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FESTAS POPULARES

Devoção e cultura marcam a festa de Bom Jesus dos Navegantes

Calendário das festas populares enaltece fé e cultura do povo baiano

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12/12/2022 às 16:26 - há XX semanas
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					Devoção e cultura marcam a festa de Bom Jesus dos Navegantes

				
					Devoção e cultura marcam a festa de Bom Jesus dos Navegantes
Foto: Alan Oliveira/iBahia

Renovando a sua fé, devotos baianos dedicam o primeiro dia do ano para saudar e agradecer ao Senhor Bom Jesus dos Navegantes. De tradição secular, a festa tem em sua origem a cultura do Brasil colônia e hoje é a representação da força do povo que depende da vida no mar.

A região da Cidade Baixa, em Salvador, é o cenário dessa grande festa, que começa no dia anterior, 31 de dezembro, quando a imagem de Bom Jesus deixa a igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem. No dia seguinte, após a missa na basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, a imagem de Bom Jesus é então conduzida pelas águas da Baía de Todos os Santos na Galeota Gratidão do Povo, em uma linda procissão marítima, retornando à Boa Viagem.

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Apesar de historicamente ser difícil determinar o momento exato em que esta tradição começou, sabe-se que há mais de 200 anos, inúmeros fiéis participam das celebrações em homenagem ao Bom Jesus.

Acredita-se que já por volta do século XVIII, quando o mar era o caminho para o comércio e para o tráfico de escravizados negros vindos da África, as adversidades inevitáveis das longas viagens ao mar, como doenças ou até ataques de navios piratas, fizeram com que os comandantes desses navios buscassem proteção divina, o que acontece através da reverência à imagem do Bom Jesus dos Navegantes.

Pelos anos que se seguem, a festa passa a ser organizada pelos devotos, moradores do bairro de Boa Viagem, e pelos homens do mar, que naquele momento eram os marinheiros, traficantes e comerciantes. Até o ano de 1889, ano da Proclamação da República, quem fazia a travessia do Bom Jesus era a Galeota Imperial, de propriedade da Marinha, o que demonstrava a forte relação entre a Igreja e o Império Português.

“Sem dúvidas a devoção ao Bom Jesus dos Navegantes traz em sua origem traços da cultura de colonização. Primeiro que a Igreja de Bom Jesus e de Nossa Senhora da Boa Viagem, assim como tantas outras de Salvador, trata-se de um ex-voto, um presente dado pelos devotos aos santos em agradecimento a uma graça alcançada. Além disso, todos os santos católicos são apresentados naquele momento pelos colonizadores, como santos que justificassem tal colonização”, explica o Babalorixá e doutor em antropologia, Vilson Caetano.


				
					Devoção e cultura marcam a festa de Bom Jesus dos Navegantes

Estudioso do sincretismo afro-católico das festas populares da Bahia, Caetano acrescenta que, apesar da forte influência dos portugueses, o que mantém a festa de Bom Jesus dos Navegantes viva até os dias de hoje é uma mudança da forma como as pessoas, principalmente aquelas pertencentes a grupos marginalizados, passam a se relacionar com o catolicismo.

É possível que essa mudança comece já no ano de 1890, após a Proclamação da República, quando a Marinha proibiu o uso da Galeota Imperial. Os ‘homens do mar’, que neste caso já não eram mais os comerciantes e traficantes, mas sim os descendentes de africanos escravizados e indígenas, povo de origem humilde, moradores de Boa Viagem que dependem do mar para sobreviver, tomam para si a responsabilidade de organizar a festa, construindo, no período de um ano, a Galeota Gratidão do Povo.

Desde então, é na Galeota Tradição do Povo, um presente dos ‘homens do mar’ e de todo o povo de Salvador para o Bom Jesus dos Navegantes e Nossa Senhora da Boa Viagem, que a tradição se cumpre.

“Se a festa do Bom Jesus pudesse ser explicada apenas pela cultura de colonização, ela talvez não se sustentaria. O que faz com que ela se torne uma tradição é justamente a capacidade de releitura que os homens do mar, descendentes de africanos, indígenas, e tantos outros grupos que no processo de colonização foram marginalizados, conseguiram fazer na pessoa de Bom Jesus dos Navegantes e Nossa Senhora da Boa Viagem”, concluiu.

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