A precarização das relações de trabalho entre jogadores de futebol e clubes portugueses guarda relação com a crise econômica, pela qual passam Portugal e outros países da Europa. A austeridade forçada para conter o histórico déficit orçamentário do Estado e a dívida pública, que equivale a mais de 130% do Produto Interno Bruto (PIB), respingou no mundo da bola. Os clubes perderam apoio das prefeituras, de patrocinadores (afetados com a queda de consumo) e até de torcedores que vão menos ao estádio. A média de público da primeira rodada da primeira liga do campeonato nacional é a menor em cinco temporadas (8.032 espectadores). De acordo com especialistas, os problemas dos jogadores são anteriores ao programa de ajuda financeira e ajustamento econômico acertado em 2011 com o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia (CE) - a Troika. “Não é uma situação de agora”, disse o repórter Nuno Santos, do tradicional jornal esportivo português A Bola. Segundo ele, a crise expôs mais a “grande incapacidade dos clubes de gerenciar suas receitas”. Para Nuno Santos, a crise torna as condições dos jogadores das divisões de base “pior ainda” porque “afeta a força negocial dos clubes, a capacidade para contratar e as condições de segurança dos atletas”. Em resumo, “os clubes não conseguem cumprir as obrigações assumidas com os jogadores”. Isso explica, em parte, salários em atraso, não pagamento de transferências e contratação de jogadores profissionais como amadores – problemas mencionados pelos entrevistados. Manuel Resendes, diretor do site 365, especializado em futebol internacional, salienta que nesse período de crise e austeridade os clubes viram minguar drasticamente (por força de lei) o patrocínio dos governos locais aos times distritais e da terceira divisão. “Havia câmara que dava fortunas e pagava 90% do orçamento do clube”, recorda-se. O agente de jogadores de futebol Ramiro Sobral, cadastrado na Federação de Futebol de Portugal (FPF), confirma que “havia clubes que eram suportados pelas autarquias. Os clubes distritais viviam do que a câmara podia dar”, disse, ao lembrar que “o apoio ao futebol era uma forma de ascender politicamente”. De acordo com ele, “depois da crise, o orçamento dos clubes baixou várias vezes. Há alguns anos um clube, equivalente à Série C no Brasil, recebia 400 mil euros e hoje recebe 4 mil euros. Estamos falando de uma realidade totalmente diferente”. Antes mesmo da Troika chegar a Portugal, a Assembleia da República (Congresso Nacional) estabeleceu em lei limites para os gastos municipais com clubes e reduziu a margem de manobra das prefeituras para usar a verba de “cultura e desporto” para financiar clubes que a partir de então tiveram que passar a viver das cotas dos sócios e de patrocínios privados. Nos clubes maiores, das primeiras divisões e com mais torcedores, a situação é melhor porque também são remunerados pelas emissoras de televisão. “Quando as câmaras não têm dinheiro, as empresas patrocinadoras não têm dinheiro, como os clubes vão sobreviver? Com direitos de transmissão? Mas a TV só transmite primeira e a segunda ligas”, pondera o agente Joaquim Ribeiro, também licenciado pela FPF.
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