais”, explica Sérgio Siqueira.
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Redação iBahia
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