O dia das mães é comemorado neste domingo (12). A data simboliza o reconhecimento e celebração de todas as formas de maternidade, incluindo aquelas vividas por mulheres trans/travesti. Uma dessas mulheres é Alexya Salvador, pastora protestante e primeira reverenda travesti da América Latina, que compartilhou a própria jornada em entrevista exclusiva ao portal iBahia.
"Neste processo de tanta discriminação e transfobia estrutural, o mais importante foi o apoio da minha família da igreja da qual eu sou pastora. Sou a primeira Reverenda travesti da América Latina. Fui ordenada pelas Igrejas da Comunidade Metropolitana e sou Vice- presidenta da Associação EIG Evangélicas Pela Igualdade de Gênero", relata.
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Alexya Salvador reconstrói o sentido de maternidade
Em uma sociedade que impossibilita o alcance de mulheres trans em espaços de prestígio social, Alexya burla as regras estabelecidas historicamente e constrói uma família com Roberto, com quem é casada há 15 anos. Ela afirma que a maternidade não tem a ver com vagina e útero, mas sim com o desejo de maternar, cuidar, formar e amar.
"A maternidade para uma travesti é uma luta diária de resistência e reafirmação. Ser uma mãe cisgênera já não é tarefa fácil nos dias de hoje, e quando se é travesti, a luta é mais árdua ainda. Quando você decide romper com essas realidades e busca formar a sua família, o preconceito e a desinformação nos atravessam todos os dias", conta.
Violência contra pessoas trans no Brasil
Segundo dados divulgados pela ONU, o Brasil é o país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo. Em 2021, o país registrou mais de 45 mil casos, seguido da Índia, com mais de 41 mil. Neste processo, construir uma família e receber afeto costuma ser um desafio, ainda mais sendo mãe de duas meninas trans.
"Hoje eu sinto uma enorme vontade em gritar para o mundo e mostrar que pessoas LGBTQIAPN+ não são erros de Deus, nem da natureza. Que as nossas identidades, as nossas sexualidades são tão naturais quanto a heterocisnormatividade", afirma.
Desafios enfrentados pela família
Mãe de três crianças, incluindo duas meninas trans, Alexya define a sua família enquanto "transafetiva", contando que os desafios são ampliados em sua vivência diante do julgamento que as pessoas fazem: primeiro por ser uma mulher travesti e pastora, segundo por ser mãe de duas meninas trans.
"É um desafio diário perceber o olhar desconfiado e preconceituoso das pessoas. Ser mãe de duas meninas trans e de um menino com deficiência me coloca nesse lugar de defesa diariamente." Para ela, a jornada da maternidade foi composta de autoaceitação e amor próprio, que culminou na vontade de construir a sua família.
Enquanto Alexya continua sua jornada, ela permanece firme em sua missão de criar um mundo onde todos sejam valorizados e respeitados, independentemente de quem são ou de onde vêm. Sua história é um testemunho vivo da resiliência humana e da capacidade de transcender as limitações impostas pela sociedade.
Jonattas Neri
Jonattas Neri
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