O jogo entre Flamengo e Bahia, pela 26ª rodada do Campeonato Brasileiro, poderia ser lembrado pelas duas viradas, pelos golaços dos dois lados, pela expulsão de Gabigol ou pelo fato de ser a quinta derrota consecutiva do tricolor baiano.
Mas tudo isso ficou ofuscado por uma acusação de racismo. Gerson, volante do Flamengo, acusou o meia atacante do Bahia Índio Ramirez de racismo. De acordo com o rubro-negro, o colombiano teria dito “cala a boca, negro”.
Esse, infelizmente, não é um caso isolado. No Brasil, de acordo com o relatório do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, divulgado no dia 20 de novembro de 2020, aponta um crescimento de mais de 52% de casos em relação ao ano de 2018. Ao todo, foram feitas 67 denúncias no Brasil e 15 no exterior.
No entanto, dentro desse universo, apenas 10% das ocorrências receberam alguma punição. Diante desse cenário, vamos relembrar 10 casos de racismo no futebol, envolvendo jogadores, torcedores, treinadores e árbitros, e o que foi feito em cada ocasião. Confira:
Neymar acusa zagueiro do Olympique de Marselha
Em setembro deste ano, na partida entre Paris Saint-Germain e Olympique de Marselha, Neymar acusou o zagueiro Álvaro Gonzalez de o chamar de macaco. Por conta do insulto, o atacante brasileiro discutiu com o jogador adversário e acabou agredindo-o.
Neymar foi expulso e suspenso por dois jogos. Já Álvaro Gonzalez chegou a ser investigado pela comissão disciplinar da Liga Profissional de Futebol da França (LFP), mas acabou sendo absolvido por “falta de evidência”.
Jogo suspenso
Esse é um dos casos mais emblemáticos que envolve injúria racial porque foi além da denúncia. No dia 8 de dezembro de 2020, em partida válida pela Liga dos Campeões, o quarto árbitro da partida entre Paris Saint-Germain e Basaksehir foi acusado de racismo.
O romeno Sebastian Colţescu foi acusado pelo jogador do Basaksehir Demba Ba. "Você nunca diz 'aquele cara branco', você diz 'aquele cara'. Me escute, por que quando você menciona um cara negro você diz 'aquele cara negro ali'?", questionou o jogador para o árbitro.
Com a acusação, os jogadores dos dois times decidiram abandonar o campo e o jogo foi suspenso pela Uefa. Em comunicado oficial, a entidade que comanda o futebol europeu afirmou que “o caso seria investigado”.
Menino em Uberlândia
O racismo no futebol não está limitado ao esporte profissional. Nas categorias de base e envolvendo crianças também pode acontecer.
Na última semana, o vídeo de um menino chorando e relatando um caso de racismo viralizou nas redes sociais. Jogador do Uberlândia Academy, o menino chora ao falar que o técnico do time adversário, Lázaro Caiana, se referiu a ele como “preto” durante o jogo. “Ele falava assim toda hora: ‘Fecha o preto, fecha o preto, fecha o preto aí’. Eu guardei para falar no final. Ele falou um monte de vezes”, disse.
O Uberlândia Academy afirmou que levou o caso à delegacia, onde foi registrado um boletim de ocorrência. “De antemão manifestamos que iremos até às últimas instâncias em defesa de nosso aluno e contra mais um ato deplorável que mancha a imagem do futebol”, afirmou a equipe.
Esse é o relato do garoto Luiz Eduardo, jogador do sub-11 do Uberlândia Academy, que sofreu racismo durante jogo contra o Set Esportes, pela Caldas Cup. Ele aguentou insultos durante toda a partida e foi às lágrimas após o jogo. Um absurdo. Crime cometido contra uma criança. pic.twitter.com/Hgi68YSAFA
— Josias Pereira (@josiaspereira) December 18, 2020
Acusação no Ba-Vi
Após o jogo, o atleta se manifestou e afirmou que não iria denunciar Trellez. “Eu queria que eu, meus filhos, e todos os outros negros fôssemos julgados pela personalidade, e não pela cor da pele. Não vou dar queixa, não. Eu sou maior que isso aí. Pra mim, a maior punição vem de Deus”, disse à época.
O Vitória, através do seu então presidente, Agenor Gordilho, afirmou que a situação provavelmente era um mal-entendido. “Estamos surpresos. Não estou sabendo de nada ainda. Quero falar com o jogador para saber o que aconteceu, mas vamos contornar tudo. Vamos dar cobertura ao atleta, mas tenho certeza que foi um grande mal-entendido. Tudo se contorna"
Taison e Dentinho
Em 2019, os brasileiros Taison e Dentinho foram vítimas de ofensas racistas vindas da torcida do Dínamo de Kiev durante o clássico contra o Shakhtar Donestk, time que os dois defendiam.
Os xingamentos foram direcionados aos brasileiros, e Taison se revoltou em campo. Ele respondeu mostrando o dedo do meio, chutou a bola para longe e acabou expulso por isso. O atacante deixou o campo chorando e Dentinho, seu companheiro de time, também demonstrou revolta com a situação.
A hipótese de encerrar o jogo chegou a ser cogitada, mas a partida foi reiniciada minutos depois.
Aranha sofre com gremistas
O goleiro Aranha sentiu o racismo vindo de um grupo de torcedores do Grêmio em 2014. Na ocasião, o atleta defendia o Santos e foi chamado de macaco por gremistas em jogo válido pelas oitavas de final da competição.
Na ocasião, a TV flagrou uma torcedora, Patrícia Moreira, proferindo os xingamentos. Patrícia, assim como mais três gremistas, foram condenados a três anos de prisão, mas a pena foi revertida e eles passaram a ter que se apresentar na delegacia uma hora antes de cada jogo do Grêmio durante seis meses.
Além dela, o próprio Grêmio foi punido. Após o episódio, a equipe gaúcha foi excluída da Copa do Brasil daquele ano, após julgamento do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).
Daniel Alves no Barcelona
O lateral Daniel Alves foi alvo de racismo numa partida entre Barcelona e Villarreal em 2014. Um torcedor lançou uma banana no gramado para ofendê-lo, mas o jogador respondeu de maneira inusitada e comeu a fruta.
Na ocasião, Daniel disse que sofria com aquele tipo de comportamento na Espanha há 11 anos, tempo que estava no país. “Infelizmente é uma guerra perdida até que se tomem medidas mais drásticas”, disse à época.
Tinga na Libertadores
Também em 2014, durante jogo do Cruzeiro no Peru, contra o Real Garcilaso, o volante brasileiro foi hostilizado por uma parte do estádio, que reproduzia chiados de macacos sempre que ele pegava na bola.
Ao sair de campo, o jogador disse que trocaria todos os seus títulos por um mundo com igualdade entre raças.
Desábato X Grafite
Há 15 anos, um caso de racismo terminou em prisão ainda dentro do estádio. O argentino Desábato, do Quilmes, chamou o então jogador do São Paulo Grafite de “negro de merda”. A situação causou uma briga e Grafite acabou sendo expulso.
Ao fim do jogo, antes de chegar ao túnel de acesso do vestiário, Desábato recebeu voz de prisão e deixou o estádio no carro da Polícia Civil e só pôde voltar à Argentina 43 horas depois, após passar duas noites na cadeia e pagar fiança de R$ 10 mil.
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Redação iBahia
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