Quando sonhava em ser backing vocal de banda de pagode, ainda na adolescência, Elza já mirava um futuro de sucesso na carreira. O que ele não imaginava era que isso iria acontecer em tão pouco tempo ao lado de um grupo.
As incertezas surgiram depois de receber muitos nãos. Por fugir do padrão de profissionais escolhidos para essa função - mulheres ou homens héteros -, o artista chegou a duvidar que conseguiria, mas não desistiu.
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"Eu dizia pra mim mesmo que era tudo no seu tempo. Eu mandava mensagens para várias bandas, para mostrar meu trabalho, mas sempre recebia não", relembra Elza, em entrevista exclusiva ao iBahia.
Desde o início deste ano, as coisas têm sido diferentes. Representando a comunidade gay no "pagodão", o jovem de 20 anos tem sido destaque nos "paredões" de Salvador, interior da Bahia e até mesmo fora do estado.
Sucesso no 'pagodão'
Além de acompanhar o vocalista Alessandro Carneiro, Elza também dança nos shows da banda Ah Chapa, e tem feito muito sucesso com uma versão do hit "Manda 100, Manda 50", do também baiano Cirilo Teclas.
Fugindo do estereótipo de que mulheres dependem do dinheiro dos homens, a letra da música sustenta uma resposta empoderada.
"A música 'Toma 1.000, Toma 500' surgiu do nosso produtor geral, Rick Bass, e a recepção tem sido muito boa, porque, querendo ou não, algumas mulheres se identificaram muito com a música. É uma das músicas mais pedidas", revela.
Uma atuação que atraiu o carinho do público, que tem abraçado o trabalho do soteropolitano de Tancredo Neves não só quando o artista está no palco, mas também nas redes sociais e no camarim. "Está sendo um momento muito feliz na minha vida, porque era algo que eu sempre esperei, de estar vivendo esse sonho, de estar viajando com banda. É uma experiência muito boa. Eu fico besta comigo mesmo. Eu já falei: 'Meu Deus, eu nem acredito onde eu estou'".
O preconceito por ser gay
O que, infelizmente, não impede o preconceito de se manifestar. O jovem conta que já sentiu olhares maldosos de algumas pessoas enquanto se apresentava, mas destacou que nunca se deixou abater. O apoio dos fãs e dos parceiros de banda motivam Elza.
"Sempre tem alguém que olha com o olhar diferente, mas eu me sinto muito confortável, porque o pessoal abraça. Não me senti desconfortável, até então", comenta.
O artista reflete ainda que determinados comportamentos são fruto da falta de representatividade e reforça a importância de estar onde está. "Hoje em dia, eu digo que há mais liberdade. Antigamente, não tinha isso. Eram apenas héteros", pontua.
"Eu vejo algo muito relevante. Começa de um para passar para outras gerações. É muito difícil. E muita gente que desacreditou de mim tá vendo agora onde eu estou".
Por que Elza?
Emerson foi "batizado" de Elza por um amigo, durante o ensino médio, em uma brincadeira. Desde então, passou a adotar o apelido, que, ao chegar na banda, acabou se transformando em nome de trabalho.
"Quando eu entrei na banda, o pessoal perguntou qual era o meu apelido. Eu contei que na escola me chamavam de Elza. Os meninos disseram: 'É, não tem jeito. Vai ser Elza'. E pegou", contou.
Diante das tantas realizações, o jovem já faz planos para o futuro. Para além da música, ele pretende investir em uma formação de teatro e seguir também nessa área.
"Eu fico uma pessoa muito feliz. É surreal. As pessoa me dão parabéns pelo meu talento, dizem que eu vim para quebrar esse tabu, que estou representando outros gays. As pessoas ficam felizes. E eu quero ir além".
Alan Oliveira
Alan Oliveira
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