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Fervo das Cores

Pesquisa aponta que 79,5% dos LGBTI+ indígenas já sofreram discriminação

Akira Borba, gerente de pesquisa da ONG Todxs, detalha processo do levantamento

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Elson Barbosa

21/04/2023 às 9:04 • Atualizada em 24/04/2023 às 9:40 - há XX semanas
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					Pesquisa aponta que 79,5% dos LGBTI+ indígenas já sofreram discriminação
Foto: Canva Fotos

Desde 2019, o Brasil vem registrando um crescimento no número de processos de crimes considerados discriminatórios contra a população LGBTI+. De acordo com um levantamento feito pelo Conselho Nacional de Justiça e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, até o ano passado, o aumento foi de 19,6%.

Apesar desse número já ser alarmante, a ONG TODXS divulgou recentemente uma pesquisa mais detalhada sobre a comunidade LGBTI+, que demonstra que a situação fica ainda mais preocupante quando analisados os recortes dentro do grupo. Entre os detalhes observados envolve a discriminação dos LGBTI+ indígenas. Segundo o relatório, 79,5% dos povos originários já foram discriminados por causa da orientação sexual.

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O número superou os percentuais das outras raças: 69% dos entrevistados que se identificaram como amarelos relataram discriminação por conta de orientação sexual; entre os entrevistados brancos, 71%; entre os pardos, 70%, e 74,6% entre os pretos.

A Pesquisa Nacional por Amostra da População LGBTI+, que coletou dados de 15.326 pessoas, constatou ainda que 14,7% dos indígenas gays, lésbicas, bissexuais, trans (+) afirmaram já ter sofrido algum tipo de agressão por agentes da força de segurança do país. O percentual representa mais que o dobro de agressões a pessoas brancas (5,7%).

Em entrevista ao Fervo das Cores, do Portal iBahia, Akira Borba, gerente de pesquisa da ONG TODXS, explicou a importância do levantamento e especificou que o objetivo foi justamente analisar de forma mais específica as necessidades e os anseios da comunidade LGBTQIAP+.

Ela começou a ser desenvolvida em 2019, vindo muito de uma necessidade de que no Brasil e no mundo não há dados muito confiáveis sobre a população LGBTI+. O Censo não tem perguntas sobre isso, a Pesquisa Nacional em Saúde do IBGE, que é uma pesquisa que tem algumas informações sobre a comunidade, possui alguns problemas, que precisa ter um cuidado maior de análise. Ou seja, a gente sentia falta de ter um volume de dados confiáveis para orientar políticas públicas, para que conseguíssemos pautar mudanças no mercado também”, destacou.


				
					Pesquisa aponta que 79,5% dos LGBTI+ indígenas já sofreram discriminação
Akira Borba, gerente de pesquisa da ONG Todxs. Divulgação

Através da análise feita pelo instituto foi possível notar algumas particularidades dos LGBTQI+ indígenas. Entre elas está o forte interesse do grupo por causas sociais, incluindo a atuação na política partidária. Os povos originários LGBTI+ ocupam o segundo lugar entre aqueles que mais assistem a reuniões de partidos políticos ao menos duas vezes ao ano: 12,1%. O primeiro lugar, neste caso, é ocupado por pessoas LGBTI+ pretas, com 13%.

Sobre esse detalhe, Akira Borba pontuou: “Isso pode falar das diferentes formas de organização da comunidade indígenas, que tendem a ter um olhar mais atento as pautas coletivas, mas também porque essas pessoas sofrem mais violência, inclusive mais específicas, e isso acaba os ‘empurrando’ para a vida política”.

Povos invisibilizados

Mesmo com alguns avanços quando o assunto é diversidade, ainda é comum o questionamento: “Existe indígena gay, lésbica, trans [...]?”. Ou seja, infelizmente, os povos indígenas acabam sofrendo um duplo preconceito.

A pauta dos povos indígenas acaba sendo muito invisível. E, infelizmente, às vezes nem passa na cabeça das pessoas que existem pessoas LGBTQI+ que estão nesse cruzamento. Então, a gente está falando de recortes de intersexualidades que são muito invisíveis para as pessoas, assim como para as políticas públicas e para o mercado”, ressaltou a gerente de pesquisa.

Além disso, Borba reforçou: “É muito importante, sim, a gente ter pesquisas que vão falar sobre a comunidade LGBTI+ no geral, mas é preciso falar sobre das pessoas dentro dessa comunidade que têm deficiência, pretas e pardas, indígenas, que acabam sendo recortes que estão na intercessão de discriminações, de violências, de negações de direitos e que acabam não tendo um olhar atento suficiente. Um exemplo disso é só agora que nós temos um ministério dos povos originários, que a gente começa a ter alguma representação nas esferas de poder. Então, é uma questão que precisamos avançar muito”.

Sobre a TODXS

A TODXS é uma organização social sem fins lucrativos criada em março de 2016, que tem como objetivo coletar e processar dados sobre a população LGBTI+ e desenvolver iniciativas de alto impacto social. Com foco na promoção e inclusão de pessoas LGBTI+ na sociedade, a TODXS possui iniciativas de formação de lideranças, pesquisa, conscientização e segurança.

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