Dia 29 de agosto é lembrado no Brasil como o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. A data foi instituída em 1996, após a realização do primeiro Seminário Nacional de Lésbicas (Senale), no Rio de Janeiro. A iniciativa foi criada para debater temas relacionados às questões dos direitos das mulheres que tinham e, infelizmente, ainda têm seus direitos violados por causa da orientação sexual.
Firmada a partir de ativistas brasileiras, a data denuncia, além da invisibilidade, as inúmeras violências, sejam elas psicológicas, físicas ou simbólicas, sofridas por mulheres lésbicas em diversos espaços da sociedade.
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“Ser uma mulher que ama outra mulher é um ato revolucionário”. É dessa forma que a advogada Larissa Sapucaia, 30 anos, define o ser lésbica. Ela, que não esconde a sua orientação sexual, afirma que “o dia 29 de agosto é uma data que simboliza a visibilidade lésbica e toda a luta que enfrentamos para resistir em uma sociedade falocentrica e misógina”.
Vale destacar que, além disso, a lesbianidade também é um ato político. Moradora de Salvador, cidade conhecida pela diversidade e cultura, Larissa reforça que “é preciso ter coragem para ir contra uma sociedade que nos prega ódio e rivalidade feminina”.
Assim como ela, a psicóloga Camila Oliveira dos Santos, 30 anos, também reconhece a importância de se entender que falar sobre o assunto não se trata apenas de reconhecer a existência das lésbicas, mas, sobretudo, de valorizar isso através da garantia de direitos.
“A importância da data diz muito sobre uma questão de sobrevivência. Como mulheres, já precisamos fazer isso diariamente. Como lésbica, acredito que essa função seja dobrada. A minha luta é diária em todos os aspectos da minha vida. Desde a minha casa, nas minhas relações familiares, até o meu trabalho ou simplesmente o fato de poder sair na rua sem o receio que possa acontecer algo”, enfatiza.
Essa preocupação é comprovada através de dados. O Mapeamento de Vivências Lésbicas no Brasil, realizado pela Liga Brasileira de Lésbicas e pela Associação Lésbica Feminista de Brasília – Coturno de Vênus, em 2022, mostra que 79% mulheres sofreram algum tipo de lesbofobia. Segundo o levantamento que ouviu cerca de 22 mil mulheres lésbicas de todo o país, assédio moral e sexual estão entre os mais recorrentes.
Vivenciando esse receio diariamente, Camila Oliveira reforça que ter visibilidade é poder ser quem é. “Sei que parece redundante, mas quando digo isso é no sentido de poder sair de dois extremos que, infelizmente vivemos: o sexismo e a homofobia. Quando colocamos isso em pauta, chegamos em um produto chamado lesbofobia. Isso é pouco discutido. Se fala muito sobre homofobia, mas não sobre lesbofobia. E sim, são coisas distintas... Eu quero poder andar na rua com a minha companheira e não ser olhada como dois objetos, dois pedaços de carnes”, pontua.
Amanda Houbert Ferreira Coelho, 28 anos, é casada com uma mulher e, assim como Camila e Larissa, reconhece que grande parte da sociedade ainda está longe de enxergar as lésbicas com o devido respeito.
“Para mim ter visibilidade seria não precisar me auto afirmar cotidianamente e provar que minha família (eu e minha esposa) existimos. Queria não precisar ter medo de demonstrar afeto em público. Quero que minha mulher possa, nas conversas cotidianas no trabalho dela como Uber, não ter medo de responder que é casada com uma mulher”, afirma a produtora cultural e pesquisadora.
Mesmo com todos esses percalços, Amanda consegue sonhar com um futuro melhor. “Eu consigo sonhar com um mundo onde a gente possa se identificar nas mídias, nos espaços de poder e decisórios, onde as famílias estejam prontas para acolher e amar quem somos”.
“Ter visibilidade talvez torne o caminho de descoberta e entendimento de quem realmente somos menos doloroso”.
Elson Barbosa
Elson Barbosa
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