O que você faria para realizar o seu sonho? Com exceção do futebol e algumas outras modalidades olímpicas, a busca por patrocínio no Brasil é um trabalho árduo - principalmente para quem está começando. Foi o caso de Gabriel Bona, de 16 anos, que precisou adotar métodos alternativos para disputar o Mundial de Jiu-Jitsu, realizado na Califórnia, em maio deste ano. A solução foi vender biscoito nas ruas para conseguir viajar. Resultado: foi campeão juvenil na categoria peso pesado.
- A ideia de vender biscoitos surgiu após eu perceber que não poderia viajar para as competições internacionais sem dinheiro. Não tinha outra opção, meus pais não tem condições de bancar. Eles também não permitiram que eu parasse de estudar para trabalhar. Então, foi o jeito - conta ao EXTRA.
Gabriel mora no bairro do Camorim, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Filho de pais separados, tem a guarda compartilhada entre a mãe Karina e o pai Waldemar. Ainda cursando o 1° ano do ensino médio, acorda todo dia às 6h e vê a sua rotina ser dividida entre a venda de biscoito, treinos na academia e os estudos. A dificuldade para conciliar todas as tarefas é citada pelo adolescente.
- É difícil conciliar, descanso muito pouco, não tenho tempo para me divertir com os meus amigos, mas sei que são sacrifícios necessários pra realização de um objetivo. Meus pais me apoiam, mas ficam chateados pois eu tenho pouquíssimo tempo com eles. Fico fora de casa o dia inteiro e eles trabalham muito, às vezes nem nos encontramos durante o dia - revela Gabriel.
O Jiu-Jitsu entrou na vida de Gabriel aos oito anos. Incentivado por Rogério Poggio, líder da Infight, no Rio de Janeiro, amigo pessoal da família e faixa preta na modalidade, virou bolsista na academia. Gabriel compra os seus biscoitos no bairro da Taquara, também na Zona Oeste, por cerca de R$ 15,00 e os revende por R$ 30,00. Ao todo, perde 14 horas na semana indo às ruas em busca de dinheiro. Para viajar à Califórnia pela disputa do Mundial, teve que arrecadar cerca de R$ 6 mil. Ele conta como foi o planejamento para obter recursos.
- Fiz cálculos de quanto eu teria que arrecadar nas vendas para poder viajar, incluindo os gastos com passagem, alimentação e estadia. Meus pais me ajudam muito com esse controle - conta.
Atualmente, o adolescente soma os títulos de campeão mundial, bicampeão sul-americano e campeão brasileiro da categoria. O próximo passo são os torneios em Nova Iorque, em setembro, onde lutará pelo Pan-Americano Nogi. Até lá, Gabriel segue buscando patrocínios e já imagina um gasto de R$ 10 mil. Caso ninguém apareça, a alternativa será vender biscoitos novamente.
Gabriel nasceu nos Estados Unidos. Lá, seus pais viajaram para tentar ganhar a vida. O pai, Waldemar, arriscou-se como assistente de pedreiro e comerciante. A mãe, Karina, seguiu a vida de faxineira. O filho do casal nasceu com pouco peso e sofreu uma parada respiratória com poucas dias após o nascimento. Na época, os médicos afirmaram que a criança teria dificuldade no desenvolvimento.
Para se alimentar, era preciso usar uma seringa. Junto à sua família, Gabriel voltou para o Brasil com cinco anos de idade e foi incentivado pelo padrinho, Sérgio Picuruta, faixa preta de jiu-jitsu, a praticar a modalidade. Atualmente, é acompanhado pela nutricionista Paula Snajder, que o auxilia sem custos. Como dizem seus pais, Gabriel lutou para viver e hoje vive pra lutar.
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Redação iBahia
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