O vermelho e o branco tomaram conta das ruas de Salvador neste domingo (4), especialmente o Pelourinho. No largo em frente à Fundação Casa de Jorge Amado, uma multidão se reuniu desde as primeiras horas da manhã para celebrar Santa Bárbara, protetora dos bombeiros, e Iansã, a rainha dos raios e trovões.
A festa sincrética e que é tradição há 380 anos, voltou a ser realizada com missa campal com o padre Lázaro Muniz, que convidou o padre Antônio Cabral, da Paraíba, além da celebração na igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Nos últimos dois anos, por causa da pandemia da Covid-19, apenas a missa na igreja era realizada, e a participação popular foi restrita.
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Esse ano, com a flexibilização das medidas e também maior cobertura vacinal, apesar do aumento dos casos da doença, a festa foi mantida, porém o desfecho no quartel dos Bombeiros, na Baixa dos Sapateiros, foi cancelado. O dia de Santa Bárbara também abre o calendário de festas populares na Bahia, com encerramento no carnaval de Salvador.
Para homenagear a santidade da igreja católica e a orixá do candomblé, o iBahia reuniu alguns depoimentos de devotos e fiéis que participaram da celebração neste domingo, que contou com a tradicional distribuição de acarajés no Pelourinho. Confira:
Clarindo Silva, 80 anos
Há 68 anos engajado com a preservação da memória cultural da Bahia e do Pelourinho, a figura ilustre que circula pelas ruas do Centro Histórico há décadas, e que é dono do tradiconal restaurante Cantina da Lua, fez um relato sobre a importância da festa:
“A minha primeira festa de Santa Bárbara foi em 1971, quando eu assumi a Cantina da Lua. E, ao longo desse tempo, a festa passou por diversas transformações. Nós tínhamos a missa, a procissão, mas tinha o tradicional caruru com 20 mil quiabos. Durante bastante tempo, quando faltavam dois ou três dias para a festa, nós não tínhamos dinheiro, mas Santa Bárbara operava milagres e ele aparecia”, contra Clarindo, que já foi um dos coordenadores da festa de Santa Bárbara.
“Fico muito honrado, muito feliz, em plena pandemia ver a sociedade baiana, a nossa fé, a nossa religiosidade trazer milhares de pessoas às ruas”, complementou Clarindo.
“É uma sensação de renascimento, porque confesso que durante a pandemia eu fiquei 18 meses fechado (a Cantina da Lua), e tiveram momentos assim em que eu parei e fiz: ‘meu Deus, será que eu vou nessa levada?’, apesar de ser um homem de extrema fé. Me apeguei a todos os santos, inclusive Santa Bárbara, para nos deixar mais tempo por aqui para transformar alguns sonhos em realidade”, disse Clarindo a respeito dos últimos dois anos sem a tradicional festa.
“E um dos sonhos é ver o nosso Centro Histórico, o nosso Pelourinho, esse lugar mágico, extraordinário, revitalizado. É mostrar para as pessoas que daqui saíram os dois maiores embaixadores do Brasil, que foi Jorge Amado, pela literatura, e o nosso querido Olodum, que faz dos seus tambores tocarem o coração em qualquer parte do mundo que a gente está”, concluiu.
Ana Lívia, 34 anos, professora de história
“É uma grande emoção. Ano passado não teve a missa campal, mas teve a possibilidade da missa agendada e de ficarmos ao lado de fora. Mas é diferente. Esse encontro aqui no espaço aqui do Pelourinho é muito forte. Então, é uma grande emoção o retorno”.
Josete dos Santos, 55 anos, técnica de enfermagem
“É muita alegria, né? É reviver de novo, depois dessa pandemia, tem que agradecer muito a Santa Bárbara pela nossa saúde e a todos!”
Bruno Lima, militar
“Estou aqui para dar uma força a minha mãe. Dois anos que já não temos a festa, e aí estou aqui, muito feliz, muito alegre, e estou aí para dar essa força. E graças a Deus que voltou. Muita gente na rua, muitos com máscara, álcool em gel, e estamos levando com Deus na frente e Santa Bárbara guiando".
Jurivina da Silva, 62 anos, baiana de acarajé
“Há muitos anos eu venho dar um banho de axé no pessoal. Pensei que fosse chover hoje, mas olha que dia bonito? Iansã colocou Oxum para dormir hoje”.
Ludmilla Barreto, médica veterinária
“Estou vindo à festa depois de muito tempo em casa, depois de anos de pandemia sem ter a comemoração da senhora dos ventos, dos raios, e vim pedir a bênção dela, para mim e para minha família, e pedir que os ventos dela levem todos os males embora. Levem as doenças, os maus olhos, as más companhias, tudo que for de ruim que Iansã leve para bem longe. E assim seja, axé!”
*Reportagem com colaboração de Victória Dowling
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Danutta Rodrigues
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