Desde 2019, o Brasil vem registrando um crescimento no número de processos de crimes considerados discriminatórios contra a população LGBTI+. De acordo com um levantamento feito pelo Conselho Nacional de Justiça e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, até o ano passado, o aumento foi de 19,6%.
Apesar desse número já ser alarmante, a ONG TODXS divulgou recentemente uma pesquisa mais detalhada sobre a comunidade LGBTI+, que demonstra que a situação fica ainda mais preocupante quando analisados os recortes dentro do grupo. Entre os detalhes observados envolve a discriminação dos LGBTI+ indígenas. Segundo o relatório, 79,5% dos povos originários já foram discriminados por causa da orientação sexual.
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O número superou os percentuais das outras raças: 69% dos entrevistados que se identificaram como amarelos relataram discriminação por conta de orientação sexual; entre os entrevistados brancos, 71%; entre os pardos, 70%, e 74,6% entre os pretos.
A Pesquisa Nacional por Amostra da População LGBTI+, que coletou dados de 15.326 pessoas, constatou ainda que 14,7% dos indígenas gays, lésbicas, bissexuais, trans (+) afirmaram já ter sofrido algum tipo de agressão por agentes da força de segurança do país. O percentual representa mais que o dobro de agressões a pessoas brancas (5,7%).
Em entrevista ao Fervo das Cores, do Portal iBahia, Akira Borba, gerente de pesquisa da ONG TODXS, explicou a importância do levantamento e especificou que o objetivo foi justamente analisar de forma mais específica as necessidades e os anseios da comunidade LGBTQIAP+.
“Ela começou a ser desenvolvida em 2019, vindo muito de uma necessidade de que no Brasil e no mundo não há dados muito confiáveis sobre a população LGBTI+. O Censo não tem perguntas sobre isso, a Pesquisa Nacional em Saúde do IBGE, que é uma pesquisa que tem algumas informações sobre a comunidade, possui alguns problemas, que precisa ter um cuidado maior de análise. Ou seja, a gente sentia falta de ter um volume de dados confiáveis para orientar políticas públicas, para que conseguíssemos pautar mudanças no mercado também”, destacou.
Através da análise feita pelo instituto foi possível notar algumas particularidades dos LGBTQI+ indígenas. Entre elas está o forte interesse do grupo por causas sociais, incluindo a atuação na política partidária. Os povos originários LGBTI+ ocupam o segundo lugar entre aqueles que mais assistem a reuniões de partidos políticos ao menos duas vezes ao ano: 12,1%. O primeiro lugar, neste caso, é ocupado por pessoas LGBTI+ pretas, com 13%.
Sobre esse detalhe, Akira Borba pontuou: “Isso pode falar das diferentes formas de organização da comunidade indígenas, que tendem a ter um olhar mais atento as pautas coletivas, mas também porque essas pessoas sofrem mais violência, inclusive mais específicas, e isso acaba os ‘empurrando’ para a vida política”.
Povos invisibilizados
Mesmo com alguns avanços quando o assunto é diversidade, ainda é comum o questionamento: “Existe indígena gay, lésbica, trans [...]?”. Ou seja, infelizmente, os povos indígenas acabam sofrendo um duplo preconceito.
“A pauta dos povos indígenas acaba sendo muito invisível. E, infelizmente, às vezes nem passa na cabeça das pessoas que existem pessoas LGBTQI+ que estão nesse cruzamento. Então, a gente está falando de recortes de intersexualidades que são muito invisíveis para as pessoas, assim como para as políticas públicas e para o mercado”, ressaltou a gerente de pesquisa.
Além disso, Borba reforçou: “É muito importante, sim, a gente ter pesquisas que vão falar sobre a comunidade LGBTI+ no geral, mas é preciso falar sobre das pessoas dentro dessa comunidade que têm deficiência, pretas e pardas, indígenas, que acabam sendo recortes que estão na intercessão de discriminações, de violências, de negações de direitos e que acabam não tendo um olhar atento suficiente. Um exemplo disso é só agora que nós temos um ministério dos povos originários, que a gente começa a ter alguma representação nas esferas de poder. Então, é uma questão que precisamos avançar muito”.
Sobre a TODXS
A TODXS é uma organização social sem fins lucrativos criada em março de 2016, que tem como objetivo coletar e processar dados sobre a população LGBTI+ e desenvolver iniciativas de alto impacto social. Com foco na promoção e inclusão de pessoas LGBTI+ na sociedade, a TODXS possui iniciativas de formação de lideranças, pesquisa, conscientização e segurança.
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Elson Barbosa
Elson Barbosa
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