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Leandrão não se conformou com eliminação precoce na Copa do Brasil |
Na era das redes sociais, a privacidade é cada vez mais escassa. Hoje, jogador de futebol não precisa estar em campo para infringir o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) e ser punido. Mesmo de casa, o boleiro pode errar e pegar um gancho de suspensão. Frases polêmicas sobre arbitragens ditas no twitter, ferramenta mais utilizada pelos atletas, se tornaram argumentos para denúncias. Nos últimos meses, alguns casos chamaram a atenção, como a punição ao atacante Leandrão (@Leandrao09), do ABC, e do goleiro Deola (@deola22), do Palmeiras. Ambos foram punidos após desabafos feitos através do microblog twitter. Para Paulo Schmidt, procurador-geral do Supremo Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), o CBJD não precisa ser reformulado para contemplar situações envolvendo redes sociais. "Acho que o código atual já cobre essas situações. Ninguém precisa ficar fiscalizando. Quando um atleta fala algo e repercute na mídia, nós temos que verificar se há uma infração. No momento que é exteriorizado, não há volta. O meio, seja eletrônico ou não, é um meio de prova", afirma. Leandrão, ex-Vitória que atualmente defende o ABC, foi punido no STJD com quatro partidas de suspensão e uma multa de R$ 1.000 por conta da seguinte declaração via twitter: "qual turista vem ao Rio e não é roubado?". O jogador se referiu a atuação do árbitro Emerson de Almeida Ferreira após derrota por 2 a 1 para o Vasco na segunda fase da Copa do Brasil.
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Paulo Schmidt não vê necessidade de mudanças no CBJD |
A indignação de Leandrão partiu da marcação de um pênalti duvidoso em favor dos cariocas, quando o ABC estava vencendo a partida. Alecsandro marcou e igualou o placar. Depois, Bernardo virou. O empate em 1 a 1 daria a classificação ao time nordestino, já que no jogo de ida, em Natal, os times ficaram no 0 a 0. O advogado do atacante, Paulo Rubens, criticou a decisão do Tribunal. "O microblog é de cunho pessoal, ele não está nos jornais e na televisão. Ele foi num meio de comunicação privado, claro que acessa quem quer, mas ele não foi até a imprensa", disse. O STJD puniu Leandrão com base no parágrafo primeiro do artigo 243-F - ofender alguém em sua honra, por fato relacionado diretamente ao desporto - do CBJD. A punição de Deola também está atrelada a uma ofensa direcionada à arbitragem. Após a eliminação do Palmeiras na semi do Paulistão deste ano para o Corinthians, nos pênaltis, o goleiro culpou o juiz do jogo. "Parabéns para a FPF pela honestidade e a imparcialidade demonstrada e representada, hoje, pela figura do senhor Paulo César de Oliveira", escreveu. O arqueiro alviverde tentou se justificar e disse que a postagem foi escrita por sua mulher. "Sobre o Twitter, quem administra é minha esposa, assessora e jornalista. Ela coloca a maioria dos posts. Ela quem colocou isso. Fiquei chateado com o jogo, mas não concordei com o que escreveu. Não podemos escrever coisas que acontecem no jogo, expor. Não tenho nada contra a Federação, até agradeço pela nomeação de goleiro menos vazado e fui premiado pela FPF".
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Deola pegou menos jogos de suspensão do que Leandrão |
Apesar da defesa, Deola não escapou da punição e pegou dois jogos de suspensão. Neste caso, a pena vem do artigo 258 do CBJD: "assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva não tipificada pelas demais regras do Código, como desrespeitar os membros da equipe de arbitragem, ou reclamar desrespeitosamente contra suas decisões".André Sica, advogado do Palmeiras que defendeu Deola no julgamento, não conseguiu assimilar a decisão do STJD. "Esse caso é inédito e desnecessário. Primeiro a linguagem do Twitter. Vejam as vírgulas, a esposa dele é jornalista, foi postado pós-partida, dois minutos. De fato, o Twitter foi tirado do ar logo que ele viu. Ele é absolutamente disciplinado. Ele sabe que é responsabilidade dele, tem gente que viu", afirmou.Paulo Schmidt discorda e rebate os advogados. "É preciso oferecer denúncia. Se os advogados não concordam, eles que defendam os seus clientes no tribunal". Entretanto, o procurador-geral do STJD parece ter mudado de opinião.
Neymar escapa - Em agosto de 2010, o atacante Neymar acompanhava a partida entre Vitória e Santos, em Salvador, pela televisão, pois estava machucado. O Leão venceu por 4 a 2 e o twitter oficial do jogador foi utilizado para fazer críticas ao árbitro Sandro Meira Ricci, como "juiz ladrão vai sair de camburão", "eeeeeeeeeeee juizãooooo" e "meu Santos sempre prejudicado pela arbitragem!".Minutos depois do jogo, o atacante foi alertado por internautas, apagou os tweets e disse que sua conta havia sido invadida. A pedido o advogado do Santos, João Gazola, ele até escreveu uma carta ao STJD afirmando não ter ofendido o árbitro. Procurado para falar sobre o caso na época, Paulo Schmidt disse ao site Justicadesportiva.com.br que não tinha como fazer denúncia. "Não existe nenhuma prova que possa denunciar o jogador". Neymar escapou do julgamento.
Sem orientação - De acordo com as respectivas assessorias de imprensa, Bahia e Vitória não orientam seus jogadores sobre como utilizar as redes sociais. O uso é livre. Caso haja algum problema, o departamento de futebol de cada clube fará uma análise e pode até punir o atleta. "Eles já são bem grandinhos, ganham bem. É importante que os clube orientem, mas cada jogador tem que ter consciência do que fala", defende Schmidt.Durante o Campeonato Baiano 2011, o goleiro colombiano Viáfara, ex-Vitória, criticou a arbitragem através da sua página no microblog, indicando que o Bahia estava sendo benecifiado. Porém, nenhuma denúncia foi feita e a repercussão do fato foi mínima.
Lado positivo - Enquanto o twitter causa problemas para alguns atletas, outros sabem como utilizar a ferramenta e se aproximam da torcida. Na Bahia, temos dois goleiros como exemplos: Renê (@renegoleirorene), ex-tricolor, e o próprio Viáfara (@julianviafara). Ambos foram pioneiros na interação com o torcedor, ao responderem perguntas e até se divertirem com críticas.
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