Os fortes do Porto da Barra guardam trabalhos, memórias e histórias de dois artistas que não nasceram na Bahia, mas que a adotaram de coração.
No Forte São Diogo, o visitante pode encontrar o Espaço Carybé de Artes, dedicado a Hecctor Julio Páride Bernabó (Carybé), um argentino com alma soteropolitana que deixou uma marca significativa na história das artes plásticas brasileiras.
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Já no Forte Santa Maria, há o espaço Pierre Verger, que também se apaixonou por Salvador e se tornou um dos fotógrafos mais importantes do nosso país. Dada a proximidade artística e pessoal entre eles, é justo que os espaços aos trabalhos sejam vizinhos.
Ambos foram abertos em 2016, sob gestão da Prefeitura de Salvador, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult). A curadoria do Espaço Verger da Fotografia Baiana é de Alex Baradel, diretor técnico da Fundação Pierre Verger, que divide os créditos de pesquisa/curadoria com Célia Aguiar, fotógrafa e professora de fotografia.
O projeto expográfico é assinado pelos arquitetos Fritz Zehnle Jr e Rose Lima. No Espaço Carybé de Artes, a curadoria é de Solange Bernabó e o projeto expográfico da empresa Blade Design (Joãozito Pereira e Lanussi Pasquali).
Os locais funcionam de quarta a segunda, das 10h às 18h (entrada até as 17h). Às quartas-feiras a entrada é gratuita. Já nos outros dias, para turistas os ingressos custam m R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia), e dão direito à visitação de ambos os Espaços. Os residentes em Salvador que apresentarem comprovante pagam meia-entrada todos os dias. São proibidos alimentos e bebidas durante toda a permanência no local.
Conheça mais sobre a história dos artistas e o que tem nos espaços:
Carybé
Carybé nasceu em 1911, em Lánus, distrito fronteiriço com Buenos Aires, na Argentina. Ele foi jornalista por formação, pintor, gravador, desenhista, ilustrador, mosaicista, ceramista, entalhador e muralista por paixão. Filho de pai cigano, tinha seis meses quando sua família se mudou para a Itália, onde ficou até os seus nove anos. Em 1920, passou a morar em Bonsucesso, bairro na zona norte do Rio de Janeiro. Quando completou 19 anos, voltou para a Argentina.
O artista aprendeu a desenhar em casa, vendo os irmãos mais velhos Arnaldo e Roberto, que eram pintores. Começou a carreira como cartunista, mas resolveu migrar para as tintas e pincéis. Em 1936, fez sua primeira exposição. Em 1938, veio à Bahia a trabalho, quando se apaixonou à primeira vista por Salvador, pela cidade e pelos costumes locais. Em 1950, voltou para morar.
“A obra dele muda a partir disso, para retratar nossa cultura. Ele pintou as festas de largos, no Rio Vermelho, no Bonfim, pintou o dia a dia dos terreiros. O grande diferencial do Carybé foi retratar a beleza daquilo que nós nem percebemos mais no nosso cotidiano”, pontua Jessica Freitas, mediadora e historiadora do Espaço Carybé de Artes.
Já em 1957, se naturalizou brasileiro. Teve grande participação no cenário de renovação de artes plásticas na Bahia, ao lado de Mario Cravo Júnior (1923-2018); Genaro de Carvalho (1926-1971); e Jenner Augusto (1924-2003). Em 1981, publicou o livro Iconografia dos Deuses Africanos no Candomblé da Bahia, pela Editora Raízes. Também chegou a ilustrar livros do colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014); Jorge Amado (1912-2001) e Pierre Verger (1902-1996), entre outros. O artista faleceu em 1997, em Salvador.
No Forte, é possível encontrar grande parte da biografia de Carybé e seus trabalhos. São mais de 500 obras digitalizadas do autor, através de uma experiência lúdica, onde os visitantes podem ter acesso a diversas pinturas, murais e materiais do artista, além de permitir momentos interativos em que você pode ser um personagem 3D do Carybé e até sentir que está pintando um quadro original do mesmo.
O local é composto por uma exposição totalmente virtual, onde é possível observar projeções das pinturas nas paredes, totens digitais com acesso ao acervo do autor, com informações biográficas da vida dele, é possível ver a réplica da mesa de pintura em que o mesmo trabalhava, painéis interativos, além de contar com duas mediadoras que fazem um tour guiado pela vida e obra do artista.
Verger
Verger aprendeu a fotografar com Pierre Boucher (1908-2000), em 1932, quando adquire sua primeira Rolleiflex. Desde então, colaborou com diversos jornais e revistas americanas, latinas e europeias, como Paris-Soir, em 1934; Daily Mirror, de 1935 a 1936; Life, em 1937; Match, em 1938; Argentina Libre e Mundo Argentino, em 1941 e 1942; e O Cruzeiro, de 1945 até fins dos anos de 1950.
Em 1946, chega em Salvador para ficar. A partir desse momento, se encanta pela história, local e começa a se dedicar a registros e pesquisas das religiões de matrizes africanas e a cultura afro-brasileira. Suas fotografias se baseiam no cotidiano do povo baiano, do dia a dia dos terreiros e dos trabalhadores, pescadores e tantos outros. Se tornou um especialista na questão da diáspora africana e da religião iorubá, tendo publicado livros e diversas fotografias voltadas à temática. Em viagens de estudo sobre o assunto a Benim, na África ocidental, torna-se um iniciado no culto de divinação, com o insigne título de Fatumbi (renascido na graça de Ifá).
Em 1966, ele concluiu seus estudos de doutorado na Sorbonne (Paris, França), com uma tese que abordava o tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia nos séculos XVII ao XIX. Em 1974, ele ingressou como professor na Universidade Federal da Bahia (Ufba) e desempenhou um papel fundamental na criação do Museu Afro-Brasileiro, que foi inaugurado em 1982, em Salvador. Desde 1989, a Fundação Pierre Verger tem a responsabilidade de preservar seus 62 mil negativos fotográficos, sua extensa biblioteca e seu arquivo pessoal, além de difundir seu valioso legado nas áreas de antropologia e fotografia.
No Espaço Pierre Verger de Fotografia Baiana, é possível encontrar trabalhos de mais de 100 fotógrafos baianos ou que fixaram residência na Bahia, além de um acervo disponibilizado pela Fundação Pierre Verger, de forma colaborativa. Da mesma forma que o de Carybé, o espaço conta com pontos de totens digitais e interativos, para que os visitantes fiquem imersos na experiência das fotografias do local.
Já para os turistas, a experiência pode proporcionar registros do cotidiano do povo baiano e da cultura soteropolitana, através das fotos disponibilizadas por lá.
Redação iBahia
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