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FESTAS POPULARES

2 de fevereiro: Salvador celebra festa de Iemanjá

Tradição que nasceu com os pescadores, hoje leva uma multidão de fiéis à praia; Em 2023, a Casa de Iemanjá, no Rio Vermelho, ganhará uma escultura negra de Iemanjá.

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21/12/2022 às 22:30 - há XX semanas
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					2 de fevereiro: Salvador celebra festa de Iemanjá
Tradição que nasceu com os pescadores, hoje leva uma multidão de fiéis à praia (Foto: Max Haack / Ag. Haack)

Em silêncio ou fazendo preces em sussurros, flores brancas são tocadas na testa antes de serem jogadas nas ondas do mar. O gesto é repetido todos os anos, no dia 2 de fevereiro, dia da Festa de Iemanjá, considerada a maior manifestação religiosa pública do candomblé e também uma das festas populares mais intensas e tradicionais da Bahia.

Tradicionalmente a festa acontece no bairro do Rio Vermelho, em Salvador, onde está localizada a Colônia de Pescadores, organizadores do evento, que hoje conta também com a parceria de órgãos públicos e sociedade civil. Desde as primeiras horas da manhã, a praia é tomada por fiéis e turistas no objetivo de colocarem seus presentes no balaio que, no final da tarde, será depositado no mar, em local determinado pelo próprio Orixá.

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Apesar da reverência que os pescadores fazem à Nossa Senhora Santana, a festa de Iemanjá não possui qualquer conexão, nem com sincretismo, nem com a religião católica, demonstrando a influência das tradições africanas, reinventadas no Brasil.

Segundo o livro Orixás: Santos e Festas, do Babalorixá Vilson Caetano, na cidade de Salvador, o presente de Iemanjá, organizado por três pescadores no começo do século passado, que reuniram numa caixa de papelão sabonetes, talcos, espelhos e os enfeitaram com flores, deu origem a uma manifestação popular de motivos e significados diversos que nem a própria África conheceu.

Na África, a mãe de todos os Orixás é reverenciada nas águas dos rios. No Brasil, a primeira transformação que o culto sofre é a migração das oferendas para o mar. O hábito de presentear Iemanjá com pentes, espelhos, sabonetes e outros itens também vem sofrendo ajustes ao longo dos anos. Atualmente as pessoas optam por jogar apenas flores, evitando assim qualquer risco aos animais marinhos.


				
					2 de fevereiro: Salvador celebra festa de Iemanjá
Iemanjá negra no Terreiro Ilê Obá L’Oke (Foto: Arquivo)

Mãe negra de todos os orixás

Protetora dos pescadores, jangadeiros e homens que ganham sustento no mar, Iemanjá também é conhecida como Janaína, Rainha do Mar e Odò Ìyá (Mãe do Rio). Seus diferentes nomes possuem

significados similares a ‘mulher cujos seios partidos deram origem aos dois maiores oceanos e cujo ventre esfacelado a fez mãe de todos os orixás'.

Descrita como uma bela sereia de cabelos longos e vestido azul, geralmente sua imagem é retratada como uma mulher de pele clara e cabelos longos, usando um vestido azul. Segundo o artista plástico Rodrigo Siqueira, essa representação está associada à Umbanda, religião brasileira que mistura elementos das religiões de matrizes africanas, do espiritismo e do catolicismo.

“A Umbanda surge em 1908, com uma forte base kardecista, onde pessoas de pele branca passam a retratar as divindades, inclusive os orixás. Então, além das imagens possuírem a coloração da pele mais clara, os traços do rosto não remetem aos povos de africanos”, destaca.

Autodidata, Siqueira começou a pesquisar sobre arte sacra afro-brasileira há cerca de 25 anos, mas foi desde o ano de 2009 que passou a se dedicar exclusivamente a esta arte, atuando no resgate dos traços originais dos povos do continente africano.

O artista já deixou importantes contribuições em mais de 35 terreiros de candomblé de todo o país, cinco destes tombados como Patrimônio Cultural, com destaque para o Ilê Obá L’Oke e Terreiro Santa Bárbara, em Lauro de Freitas - BA, Ilê Alabase, em Maragogipe - BA, ilê Raiz de AYRA, em São Félix - BA, e Terreiro de Lembá, em Camaçari - BA. Estão na lista também terreiros nas cidades do Recôncavo baiano e em Salvador, maior cidade negra fora da África.

“Cada terreiro que reconstruímos temos a oportunidade de reparar uma parte de todo mal que a humanidade fez para os povos do continente africano. Além da escravidão, temos toda história, arte e cultura esfacelados. Então, através da materialização da arte negra africana, desconstruimos essa caricatura, para alcançar representatividade e beleza em imagens onde os traços identitários são resgatados”, frisa.


				
					2 de fevereiro: Salvador celebra festa de Iemanjá
Há cerca de 13 anos Rodrigo Siqueira se dedica exclusivamente à arte sacra afro-brasileira, com destaque para esculturas com traços dos povos do continente africano (Foto: Arquivo pessoal)

Para 2023, Siqueira aceitou a missão, dada pela produtora cultural Cintia Maria e a cineasta Jamile Coelho, respectivamente diretora institucional e diretora artística do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB), de construir a primeira escultura de negra de Iemanjá, que será doada no dia 2 de fevereiro à Casa de Iemanjá no Rio Vermelho, em Salvador.

“Sem dúvidas um importante marco para a festa de Iemanjá do Rio Vermelho, de muita representatividade ter uma Iemanjá negra. Me sinto muito honrado de poder contribuir tão intensamente para essa história”, concluiu.

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