A relação entre sexualidade, prevenção e prazer vem ganhando novas camadas de discussão na sociedade contemporânea. Em uma entrevista franca e polêmica, Lucas Raniel, ativista LGBTQ+ que vive com HIV de modo indetectável, compartilhou sua visão sobre a prática sexual sem preservativo. Para ele, o prazer é o elemento central em qualquer relação íntima, mesmo sabendo dos riscos de contrair outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
"Quando a gente fala sobre vivências, é necessário sempre priorizar o prazer. Eu sou uma pessoa que vivo com HIV, estou indetectável, e na maioria das minhas relações não uso preservativo, e isso é o que me dá prazer. Cada pessoa funciona de uma maneira e acho que passamos da hora de colocar o prazer em primeiro plano. Chega de falar que a pessoa só pode fazer sexo com preservativo, tem que usar a PreP, tem que fazer isso... cada um tem que entender a própria vida", afirmou em entrevista ao videocast "Fervo das Cores", do iBahia.
A declaração, no entanto, é contestada por Ítalo Costa, que também vive com o vírus e admite que é necessário compreender a complexidade do tema. "Concordo que é preciso ter prazer, mas em termos de saúde pública, precisamos falar sobre como se prevenir, e não chegar e dizer que está tudo liberado. Isso tem uma implicação. Inclusive, as pessoas costumam achar que quem usa PEP e PrEP só gostam de fazer sexo dessa forma, e não é verdade", retrucou.
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O que significa ser indetectável?
O termo "indetectável" refere-se a pessoas vivendo com HIV que, ao seguirem corretamente o tratamento antirretroviral, atingem um nível tão baixo do vírus no sangue que ele não pode ser detectado em exames convencionais. Estudos científicos comprovam que indivíduos indetectáveis não transmitem o HIV por via sexual, mesmo em relações desprotegidas.
Entretanto, isso não elimina o risco de outras ISTs, como sífilis, gonorreia, clamídia e HPV, além de possíveis complicações decorrentes dessas infecções.
A declaração de Raniel ao "Fervo das Cores" reacende debates no campo médico e social. Especialistas reforçam que, embora o tratamento antirretroviral seja uma revolução na saúde sexual de pessoas com HIV, o uso de preservativos continua sendo a melhor forma de evitar outras infecções.
"A mensagem ‘Indetectável = Intransmissível’ é extremamente importante para reduzir o estigma em torno do HIV, mas não podemos negligenciar outras infecções sexualmente transmissíveis. A prevenção ainda é uma ferramenta essencial para uma vida sexual saudável”, explica a infectologista Dra. Clarissa Cerqueira. Além disso, profissionais de saúde destacam a importância do diálogo entre parceiros e da testagem regular para ISTs como parte de uma vida sexual responsável.
Uma questão de escolha e autonomia
A narrativa do entrevistado também levanta questões sobre autonomia sexual. Para ele, a escolha de não usar preservativo é pessoal e baseada no consenso com os parceiros. “Eu sempre sou transparente sobre meu status e debato sobre o tema nas redes sociais para desconstruir o estereótipo aplicado historicamente. É sempre uma decisão conjunta", defende.
Essa postura encontra apoio em alguns setores da comunidade LGBTQIA+, onde o diálogo sobre saúde sexual e prazer é incentivado, principalmente com o uso de PEP e PrEP.
PEP e PrEP: entenda a diferença e importância
A PEP é uma medida emergencial que consiste no uso de medicamentos antirretrovirais após uma possível exposição ao HIV. Indicada em casos como relações sexuais desprotegidas, rompimento de preservativo ou acidentes com material biológico (como seringas compartilhadas), a PEP deve ser iniciada o mais rápido possível, idealmente nas primeiras 72 horas após a exposição.
O tratamento dura 28 dias e exige disciplina, com a ingestão diária dos medicamentos. Durante esse período, é essencial o acompanhamento médico para monitorar possíveis efeitos colaterais e garantir a eficácia do tratamento. A PEP é considerada uma “medida de emergência” e não deve ser usada como método regular de prevenção.
Já a PrEP, por sua vez, é uma estratégia preventiva para quem ainda não foi exposto ao HIV, mas se encontra em situações de maior risco de infecção, como pessoas que têm diversos parceiros. O método consiste na ingestão diária de um comprimido, que combina dois medicamentos antirretrovirais. Quando utilizado corretamente, a PrEP reduz em mais de 90% o risco de infecção pelo HIV.
'Dezembro Vermelho' é tema do novo episódio do Fervo
O videocast, que já é conhecido por abordagens informativas sobre temas ligados à população LGBTQIAPN+, mergulhou no universo do dezembro vermelho, mês de campanha nacional de conscientização sobre a prevenção e o tratamento do HIV, Aids e de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). A atração é comandada por Victor Silveira e Jonattas Neri. Já a direção e edição é de Lucas Andrade.
Jonattas Neri
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