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É prata!

Olimpíadas: por que o sul da Bahia se destaca tanto na canoagem?

Quatro sensações da canoagem sul baiana disputam as Olimpíadas; entenda por que atletas fazem tanto sucesso na canoagem

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Brenda Santos

09/08/2024 às 9:57 - há XX semanas
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A Bahia sempre foi um território repleto de talentos. No campo do esporte, já revelou grandes atletas de todas as modalidades, como Acelino 'Popó' Freitas, referência no boxe, Israel Machado, grande jogador de basquete, e Vampeta, sucesso do futebol.

Atualmente, não dá para falar sobre esporte no estado sem falar sobre canoagem. Principalmente no sul do estado, o esporte está dando o que falar, com vários nomes se destacando e sendo considerados grandes revelações da canoagem de velocidade.

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					Olimpíadas: por que o sul da Bahia se destaca tanto na canoagem?
Olimpíadas: por que o sul da Bahia se destaca tanto na canoagem?. Foto: Sudesb/ Divulgação

Nos Jogos Olímpicos de 2024 que estão acontecendo em Paris, quatro das sensações sul baianas do esporte representam o Brasil na canoagem: Jacky Godmann, Mateus Nunes e Valdenice Conceição, de Itacaré, e o veterano olímpico Isaquias Queiroz, de Ubaitaba. O ubaitabense conquistou sua quinta medalha em Olimpíadas nesta sexta-feira (9). Após uma derrota na prova de quinta-feira (8), o canoísta baiano deu a volta por cima e garantiu a prata na final da canoagem velocidade C1 1000m.


				
					Olimpíadas: por que o sul da Bahia se destaca tanto na canoagem?
Baiano Isaquias Queiroz é prata e fica atrás só de Rebeca Andrade. Foto: Alexandre Loureiro/COB

Além disso, os resultados de competições da modalidade, de modo geral, vêm destacando o sucesso de canoagem local. Em julho deste ano, na 4ª etapa do Campeonato Baiano de Canoagem Velocidade, realizado em Ubaitaba, os atletas do sul da Bahia tiveram um desempenho impressionante, ocupando quase todas as posições do top10.

A Associação de Canoagem de Itacaré ficou em 2º lugar. Já os atletas de Ubatã, da Associação Ubatense Esportiva de Canoagem, levaram o 3º lugar. A Associação de Camamu e Remo ficou na 4ª posição. Os canoístas de Maraú, da Associação Marauense de Canoagem, levaram o 5º lugar, e os de Taboquinhas, da Associação De Canoagem de Taboquinhas, ficaram com o 6º lugar.


				
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Campeonato Baiano de Canoagem Velocidade e Paracanoagem aconteceu em Ubaitaba, no último domingo (21). Foto: Redes Sociais/ Divulgação

Já na 1ª fase da Copa Brasil de Canoagem de Velocidade, uma disputa entre as 22 associações de todo o país realizada em março deste ano, os atletas sul baianos foram maioria no pódio. A Associação Cacaueira de Canoagem de Ubaitaba ficou em 2º lugar, e a Associação de Canoagem de Itacaré, na 3ª colocação.

Atletas sul baianos fazem história na canoagem


				
					Olimpíadas: por que o sul da Bahia se destaca tanto na canoagem?
Baiano Isaquias Queiroz é prata e fica atrás só de Rebeca Andrade. Foto: Time Brasil/Reprodução/Redes sociais

Além disso, atletas do sul da Bahia tem realizados feitos inéditos no esporte. Valdenice Conceição, por exemplo, é a primeira mulher brasileira a disputar uma prova de canoagem de velocidade olímpica. Já Mateus Nunes fez história ao se tornar o atleta mais jovem a representar o Brasil em uma Olimpíada. E em 2016, nos Jogos Olímpicos realizados no Rio de Janeiro, Isaquias Queiroz se tornou o primeiro brasileiro a conquistas três medalhas olímpicas em apena uma edição do campeonato.


				
					Olimpíadas: por que o sul da Bahia se destaca tanto na canoagem?
O itacareense Mateus Nunes é o atleta mais jovem a representar o Brasil em uma Olimpíada. ​Foto: Divulgação

Mas por que os atletas sul baianos, especificamente, demonstram tanto potencial na canoagem? O iBahia conversou com responsáveis por instituições esportivas do sul da Bahia para entender mais a fundo sobre esse fenômeno.

Destaque nas Olimpíadas: entenda por que atletas sul baianos fazem tanto sucesso

A canoagem tem uma longa tradição no sul da Bahia, especialmente na cidade de Ubaitaba, que é frequentemente chamada de “Cidade das Canoas”. Com uma população de cerca de 17 mil habitantes, Ubaitaba tem um nome que remete diretamente à canoagem. O termo é de origem indígena e une “ubá” (canoa pequena), “y” (rio) e “taba” (aldeia). No passado, as canoas eram fundamentais para o transporte e o comércio entre Ubaitaba e cidades vizinhas, como Aurelino Leal e Itacaré.

Na década de 90, a canoagem evoluiu de um meio essencial de sobrevivência para um esporte competitivo. Jefferson Lacerda, morador da cidade, foi fundamental nesse processo de transformação, promovendo a canoagem em Ubaitaba e em outras localidades da região. Lacerda também integrou a seleção brasileira e participou das Olimpíadas de Barcelona em 1992.


				
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Ubaitaba é conhecida como Cidade das Canoas. Foto: Prefeitura de Ubaitaba/ Divulgação

Camila Lima, presidente da Federação Baiana de Canoagem, explica bem esse contexto. “Aqui na região sul, em especial Ubaitaba, Ubatã e Itacaré, nós temos uma tradição, não sei se você já ouviu falar, da canoa nativa. A canoa nativa é uma canoa de madeira, usada no passado e hoje também. Aqui em Ubaitaba, Ubatã e Itacaré, muitos usam; em Ubaitaba em especial, para a nossa travessia. O que separa Ubaitaba e Aurelino Leal é o Rio de Contas, os pescadores pescam nos rios da pesca, e os areeiros que retiram a areia do rio, através da canoa. Então, a canoa é um movimento similar à nossa canoa olímpica. A gente já nasce com aquilo ali, a gente já nasce vivenciando, vivenciando uma canoa atravessando um rio, vivenciando um canoeiro pegando uma areia, vivenciando um canoeiro fazendo uma pescaria dele”, afirma a presidente.

Além disso, a presença de centros esportivos e de projetos sociais fez a diferença na vida dos atletas sul baianos. “Após a conquista inédita do Isaquias, lá em 2016, o Governo construiu três centros de excelências: um em Ubaitaba, um em Itacaré e outro em Ubatã. E, juntos com os núcleos, criamos um projeto, uma escolinha, como piloto, na época, porque não existia essa modalidade dentro dos projetos que o Estado abrangia [...]. A princípio, nosso projeto se chamava Remando no Rio de Contas. A gente atendia um público de 270 crianças, de 7 a 18 anos de idade, preferencialmente meninos que estudam na rede pública e que vivem em vulnerabilidade social”, conta Camila.

Mateus Nunes, o jovem que fez história no Campeonato Mundial de Canoagem Velocidade Júnior ao se tornar o único canoísta do mundo a conquistar três medalhas de ouro na competição, é oriundo deste projeto social. “O Mateus Nunes é fruto do nosso projeto, fruto de políticas públicas. Ele foi revelado em 2017 lá pelo Projeto Águas Baianas, que no passado era o Remando no Rio de Contas. O parceiro dele, que ganhou com ele o Mundial Júnior, Lucas Espírito, foi revelado também no projeto”, relata a presidente.


				
					Olimpíadas: por que o sul da Bahia se destaca tanto na canoagem?
Mateus Nunes começou o esporte no projeto social Remando no Rio de Contas. Foto: Divulgação/Canoagem Brasileira

Ela fala também sobre o avanço desse esporte na região sul baiana e a sensação de ver o movimento da canoagem crescendo. “O avanço da canoagem na Bahia foi enorme. Atualmente, nós saímos de quatro núcleos de canoagem para dez entidades. Sendo que, das dez entidades, nós temos seis núcleos construídos, três de excelências, que estão nas cidades principais. E em Camamu, Itajuípe e Maraú, estão os núcleos de pequeno porte, mas que atendem suficientemente a nossa demanda. E o nosso trabalho vem cada vez mais mostrando o quanto a Bahia é forte na modalidade.”

“É muito gratificante a gente poder atuar dentro dessa área, uma área que vem sendo fortalecida em algumas regiões aqui da Bahia, mas que o foco principal é a região sul, por conta que nasceu aqui na região sul e o berço é aqui na região sul”, continua Camila.

A representante ainda destaca a importância do incentivo ao esporte, que certamente fez a diferença na vida dos atletas sul baianos. “Para mim, o esporte, educação e cultura são ferramentas de transformação para a vida de um jovem. Então, o atleta pode não estar ligado já dentro do esporte, mas ele pode estar ligado à educação, pode estar ligado à cultura. Então, tudo isso transforma nossas vidas, transforma a vida deles. Esporte é vida, esporte é saúde, e o principal: inclusão social e uma ferramenta de transformação na vida de cada um de nós”, opina.


				
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Jogos Olímpicos: entenda por quê o sul da Bahia se destaca tanto. Foto: Prefeitura de Itacaré/ Divulgação

Luciana Costa, presidente da Associação Cacaueira de Canoagem e a primeira mulher na Canoa Feminina a conquistar uma medalha em um campeonato mundial de canoagem, no C1 200m, também fala sobre os talentos da região. “O sul da Bahia é um grande seleiro de atletas, em especial na canoagem velocidade, por morarmos próximo às margens do Rio e termos a facilidade de utilizarmos, na maioria das vezes, a canoa nativa como um dos meios de transporte. Ou o atleta já remou ou já fez a travessia [...] Hoje, posso dizer que só precisavam de uma oportunidade para esses talentos serem revelados”, afirma.

Ela também pontua sobre a dificuldade de obter patrocínios, algo fundamental no campo esportivo. “Sabemos o quanto é difícil ter patrocínios. Mesmo com tantos resultados que a canoagem vem trazendo, os patrocínios privados são difíceis de aparecer [...]. O combustível do atleta é a competição, quanto mais ele participa de eventos, mais motivado ele estará para chegar a uma excelente performance”, relata Luciana.

Já Rodrigo dos Santos, presidente da Associação de Canoagem de Itacaré, comenta sobre o cenário da canoagem na cidade. “O esporte da canoagem aqui em Itacaré, no sul da nossa Bahia, é magnífico, é deslumbrante. Cada vez mais tem revelado grandes atletas campeões para o mundo, divulgando a nossa região, o nosso estado, para o mundo inteiro [...]. É um trabalho que resgata jovens das ruas, das criminalidades, e também não só jovens vulneráveis, jovens que querem um futuro melhor, que querem encontrar um caminho bom pra seguir em frente”, diz o presidente.


				
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Isaías Queiroz é uma das sensações da canoagem sul baiana. Foto: Reprodução/ Redes sociais

Sobre os Jogos Olímpicos 2024, Rodrigo comenta: “Tivemos três atletas na Olimpíada. Tudo isso é fruto de um trabalho que vem desde a base, com um compromisso sério. Um compromisso de visão dos professores, tentando enxergar o futuro não só para o esporte, mas sim para a vida deles. Tentando transformar a vida de cada cidadão para que tenha um destino correto a seguir”, afirma.

Por fim, o presidente fala sobre a importância do esporte para o futuro do jovem e da sociedade como um todo. “O esporte da canoagem traz isso, uma visão de futuro melhor [...]. O jovem de hoje é o futuro de amanhã, então, se a gente não fazer a transformação de um bom cidadão, a gente não tem melhorias em uma cidade, a gente não tem melhorias em um país, para um mundo melhor.”

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