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106 gols, em 102 jogos, marcados em 13 competições |
O menino de corpo franzino e sorriso nos lábios da foto acima se chama Lourival. Ele tem 16 anos, mas faz conta de gente grande. A matemática dele é simples. Atacante do juvenil do Bahia, está sempre somando gols com a camisa tricolor. No último dia 2, Lourival alcançou um número que muito jogador profissional leva a vida toda tentando e não consegue: fez seu 100º gol em competições oficiais. A marca foi alcançada, de pênalti, na goleada por 4x0 contra o Royal, durante a Copa Rio Sub-17. "Tava todo mundo ansioso. O massagista Tiú até me ajudou a fazer o 100 de esparadrapo em uma camisa", emociona-se. Tava ansioso, mas teve personalidade. Não é que Lourival fez o centésimo dele parecido com o milésimo de seu maior ídolo? Perna direita e bola à meia altura. "Sempre me espelhei no Romário. É o meu referencial. Brincaram comigo: gol importante de pênalti só Romário, Pelé e Guegué". Guegué? É assim que o conhecem em Alto de Coutos, no Subúrbio Ferroviário, onde cresceu. "O técnico Márcio (Garrido, do mirim) me disse que Guegué não é nome de jogador", contou, rindo. Aí o apelido desapareceu das súmulas. E você, prefere o quê? "Guegué. É como meu irmão me chama, já vem comigo". Então pronto: Guegué! Depois do 100º, ele ainda fez outros seis na Copa Rio. O Bahia foi eliminado na semifinal pelo campeão Internacional, mas Guegué foi um dos artilheiros do torneio com 10 gols.
Registros - Os caminhos pro gol não estão guardados só na memória. Dona Emérita, mãe do atacante, registrou tudo de 2009 pra cá. "Foi quando ele disputou o 1º campeonato na categoria dele. Vi nele um talento e quis guardar pra quando o Globo Esporte vier entrevistá-lo", diz orgulhosa. Dona Emérita anotava todos os gols em um caderninho. No início do ano, coma proximidade do 100º, passou tudo pro computador. Tá tudo lá: 106 gols, em 102 jogos, marcados em 13 competições. "Quis deixar organizado. Todos são reconhecidos pela Federação Baiana de Futebol", avisa a mãe coruja, que também guarda fotos, uniformes, medalhas e todas as chuteiras usadas pelo filho. O artilheiro da base do Bahia na atualidade chegou ao Fazendão em 12 de abril de 2003, aos 7 anos, levado por Zé Augusto. O ex-zagueiro, na época técnico da base, acreditou no talento do menino ao vê-lo jogar em uma escolinha. A base tricolor não tinha categoria pra idade dele e Guegué ficou treinando com meninos mais velhos. Não se intimidou e encontrou nos ensinamentos de um professor o caminho pra driblar a altura. "Beijoca me ensinou que quem não é alto tem que antecipar o zagueiro no primeiro pau. Até hoje faço muito gol assim". Aquele não foi o primeiro contato com Beijoca. "Meu pai me levou à Fonte Nova. Beijoca treinava o Ipitanga, mas quando entrou, a torcida do Bahia toda o aplaudiu. Me marcou e quis ser o Beijoca do Bahia, ídolo como ele". Aqui uma coincidência: na base, Guegué tem os mesmos 106 gols que Beijoca, 12º maior goleador tricolor, fez no profissional do Bahia. O veterano também se orgulha. "Ele pegava no meu pé pra treinar. Era miudinho e falavam que não ia vingar, mas fazia muito gol. O Bahia tem um cheque e vai ter um grande atacante", atesta Beijocão. O menino dos 100 gols tem contrato no clube até abril de 2014. Sabe que vai esperar, mas já idealiza o primeiro gol como profissional. "Queria num Ba-Vi. Jogo empatado. Cruzam uma bola rasteira, passa por todo mundo e eu escoro", narra, com um olhar de quem sonha acordado. Agora é torcer pra ver a promessa tricolor se tornar realidade.