Para muitos, o Natal é sinônimo de celebração, reencontros, harmonia. No entanto, para uma parcela do público LGBTQIAP+ a data reforça a ausência de uma atitude que deveria estar presente diariamente nas famílias: o acolhimento.
Acolher as diferenças, respeitar as particularidades, entender as mudanças. Essas deveriam ser ações rotineiras de quem afirma amar alguém – independente da época do ano.
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Em entrevista ao Fervo das Cores, do iBahia, o psicólogo Rodrigo Márcio reforça a importância de enxergar, sempre, a individualidade do outro.
“Quando a gente fala de acolhimento, a gente fala de respeitar a singularidade de cada um. O que mais as pessoas querem é ser respeitadas em sua totalidade e não apenas por algumas partes. Sendo assim, abracem cada pessoa LGBTQIAP+ da sua família. E que esse afeto não seja exposto apenas na noite de Natal”, enfatiza.
De forma inconsciente – ou até mesmo consciente -, a imposição de um padrão, já desde a infância, gera um distanciamento processual de muitos jovens com a família, que é refletido nesse período do ano.
“Quando analiso o impacto do Natal para o público LGBTQIAP+, começo a rememorar a infância, quando os presentes oferecidos pelos país são baseados dentro de uma normatividade, onde meninos e meninas não podem escolher algo que fuja desse padrão do que é normativo para a sociedade.
Então, a gente já entende que há esse engessamento dentro da festa que tem um cunho religioso, cristão, heterossexista. Ou seja, estamos falando de um lugar para apenas uma parte da população”, pontua Rodrigo, que também é pesquisador de questões que envolvem a comunidade LGBTQIAP+.
Márcio reforça que a percepção da falta dessa inclusão fica ainda mais evidente com o amadurecimento: “Se o jovem ou o adulto for afeminado ou fora da norma, muito provavelmente ele será excluído da família. E essa exclusão inclui constrangimento com comentários desrespeitosos. Então, é perceptível que, desde cedo, esse corpo LGBTQIAP+, dentro dessa festa, não é um corpo acolhido, pois ele acaba sendo colocado no lugar da chacota, do preconceito”.
Ser Família
O conceito da palavra família é ‘conjunto de pessoas que possuem grau de parentesco ou laços afetivos e vivem na mesma casa formando um lar’. Na vida, há quem aprenda que o complemento desse termo também é ‘quem escolhemos que faça parte dela’.
Amor e afeto são construções. E são elas que ficam ainda evidentes em épocas festivas. “Há uma constituição social de que o Natal é com a família e o Ano Novo é com os amigos. Mas como pensar em passar o período natalino com essas pessoas se esse lugar é um espaço hostil? Como pensar em Natal com elas se são as mesmas que violentam o ano inteiro com apelidos, atitudes?”, reflete o psicólogo.
“Chega um momento da vida que a pessoa quer ser aceita de forma integral, não apenas pela metade. Por isso, acaba escolhendo quem fazer parte da sua família. E isso inclui amigos, companheiros, companheiras, colegas de trabalho...”.
O Natal, propositalmente, é impulsionado por uma ideia capitalista, onde há um aquecimento na economia. Porém, também é preciso entender que a celebração pode ser um momento de fortalecimento de laços, de reconhecer seus pares, de comunhão.
“Já que dizem que o Natal é esse lugar de acolhimento, de família, é importante cada um pensar como está acolhendo esse filho, sobrinho, familiar, que faz parte da comunidade LGBTQIAP+”, completa ele.
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Elson Barbosa
Elson Barbosa
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