Marcelo Guimarães Filho quebrou o silêncio. Após suspeitas levantadas pela auditoria realizada no Esporte Clube Bahia durante o período de seu segundo mandato, o ex-presidente tricolor resolveu se defender das críticas. Em uma longa de conversa com jornalistas na redação do jornal Correio*, incluindo membros da equipe do iBahia Esportes, o ex-dirigente do clube foi sabatinado durante quase duas horas. Dividimos a entrevista de Marcelo Filho em três partes, na qual ele aborda questionamentos sobre sua administração à frente do clube, entre contratos assinados, supostas irregularidades e vendas de jogadores. Ele também critica a nova diretoria, alegando influência política dentro do clube. Abaixo, confira a terceira parte do bate-papo.
A auditoria apresentou dados diferentes dos divulgados anteriormente em relação a venda do Fazendão e a compra do novo CT. Como explica isso? Essa aqui é a ata da assembleia de sócios que aprovou a troca, o negócio que foi feito entra a OAS e o Bahia. Aqui na assembleia de sócios ela fala, na ata, dos R$ 18 milhões que seria a construção e avaliação que foi feita, que a auditoria achou de maneira correta, a avaliação do terreno de R$ 14 milhões. Nós expusemos isso para o Conselho, expusemos isso para a assembleia na época. Vocês tiveram acesso a tudo isso na época. O terreno foi avaliado em R$ 14 milhões, o do Fazendão. A construção, a obra, em R$ 18 milhões. Nós teríamos que pagar esses R$ 4 milhões. Os conselheiros sabiam disso, os sócios também, como está aí na ata. Esses R$ 4 milhões serão pagos a OAS e Odebrecht. São os donos da Arena Fonte Nova. Nós tínhamos esse débito com a construtora por conta da construção do CT, a Cidade Tricolor. Um investimento que a gente achava que valia a pena. A gente tinha que fazer esse esforço para ter um dos melhores CTs do Brasil, como está lá, pronto, entregue, bonitinho e precisa ser utilizado. Esses R$ 4 milhões, evidentemente, o Bahia tem dificuldade para pagar. Até se fosse R$ 1 milhão, R$ 500 mil, o Bahia teria dificuldade. A OAS, em determinado momento, nos propôs que, como ela também é sócia da Fonte Nova junto com a Odebrecht, que ela se acertasse internamente com a Arena Fonte Nova, e recebesse esse recurso direto da Arena Fonte Nova, dentro do recurso que o Bahia tem a receber do contrato que temos com a Fonte Nova. Foi isso o que foi feito, sem problema nenhum, nós assinamos. Essa parte da auditoria ela está absolutamente correta. O valor não era mais de R$ 4 milhões. Acho que o valor está um pouco mais de R$ 4 milhões porque o índice de correção... Todo mundo aqui já deve ter comprado apartamento. Depois que passa um tempo, corrige, etc e tal. Sem problema nenhum, foi dessa forma que foi feita. O restante, essa outra parte aí, não sei como a auditoria achou isso. O contrato está lá dentro do clube, assinado pela OAS, pelo Bahia, com as atas assinadas, da assembleia, do Conselho. Aí, quem precisa responder da publicidade é quem está lá. Existem transcons envolvidos na negociação? O que pode haver é o transcon utilizado, mas eu preciso também pegar esses contratos... Pode ser que haja alguma coisa de transcon no terreno quando o Bahia recebesse o transcon. Isso é preciso que se pegue o contrato que está lá. É só pegar e dar publicidade. O que está lá foi assinado, acordado, entre o Bahia, os sócios, o Conselho Deliberativo, etc. Especificamente quanto aos R$ 18 milhões e R$ 14 milhões, eu tenho a ata que está certo, sem nenhum tipo de problema. Corrigiu pelo INCC para R$ 4,9 milhões e a OAS vai receber pela própria Arena no acordo que eles fizeram lá, e que o Bahia deu o aval. Não é um negócio que o Bahia sai perdendo? De forma nenhuma. Vocês viram o CT como está sendo feito. Aliás, que está sendo feito não, o CT está entregue, pronto. Onde o Bahia está ganhando? Um CT pronto daquele, onde é que o Bahia ta ganhando? A questão, no meu ponto de vista, desde o primeiro momento, nunca foi financeira. Pelo contrário, é estrutural, o futuro do clube. Vou dar uma de repórter e fazer a pergunta: se o Bahia não tivesse CT, e em determinado tempo lá atrás não teve, não ia ter nada pra trocar. O Bahia teve que tirar do bolso e construir um CT. Você acha que em determinado momento jogou o dinheiro fora? O mercado diz que o Fazendão vale R$ 14 milhões e o terreno da Cidade Tricolor vale R$ 8 milhões? Vale pagar esses R$ 20 milhões do novo CT? Vale até mais. No meu ponto de vida vale até mais. Estamos investindo no futuro do clube. Todos vocês já escreveram e eu já ouvi da torcida de que um clube sem estrutura não vai à frente, de que precisa de estrutura pra poder trabalhar. Quando cheguei no Fazendão, eu canso de dizer isso, não tinha academia, não tinha fisioterapia, não tinha fisiologia, tinha esgoto passando a céu aberto que nós tapamos. Demos dignidade ao CT, uma sala de imprensa para vocês trabalharem. Se o Bahia não tivesse o CT, não tivesse investido no Fazendão eu, como qualquer outro dirigente, estava sendo criticado porque o Bahia não tinha estrutura, não tinha campo pra treinar, os jogadores iam reclamar, etc e tal. No meu ponto de vista vale a pena e é uma questão subjetiva. Você pode achar que não vale, não tem problema nenhum. No CT, temos tudo que temos no Fazendão e mais ainda. Quatro campos prontos. No Fazendão vocês sabem que temos praticamente um que, aliás, fui eu que construí, pois quando cheguei lá não tinha. Nós tínhamos aquele campo meia boca. No CT novo temos quatro campos. Cada um daqueles custou quase R$ 1 milhão. Você fez o campo número 2 no Fazendão, mas não deu manutenção e está horrível. É verdade, mas assim... É verdade o que você está dizendo, mas comparando um com o outro, estão lá os quatro. Lá tem banheiras, equipamento isocinético, salas para equipamentos, hotelaria, tudo o que não tem no Fazendão. No meu ponto de vista, vale a pena sem dúvida nenhuma. Só espero que as pessoas que estão à frente do clube hoje não tenham uma postura raivosa, não tenham uma postura que deponha contra o clube e queira desmerecer um equipamento que está pronto para ser utilizado. O Bahia precisa mudar para lá, porque isso vai ser bom pro clube. Não importa se fui eu que fiz, se fui eu que não fiz. A lista de funcionários revelou que duas irmãs suas trabalharam no clube. O ex-vice-presidente jurídico do clube, Ademir Ismerim, disse que não conhecia uma delas. O que você tem a dizer sobre isso? Existem no departamento jurídico duas irmãs minhas, que são advogadas do clube. Recebiam a remuneração dentro do que o mercado paga. Uma recebia R$ 15 mil bruto e era coordenadora, que tratava com Ismerim, e outra recebia R$ 8 mil. Aliás, eu me arrependo. Devia ter pago R$ 30 mil. Os interventores recebiam R$ 60 mil, como recebia Rátis para esse trabalho. Estou pagando muito menos do que o mercado pagava. Todas duas trabalhavam no clube, sem nenhum problema. Davam o seu horário de trabalho normal no clube, assim como o advogado Raimundo, o doutor Igor, a doutora Laila, que eram também pessoas com que Ismerim não tinha o contato diário. Tenho absoluta convicção de que Ismerim respondeu aquela pergunta de maneira honesta. Muito mais do que ele ir ao clube, a Luciana, que é a coordenadora do departamento, tratava com ele das coisas. Eventualmente ia no seu escritório, tratava dos assuntos, etc e tal. Todas duas iam lá normalmente, trabalhavam lá. É só perguntar a quem trabalhava no Fazendão. Ismerim também não conhecia o doutor Raimundo, porque fazia um trabalho atrás da carteira. Ismerim, como outros vice-presidentes, tem a sua atividade. Ele não dava suas oito horas diárias de trabalho dentro do Esporte Clube Bahia. É natural, pois a sua atividade estava fora do clube. Haveria uma surpresa se ele trabalhasse todos os dias no clube e falasse que não conhecia a Renata. O departamento jurídico, fisicamente, não fica no Mundo Plaza. Ficava lá no Fazendão. Mais do que uma questão meramente administrativa, você não acha que contratar duas irmãs suas pra trabalhar no clube é uma questão anti-ética? Eu posso aceitar o argumento, mas me prendo no seguinte: quero que me apontem no estatuto onde é que está a ilegalidade disso. Se o estatuto me proibisse de fazer isso, eu não faria. Alguém viu isso no estatuto isso? Alguém achou no estatuto alguma proibição? Não há. Eu aceito o argumento que seja moralmente questionável. Como hoje, por exemplo, estou ouvindo falar, já li, que o cunhado de Rátis vai ser o diretor de negócios do clube. O mesmo questionamento. Aprofundando um pouquinho nessa questão do estatuto, o estatuto vetava vice-presidentes serem remunerados. Também tinha Ruy Accioly sendo presidente do conselho e estando como superintendente. No caso dos vice-presidentes, antes de eles assumirem a vice-presidência, eram diretores do clube. Bom, a esse questionamento, tudo bem, aceito também o questionamento. Não vejo irregularidade para justificar minha saída do clube por causa disso. No caso especifico de Ruy Accioly, quando eu assumi o clube, como outros diretores, ele já era remunerado como diretor-superintendente do clube desde muito tempo atrás, desde quando o Bahia era controlado pelo banco Opportunity. Então, ele tornou-se presidente do conselho do clube depois de já estar exercendo o cargo de superintendente do clube, muito antes da minha administração. Também cai no mesmo caso de Sacha e outros vice-presidentes, já eram, depois acumularam o cargo. No meu ponto de vista, sem problema, mas aceito o questionamento. E a questão de Elizeu Godoy ainda estar na folha de pagamento do Bahia? Ele trabalhou no clube durante muito tempo, ajudava... Mas saiu um tempo depois de Angioni chegar. É, ele saiu do cargo específico de diretor. Ajudava o clube, talvez não desse a carga horária que devesse dar, mas trabalhava no clube, ia lá, nos assessorava, nos reuníamos semanalmente, não vejo nenhuma ilegalidade nisso, mas é uma questão subjetiva. Qual era a função de Cristóvão Contreiras, ex-integrante da organizada Bamor, no Bahia? Também têm outros dois funcionários oriundos da organizada. Esses dois entraram há pouco tempo, três meses. Cristóvão, quando ele nos procurou... Aliás, eu sempre me dei muito bem com Cristóvão, a gente sempre teve uma ótima relação. E quando ele nos procurou e conversamos dessa possibilidade de ele trabalhar no clube, ele já não fazia mais parte dos quadros da Bamor. Foi, inclusive, uma exigência nossa, mas que nem precisava ser feita, já que ele não estava mais pertencente aos quadros da Bamor e a nossa ideia era fazer uma interação com a torcida, coisa que ele realmente fazia. Ele era, lá quando era diretor da Bamor, diretor de relações públicas. Eu não vejo nada de anormal. Mas ele é o profissional adequado pra fazer essa função? Sei que ele fazia essa função. Mas não é estranho contratar uma pessoa que você sabe que talvez não tenha conhecimento para fazer tal função? Mas a minha ideia, a nossa ideia, era alguém que fizesse o link com as torcidas. Pode se fazer todo tipo de crítica à torcida organizada, mas há uma relação. Ele era a pessoa que fazia o relacionamento do Bahia com as torcidas? Isso, exatamente, relacionamento com a torcida. Pode se fazer qualquer tipo de questionamento com relação às torcidas organizadas do Bahia, Vitória, Flamengo, etc. e tal, mas o fato é que elas existem e que elas se relacionam com o clube. Como é que eu, presidente do Bahia, não vou atender um presidente da Bamor ou da Povão ou da Fiel? Como é que Alexi Portela não vai falar com os presidentes das torcidas organizadas do Vitória, como é que o presidente do Flamengo ou do Corinthians não vai falar? Tem que ter uma relação, acho natural e foi nesse sentido que ele foi contratado pra trabalhar com a gente. Havia o interesse político de ter a torcida organizada do lado? E, aí já entrando em outra questão, e auditoria aponta que 60% dos ingressos a mais que o Bahia eram doados para a torcida, certamente as organizadas, apesar de isso não estar especificado. Você acha certo essa relação de dar ingresso à torcida organizada? Qual seu interesse com isso? E, segundo a auditoria, durante os últimos meses o Bahia teve um extra de mais de R$ 1,2 milhão em ingressos comprados e que não poderiam ser vendidos. Ou seja, esse valor foi gasto pelo Bahia para dar ingresso. Para deixar claro, essa prática também aconteceu durante a intervenção. O Rátis também deu ingressos durante o período que ele esteve à frente do clube. O que acontece é o seguinte: o Bahia tem contratos com seus parceiros e, por esses contratos, o Bahia tem obrigação de ceder ingressos de relacionamento. Além disso, o Bahia, evidentemente, faz o seu relacionamento como qualquer empresa precisa fazer. Para isso, a gente pegava ingressos e a Arena depois descontava da gente sem nenhum problema. O que eu imagino que a auditoria pegou de maior foi a quantidade de ingressos no Ba-Vi. Aí não precisa nem explicar. A Bahia inteira queria ir para o Ba-Vi, inauguração da Fonte Nova, o estádio mais bonito do Nordeste, toda uma atenção... Então, evidentemente, que nesse dia específico houve uma demanda maior. Mas, na verdade, o que chamou a atenção não foi o Ba-Vi. Foi o jogo contra a Luverdense, em que mal houve público, e teve 890 ingressos extras. Só da Petrobras são mil ingressos. Mesmo que ela não pegue, está lá no borderô. E o Bahia tem que pagar. Então, assim, está no contrato, está explicado. O que o Bahia pegou a mais, pagou. O que a gente tem que ceder por contrato, a gente cede. O excesso foi no Ba-Vi por ter sido o Ba-Vi, a inauguração, e o que se pegou a mais, o Bahia, pelo contrato com a Arena, pegou, se descontou e foi pra fazer relacionamento como qualquer empresa. Não há nada de anormal. O Bahia fez um contrato de R$ 9 milhões com a Arena e R$ 5 milhões foram pra pagar o CT e R$ 1,2 milhão de ingressos. Tudo descontado na Fonte, vamos dizer. Sobra pouco para o clube investir, não? A análise, com todo respeito, não pode ser tão simplória, o Bahia não tem apenas a receita da Arena Fonte Nova. De qualquer forma, mesmos sendo descontos na fonte, foram descontos ou atividades que o Bahia fez com a consciência de que eram necessários naquele momento pra fazer relacionamento, para conquistar uma coisa no futuro, por força de contrato. Muita gente dá uma conotação que foi feito algo fora do padrão e que se desperdiçou. Um questionamento que se faz é porque o contrato foi tão baixo em relação, por exemplo, ao que o Náutico fez com a Arena Pernambuco, já que as arenas são geridas pelas mesmas empresas. Por que? Você recebeu algum tipo de pressão pra fechar com a Fonte Nova? Você hoje considera o contrato bom? Considero o contrato bom, aliás, excelente. Não recebi nenhum tipo de pressão para assinar o contrato. Pelo contrário, acho que a gente segurou o máximo pra fechar o contrato. E desconheço essa informação que o contrato do Náutico seja melhor que o do Bahia. Não existe isso. O Náutico até onde eu sei recebe ou R$ 350 mil ou R$500 mil por mês pra jogar lá. Há uma diferença entre o Bahia e o Náutico. O Náutico tinha um terreno num local extremamente bem localizado e que esse terreno, até onde eu sei, não vi o contrato, entrou na negociação. É bastante diferente. O Bahia não tem nada, não tem estádio pra jogar e teve que negociar com a Fonte Nova. O Náutico tem onde jogar, tem um terreno extremamente bem valorizado e fazer uma negociação com a arena. Ainda assim, o contrato do Bahia com Arena Fonte Nova junto do contrato do Náutico com a Arena Pernambuco é muito mais vantajoso. Nós, na época, tivemos acesso a isso. Se não me engano, o Náutico recebia R$ 350 mil inicialmente e, com a evolução do contrato, receberia R$ 500 mil. O contrato do Bahia é muito bom, é um ótimo contrato, e mais, é um contrato de apenas cinco anos. Daqui a cinco anos, isso vai permitir uma renegociação desse contrato onde a gente pode, quem estiver à frente do clube, trazer mais direito. E contrato do Bahia é, no meu ponto de vista, tão bom que nós conseguimos garantir uma receita fixa, porque nós não tínhamos nenhuma segurança, como ninguém tinha, do que é que ia acontecer, se o estádio ia ou não ficar cheio. Tanto que a gente conseguiu uma receita fixa e jogou um percentual em cima da média de público se o estádio enchesse. Como era uma experiência nova, nós não sabíamos o que ia acontecer. O pessoal está fazendo público zero porque Schmidt é presidente? Deu cinco mil pessoas no último jogo. Mas esse contrato que o Bahia fez não causou o que a gente está vendo, um estádio vazio? Não, acho que aí não é uma discussão que cabe ao Bahia apenas. Aí é uma questão estrutural, conjuntural. Está acontecendo no Rio de Janeiro, vai acontecer em São Paulo, é uma experiência nova, ninguém sabia como ia ser essa gestão. A gente conseguiu fazer um contrato de cinco anos, o que foi ótimo nesse sentido porque a gente vai conseguir renegociar no futuro. Não é um problema só daqui. Está claro que tem um problema com o preço do ingresso, sem dúvida nenhuma. Tanto que desde antes o público vinha se mostrando receoso ou reticente em ir ao estádio. Deu cinco, seis mil no último jogo? O público foi muito pouco, muito pequeno. Sobre a negociação de jogadores, não foi informado em nenhum momento de sua gestão que havia sido vendido 40% de Talisca. Foi informado. A questão não é informar ou não informar a venda de Talisca. O clube tem o direito de vender os jogadores. Mas Talisca é um jogador com passagem por seleção de base e teve 40% vendido por R$ 400 mil. Queria saber: para quem e por quê um valor tão baixo? Divirjo de vocês no seguinte: foi publicizado sim. Divulgamos isso na época sim. O que aconteceu com Talisca. Eu vou repetir o que já disse lá atrás. Talisca era empresariado por Reginaldo, da Bahia Soccer, um braço da Antoniu’s. Em determinado momento, a empresa de Bobô, Jessé e Sandro... Você reafirma que é a empresa de Bobô?Com certeza absoluta. Ele foi no Bahia para tratar de negociação de atleta. Você vai tratar por uma empresa que não é sua? Ele já tinha tirado Vander do Bahia, foi e assediou o Talisca. Nós tínhamos renovado o contrato dele com a Bahia Soccer. Ele assediou o Talisca para sair da Bahia Soccer e ir trabalhar com eles. Nesse momento, para que o Bahia não perdesse o atleta, porque o atleta sairia do clube, nós tivemos que fazer uma operação de emergência para comprar novamente os direitos econômicos e federativos do Talisca. Chamamos novamente, eu chamei pessoalmente, a negociação foi feita diretamente pela presidência. O Reginaldo foi lá no Mundo Plaza e eu disse: 'nós vamos perder o atleta. O atleta está saindo do clube. Ele não quer mais que você o represente. Ele está indo ser representado pela empresa de Jessé, Sandro e Bobô'. Ele respondeu: 'Marcelinho, eu sei disso. Já tentei persuadir o atleta. Ele não quer ficar e nós vamos perder'. Bom, para não perder a gente teria que comprar. Eles (Bobô, Sandro e Jessé) estavam pedindo R$ 2 milhões, depois R$ 1,5 milhão, para renovar o contrato senão tiraria o atleta do Bahia... Você não tinha renovado com ele?A gente tinha renovado um tempo antes. Não lembro quando a gente tinha renovado. (Neste momento, Jorge Copello, então diretor administrativo, pede a palavra e esclarece: 'Na verdade é o seguinte: a gente tinha renovado, mas não foi para o papel. Tinha acertado as bases salariais com o pessoal'). Foi isso aí. Pediram R$ 2 milhões, depois R$ 1,5 milhão, uma negociação normal. Chegou-se ao número de R$ 800 mil. Era o número final. Dali não abaixava mais e não aumentava mais. O que a gente precisava fazer? O Bahia não tem R$ 800 mil para dar. Se não desse, ia perder o Bahia, ia perder a Bahia Soccer, ia perder todo mundo. O que nós fizemos? Bom, qual o esforço que o Bahia pode fazer? R$ 400 mil é o máximo que o Bahia tem para pagar ao atleta. E os outros R$ 400 mil? Não tem. O que é que o Bahia fez? O que é que eu fiz? Prestígio pessoal. Liguei para Carlos Leite, que é um empresário de futebol e disse: 'Carlos Leite, tem um jogador aqui no Bahia chamado Talisca. É um jogador com passagem pela seleção. Você se interessa em ajudar o Bahia para renovar o contrato?'. É corriqueiro no futebol brasileiro isso. Ele disse que se interessava. Poderia dizer que não e eu iria buscar outra pessoa. O Bahia comprou 40% do atleta com R$ 400 mil e ele comprou os outros 40%. Os outros 20% ficaram com Sandro, Jessé e Bobô, que não tinham nada e ficaram com esse percentual de graça na renovação, de bônus. Nós divulgamos isso, que renovamos o contrato. Você não disse especificamente como foi, apenas que Carlos Leite foi importante para permanência de Talisca. Porque, evidentemente, talvez até não faça isso no futuro, mas os contratos são feitos entre pessoas de empresas privadas, não tem que ficar se discutindo isso. Aliás, tem até uma coisa que eu vejo que há dois pesos e duas medidas da imprensa em geral. Quando o Bahia vende um jogador, quando o Bahia diz que vai vender um jogador, o Bahia tem que publicar o extrato da conta, detalhar a conta. Quando o nosso rival vende um atleta, não vejo ninguém perguntar quanto foi, quanto entrou de dinheiro, para onde foi o dinheiro, como foi feito. Nenhuma nota. Em relação à venda de Filipe, a empresa Almeida e Dale tinha direito a 15%, segundo a auditoria, mas recebeu 30% sem ter havido nenhuma alteração no contrato. Quem tinha 30% desse atleta era a Virtus, de uma pessoa chamada Marcos. Ele vendeu os 15% dele para a empresa Almeida e Dale. O pagamento foi feito à empresa Almeida e Dale, mas em acordo com a Virtus. Esse contrato entre a Virtus e a Almeida e Dale deve estar entre eles. Muito tem se falado do contrato do Bahia com a Nike, que na verdade seria com a Netshoes. A demora na entrega de novos uniformes, porém, seria culpa do clube, que não apresentava projeto a empresa e esperava os projetos que vinham da Nike. Nunca existiu isso, o que existe é o seguinte. O contrato foi assinado em novembro ou outubro de 2011, a fábrica que fabrica as camisas entrava em férias coletiva em dezembro, e no primeiro ano de contrato não existia nenhuma possibilidade de a gente sentar para discutir como ia ser o uniforme. Com o Bahia e com os outros clubes todos. Então era: "ó, temos essas opções aqui e vamos fazer porque caso não, não vai receber o uniforme do ano que vem". Foi feito assim. O Bahia foi até criticado porque o uniforme não era muito bom, não sei o que. Eu achava bom, mas foi a correria de se fechar o contrato com a Nike. No segundo ano, já é muito melhor a textura e tal. Houve sim um trabalho para se chegar ao uniforme. Então, essa informação não procede. A gente discutia e estava discutindo ano que vem. Mas os jogadores seguem treinando com camisas antigas... Lomba chegou a usar uniforme velho em algumas partidas. Neste caso específico, eu acho que a gente poderia ter dito porque nós sabíamos que a camisa de goleiro não chegaria, pois a Nike nos avisou: 'vocês, Coritiba, Santos, a camisa do goleiro não ficou pronta'. A gente poderia ter antecipado, mas o fato é que o contrato com a Nike é muito bom. O melhor contrato de fornecimento de material esportivo da história do clube. O Bahia é campeão de venda de camisa. O problema é que parece que o Bahia não tem prestígio junto a marca. Não dá para deixar de reconhecer também o seguinte: é uma relação diferente. A Nike é uma empresa mundial. É diferente com a Lotto. Ela se sente a Nike. Isso não é com o Bahia. É um preço que se paga. Você falou que podia fazer algumas coisas diferentes do que você fez. Após esse período todo, qual avaliação que você faz? De tudo que veio a público da sua gestão, o que você faria diferente? No caso de venda de jogador, por exemplo, embora tivesse e tenha, eu acho justo que tenha, cláusulas de confidencialidade, publicar tudo isso. Passar por cima das cláusulas de confidencialidade e mostrar para a torcida. Fui ficar preso ao que os contratos diziam e terminamos gerando naturais dúvidas e questionamentos em relação à venda de atletas. No mais, eu acho que tudo o que aconteceu foi natural. Natural, digo a pressão da torcida. É natural pela grandeza do clube, pelo desempenho em campo. Vai acontecer sempre. Comigo, com outro presidente qualquer. É diferente, por exemplo, de nosso rival. O Bahia é pressão, tem que ganhar sempre. Em termos de torcida isso vai sempre acontecer. Uma coisa que poderia ter feito diferente era isso: publicizar essas vendas, de maneira mais clara e não me prendendo ao que o jurídico dizia sobre as cláusulas de confidencialidade. Leia mais Clique aqui e leia a primeira parte da entrevista Clique aqui e leia a segunda parte da entrevista
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