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LITERATURA

Ariano Suassuna abre, com humor, projeto 'Arte com Missão'

Aos 87 anos, o dramaturgo e escritor, homenageado com exposição fotográfica e mostra de vídeos, na Caixa Cultural, contou casos e colocou a plateia para rir

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17/07/2014 às 0:52 • Atualizada em 30/08/2022 às 0:35 - há XX semanas
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Há sete anos, o dramaturgo e escritor Ariano Suassuna recebeu o título de Cidadão Baiano e, na noite da quarta-feira (16), quando pisou no palco do Teatro Castro Alves para uma aula-palestra, que integrou a programação do projeto ‘Ariano Suassuna – Arte como Missão’, que engloba ainda exposição fotográfica e mostra de videos, na Caixa Cultural, ele lembrou do fato e, em tom de brincadeira, disse: “Sou conterrâneo de vocês e me sinto honrado, porque vieram aqui. Eu quase não vinha, estou perdendo o capítulo da novela de Leninha”, referindo-se à ‘Em Família’.

O riso, a boa conversa e os muitos casos são os elementos que permeiam um encontro com esse paraibano, que se considera também muito pernambucano. Aos 87 anos, a voz rouca e o sotaque marcadamente nordestino, fazem do escritor uma das figuras mais raras da cultura brasileira. Divertido que ele só, diz que o povo brasileiro demonstra inteligência demais ao rir de si próprio, mesmo nas situações mais difíceis.

Preocupado com a hora, segundo ele, para não tomar muito o tempo da plateia, checava ele mesmo em seu relógio quantos minutos ainda teria para passar seu recado para o TCA completamente lotado. No meio da plateia, algumas pessoas deixaram-se distrair com celular tocando, e houve até quem, durante a palestra de Suassuna, sacasse o celular para jogar. Lamentável atitude diante de uma das figuras mais importantes da literatura brasileira e com tanto a dizer. Mas a grande parte do público acompanhou atentamente as histórias do escritor e, claro, se divertiu com suas graças e tiradas cheias de ensinamentos, sensibilidade e sabedoria. A seguir, um resumo de alguns dos melhores trechos da palestra, que ele encerrou declamando um soneto em homenagem a seu pai, morto quando ele tinha apenas 3 anos.


Pátria Amada
“Se pudesse escolher lugar para nascer, escolheria o sertão, Canudos. 
Quem não entender Canudos, não entende o Brasil, não. 
Machado de Assis dizia que no Brasil existem o país social e o país real. Enquanto existir a discriminação entre o Brasil dos privilegiados e o Brasil dos desvalidos, não podemos dizer que temos uma nação brasileira. Mas está melhorando. As virtudes são três: caridade, fé e esperança. Sou fraco na caridade e na fé, só me resta a esperança”. 



Idade
“87 anos. Estou com essa idade toda, mas até 2014, não acredito que morro, não! Nenhum de nós tem essa consciência de que morre. 
Toda morte tem uma parte de suicídio. Para mim, a morte é uma mulher e se chama Caetana. Este é o único jeito de eu aceitar essa maldita”. 


Vaidade
“Eu me policio muito por medo de me tornar vaidoso, porque coisa irritante é um escritor vaidoso. Na Academia Brasileira, tinha um colega, um camarada vaidoso até aonde se pode ser… Mas era vaidoso simpatico, porque era assumido. Na cerimônia, o velho acadêmico fez discurso sobre o novo. No dia seguinte, as pessoas elogiaram o discurso, e ele disse: "Não me admira, um assunto como eu!". 




Exposição fotográfica do projeto
“Alexandre Nóbrega me acompanha em viagens, é meu assessor, e vi ele fazendo as fotos e perguntei: menino, você vai fazer um ensaio fotográfico para a Playboy? Só que o fotografado é velho, feio e está vestido”.

No chão do aeroporto
“Não gosto de viajar de coisa nenhuma, e a viagem de avião é a pior que tem. Outro dia, fui para Rio Grande do Norte, quando cheguei lá perguntaram: professor, fez boa viagem? Respondi: minha filha, me desculpe, mas não conheço viagem boa nenhuma. No aeroporto, disseram que estava protestando. Eu estava era cansado. Cadeira de aeroporto ... Sujeito me disse: o senhor não pode ficar aí, é proibido. Eu disse: não estou fazendo mal a ninguém, estou deitado porque estou cansado. É proibido por que? Ele disse 'não sei'. Então, peguei um livro para ler”.

Sempre na beca
“Em
1981, eu usava paletó e gravata e li um artigo de Gandhy, onde ele dizia que o indiano que amasse seu povo não deveria usar uma roupa assim, porque estava “se cumpliciando” com quem tomaria o lugar das mulheres da Índia. Eu, então, procurei minha mulher e pedi que me arrumasse uma costureira popular. Ela achou Edite, que me fez uma calça e um paletó de mescla azul. Fui escolhido para Academia de Letrasde Pernambuco, eu disse: Edite, faça uma roupa igual, mas ela preta. Aí botei uma camisa branca, fui e tomei posse na academia. Aí fui escolhido para Academia Brasileira de Letras, uns dias antes, telefona lá pra casa um sujeito com sotaque chato, dizendo que era o alfaiate oficial e que eu mandasse as medidas para ele fazer o fardão. Eu disse: calma aí, a minha quem vai fazer é Edite. Um colunista social do Rio fez artigo furioso: 'muito jeca a cerimônia de Suassuna'. Mas na Academia não tem ninguém bonito, não. Duas coisas me impressionaram lá: primeiro a feiura e depois, a idade. A nossa idade somada dava três mil anos”.

Infância e Humor
“Quando eu era pequeno, tinha dois grandes encantamentos: o circo e a leitura. Depois do almoço eu abria um livro. E bastava dizer que o circo chegou, a vida já melhorava. O primeiro palhaço que conheci foi Gregório. Devo tanto a Gregório. Quando tomei posse na Academia, fiz uma referência a ele como uma das minhas maiores influências. Uma coisa que gosto muito é o riso. 
Passei muito tempo estudando a essência do humor. O primeiro grande pensador, que estudou isso foi Aristóteles, que definiu o humor como 'uma desagonia de pequenas proporções, sem consequências dolorosas'. 
Quando fui chamado por Eduardo Campos (ex-governador de Pernambuco) para ser secretário de Cultura, coloquei a condição: só se eu montar o circo e montei o Circo da Onça Malhada, que é o povo brasileiro. Hoje aqui é uma sessão noturna do circo do velho palhaço aqui. Peço desculpas, mas vou falar o que ouvi hoje sobre essa derrota que a gente sofreu na Copa: ‘a Alemanha bebe cerveja, o Brasil bebe pitú; a Alemanha toma na taça, e o Brasil no...’ O povo brasileiro é corajoso, porque ri de si mesmo”.

Defesa da Cultura
“
Tem gente que pensa que sou um nacionalista exaltado e que acho que tudo no Brasil é lindo. Não acho. Mas não admito a valorização da cultura de massa. Fui chamado de Dom Quixote arcaico, porque defendo a cultura brasileira. Esse sujeito que escreveu isso é burro, incompetente e não sabe nem insultar, porque Dom Quixote é um personagem que eu admiro. Eu tenho raiva é desses sujeitos”.

Língua
“Amo a Língua Portuguesa. Oh língua bonita. Além de bonita, fácil. Dizem que Inglês é a língua mais rica do mundo, mentira. Copo em Inglês é glass, vidro é glass. Então, copo de vidro é glass de glass!” 



Curiosidade
“Pra todo canto que vou, levo um pregador de roupa. Já viram como aquilo é engenhoso? Um pregador de roupa só quem faz é o ser humano. Prova palpável da existência de Deus”.

Dos errantes, um pouco
"Já falei que eu gosto muito de doido e gosto muito de mentiroso, também. Não o mentiroso, que prejudica alguém, mas aquele que mente pra melhorar as coisas, como é o caso do escritor". 



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Veja a programação completa do projeto 'Ariano Suassuna - Arte como Missão', que é formado por exposição fotográfica e mostra de videos, na Caixa Cultural, a partir desta quinta (17)!

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