A efervescência da comunidade LGBTQIAPN+ toma conta de Salvador nessa época do ano, principalmente nos circuitos do Carnaval. Seja na Barra – Ondina, no Campo Grande ou no Centro Histórico, a diversidade se mistura ao colorido que já é tradição na festa. No entanto, no passado, alguns locais precisavam ser ocupados exclusivamente pelo público, para que pudessem agir de forma livre, longe do preconceito e, consequentemente, da violência que era ainda mais evidente na época.
Em entrevista ao Fervo das Cores, do Portal iBahia, o antropólogo e fundador do Grupo Gay da Bahia Luiz Mott relembrou detalhes e lugares que eram tradicionais para os LGBTQIAPN+’s durante a festa momesca.
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“Salvador sempre teve espaços privativos frequentados pela comunidade. Boates, como a Boate Tropical, no Centro, o Zanzibar, que na época funcionava no Garcia, além das saunas, eram lugares que durante todo o ano faziam shows de transformistas e as pessoas ficavam bem à vontade. No Carnaval, esses espaços funcionavam a todo vapor, mas também havia lugares públicos onde a presença de gays e travestis era bem significativa. A Praça Castro Alves era o local principal, onde havia a escadaria da fama, com concursos de fantasias, por exemplo”.
E seguiu dizendo: “Nessa época, predominavam as travestis vestidas de baianas – havia, inclusive, uma lavagem na escadaria onde era o Palácio de Esportes. Ali, muitos adolescentes começaram a vida homoerótica”.
Mott enfatizou que a tradição na Praça Castro Alves ia além de apenas um local de encontros: “Quando eu fundei o Grupo Gay da Bahia, em 1980, o Carnaval era centralizado na Praça Castro Alves. Tudo acontecia ali. Onde terminavam os trios, casamentos aconteciam e era o espaço da população gay - na época, homossexual incluía gay, travesti, lésbica, era um termo arco-íris. Além disso, na região aconteciam desfiles de fantasias, muita pegação, fechação, mas, com o tempo, isso se perdeu nesse espaço”.
Além da Praça Castro Alves, algumas regiões do Centro Histórico de Salvador tinham locais exclusivos para a comunidade, incluindo pensões, que serviam de encontros casuais do público gay. “Eu, mesmo, quando como turista em Salvador, no final dos anos 1970, eu fui em um desses lugares. Fui em um de um velho gay, que recebia os visitantes chamando-os de "meus pombinhos". Era um local muito precário, mas funcionava como um espaço para uma transa rápida”, confidenciou.
No século XX, o Campo Grande também se tornou um local de encontro da comunidade LGBTQIAPN+. Então, durante o Carnaval, a região também era destaque para a diversidade. No entanto, quando houve a implementação do circuito Barra-Ondina, outros espaços começaram a ser ocupados. “Depois, quando o Carnaval desce para a orla, na Barra, a região do Cristo sempre foi um espaço de encontros clandestinos, com um certo perigo, já que haviam malfeitores que iam lá para roubar casais. Além de lá, o Beco da Off e as saunas funcionavam como locais onde o Carnaval LGBT funcionava a todo vapor”, relembrou Luiz Mott.
Diversidade nos quatro cantos do Carnaval
Diferentemente do passado, a pluralidade na festa está evidente em todos os trechos e lugares. Seja nos circuitos mais tradicionais ou nas celebrações dos bairros, o Carnaval está cada vez mais inclusivo e diverso.
O antropólogo Luiz Mott pontuou que a liberdade conquistada nos últimos anos para demonstrar questões que envolvem a sexualidade e a orientação de gênero possibilitou que houvesse mais segurança na festa. Ele enfatizou ainda que a ampliação de locais que gerem essa liberdade é importante, mas a existência de espaços privados também é fundamental, principalmente os LGBTQIAPN+ que estão em processo de aceitação e descoberta.
“Por um lado, eu acho que essa diluição pelo espaço é boa, porque estamos conquistando mais e mais espaços, mas também alguns outros espaços privativos - como blocos e becos - também são interessantes pois permitem a jovens gays, lésbicas, trans, que estão iniciando na vida LGBTQIAPN+, sintam-se mais à vontade. Então, esses espaços funcionam como um espaço de iniciação, em que essas pessoas podem sair do armário sem risco de apanhar, ser chantageado, etc”.
Durante o bate-papo, Mott ainda mandou um recado para a população geral, pedindo respeito à comunidade LGBTQIAPN+ durante todo ano. “Eu considero importante que as pessoas, sobretudo aqueles que saem em blocos travestidos - como As Muquiranas -, que aprendam a respeitar mais, a discriminar menos, a excluir a homofobia, a misoginia das suas vidas. Que o Carnaval sirva de lição para que vivamos cada um na sua e todo mundo numa boa”, finalizou.
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Elson Barbosa
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