Agnelo da Ribeira tinha um senso de colocação fora do comum em campo. Quem conviveu com ele, garante: era tanta facilidade com a bola que ela parecia querer, por vontade própria, o pé do eterno zagueiro do Vitória. Nelinho, como é mais conhecido, desenvolveu esta habilidade de grudar a redonda, sempre pronto para o bom passe a fim de compensar a falta de vigor que se exige de um zagueiro troncudo convencional.
Quem viu, viu. E curte até hoje a lembrança das jogadas do ídolo rubro-negro dos anos 1960. "A impressão é que as suas pernas tinham ímã para a bola. Ele dava o 'bote' certo, porque suas 'canetas' sabiam para que lado o atacante iria driblar", lembra o jornalista esportivo e delegado de polícia Antônio Matos, que foi juvenil do Vitória aos 14 anos e teve o privilégio de conviver com Nelinho.
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"Era baixo, uma antítese de zagueiro, mas tinha uma impulsão surpreendente. Seu estilo lembrava o de Gamarra, tomava a bola semdar falta". Nelinho formou uma linha média famosa, nos anos 1950, atuando pelo Botafogo, time que o revelou para o futebol. Ao lado de Flávio, volante e, mais tarde, campeão da Taça Brasil de 59, pelo Bahia, e Júlio, lateral-esquerdo, Nelinho jogava muito.
MOCOTÓ - Sergipano de Estância, foi vendido para o Vitória, quando o Botafogo desmanchou o time todo para fazer caixa, a fim de construir sua badalada sede de praia, em Amaralina. Negociado para o Flamengo, foi considerado o melhor jogador do Torneio Hexagonal, disputado em Santiago do Chile.
Pretendido pelo Bahia, acabou retornando para o Vitória. Jogou de médio volante porque um jovem revelado para a zaga tinha conquistado seu lugar no time. Era Roberto Rebouças, ídolo eterno da zaga do Bahia. Diziam, no Vitória, em tom de ironia, que ele ensinou Medrado, Romenil, Tinho e muitos dos seus companheiros de zaga como jogar bola. O dom de tanta categoria dava uma sede danada ao professor dos zagueiros. Foi muito comentada a passagem do Vitória por Valença, no Baixo Sul, em 1964. Nelinho bebeu todas as garrafas de cerveja de um bar e o dono foi obrigado a buscar um novo engradado no vizinho.
Apesar de pouca instrução, botava moral pela liderança e pelo exuberante futebol. Capitão, era o homem de confiança dos treinadores. Foi bicampeão pelo Vitória em 64/65 e campeão em 68 pelo Galícia. Voltou ao Vitória, no final de carreira, tendo atuado no Leônico, ao lado de um garoto chamado Raimundo Varella.
Nelinho morou a vida toda na Cidade Baixa, onde muito de vez em quando aparece pela praia da Ribeira. "Era muita qualidade. Jogava na bola. Depois dos jogos na Fonte Nova, saía comendo água e ia pra minha casa na Baixa de Quintas. Comia fato, mocotó e fazia farra a noite toda", lembra um de seus eleitores no Time dos Sonhos do CORREIO, o torcedor Alvinho Barriga Mole.
BOTÃO - André Catimba, acostumado aos duelos na área, garante: "Nelinho era um senhor quarto-zagueiro. Outro igual nunca existiu. Era craque", Pai do lateral Róbson, Nelinho encanta até hoje o jornalista João Borges Bougê, que viu dezenas de zagueiros em ação, em 25 anos de carreira de cronista.
"Nelinho era um negócio impressionante. Não dava um pontapé. Ele hoje seria um super-craque", disse. Mas é o eleitor Sinval Vieira quem melhor define Nelinho: "Era meu principal jogador até no meu time de botão e eu jogava imitando ele quando era menino".
VOTO A VOTO
Nelinho (8)
Alvinho Barriga Mole, André Catimba, Carlos Libório, João Borges Bougê, Paulo Carneiro, Paulo Leandro, Rodrigo Vasco da Gama e Sinval Vieira.
Tinho (3)
Beto Silveira, Mário Silva e Vovô do Ilê.
Dultra (1)
Alexi Portela Júnior
Alírio (1)
João Ubaldo Ribeiro
Agnaldo Liz (1)
Luciano Santos
Outro nome
Xaxa
*Matéria publicada na edição impressa do jornal do Correio do dia 28 de janeiro de 2011
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