Dados da Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos(as) Graduandos(as) das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes), de 2018, apontam que 0,3% da população universitária federal do país se identifica como pessoa transgênera. Muito provável que nos últimos anos esse quantitativo tenha aumentado, mas ainda há diversos desafios que não foram superados nesse período.
Joan Ravir dos Santos, de 47 anos, é um homem trans, formado em Comunicação Social e está concluindo o bacharelado em Artes pela Universidade Federal da Bahia. Representante do TransUFBA, que é um coletivo destinado para pessoas trans da UFBA, ele destacou em entrevista ao Fervo das Cores, do portal iBahia, que, dentre outras coisas, o meio acadêmico possibilita um novo olhar para as pessoas, inclusive no processo de aceitação.
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“O meio é acadêmico traz a possibilidade da gente se conhecer, através do referencial teórico, além da oportunidade de nos conectarmos com outras pessoas como nós. Muitos ficam nessa disforia, sem saber qual a sua identidade, e, com o coletivo, por exemplo, se encontrando com pessoas semelhantes, é possível haver esse reconhecimento”, disse.
A liderança pontuou ainda que os debates acadêmicos são fundamentais para o rompimento de barreiras e preconceitos. “Temos várias disciplinas de gênero, identidade de gênero, de diversidade, grupos de pesquisas voltados para essas temáticas. Todo esse contexto teórico faz com que a gente se reconheça dentro da universidade. Inclusive, há muitas pessoas que se transicionam dentro da universidade, inclusive eu”, enfatizou.
Na UFBA, uma das pontes que possibilitam esse diálogo com os estudantes é justamente o TransUFBA, que busca unir a comunidade trans, divulgando informações e promovendo ações pedagógicas dentro da universidade.
“O nosso objetivo é fazer a ponte entre a Pró- Reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil (PROAE), com as cotas trans, e ouvir, fazer essa escuta, das necessidades trans dos estudantes da UFBA. Conversando com os veteranos que também fazem parte do coletivo, eles falaram que, antigamente, existia apenas umas cinco pessoas trans na universidade. Hoje, nós temos um grupo muito participativo. Percebemos isso ao notar que só no TransUFBA há 105 pessoas e, com certeza, há muito mais no meio acadêmico”.
No último dia 31, foi celebrado oDia Internacional da Visibilidade Trans. No entanto, mais do que celebrar, a data também é vista como um momento de conscientização, reflexão e possibilidade de ampliação do debate sobre as questões que envolvem a comunidade.
Sobre o aumento dessas discussões, principalmente dentro da universidade, Ravir reforçou que “vê como um saldo positivo a ampliação desses espaços, principalmente para se fortalecer com os arcabouços teóricos, mas também para se aproximar da comunidade cis hétero normativa, para que entendam as pautas das pessoas trans”. “Que a gente possa fazer com que essas pessoas respeitem as nossas pautas, diminuir dúvidas acerca da nossa existência e, consequentemente, o preconceito”, apontou.
Dentre as diversas dificuldades que envolvem a comunidade transgênera nas universidades, Joan citou a questão do banheiro neutro como um ponto importante que já vem sendo analisado pelo TransUFBA. Prova disso é que em breve será instalado em alguns banheiros da Escola de Educação da UFBA, no Vale do Canela, placas informando que o espaço é destinado para todos os tipos de homens e mulheres.
“Nós também estamos lutando por uma cabine PCD agênero para dar mais segurança e privacidade para pessoas de qualquer tipo de gênero. Por exemplo, eu sou um homem trans, mas não tenho total passabilidade. Se eu entrar no banheiro masculino posso sofrer algum tipo de violência. E tem outros colegas que passam por isso e não se sentem à vontade”.
E finalizou: “No entanto, acredito que a inauguração dessas placas já significa um grande avanço, tanto para nós, como também para que as pessoas cis hétero entendam que nossas pautas existem e que existem diversos tipos de ser e existir no mundo”.
Elson Barbosa
Elson Barbosa
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