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Hoje Sidão afirma que aprendeu a lidar com a altura |
Quase dez anos depois, ele volta à quadra da Asbac, na Pituba, onde deu os primeiros passos no esporte que lhe daria sucesso muito longe da Bahia. Primeiro tenta se ajeitar na cadeira que quase não o cabe e, depois, com a voz rouca de quem se impõe só de ser visto, ele começa a contar as histórias que se misturam entre Salvador e a Espanha. Como o próprio diz, "o público baiano não conhece seus representantes em muitos esportes". Do alto de seus expressivos 2,17 metros e uma carreira bem sucedida no basquete espanhol, Sidnei de Santana Lima, o Sidão, 27 anos, ainda quer mostrar muito no esporte e, quem sabe, realizar o sonho alimentado desde sempre: jogar na NBA, a famosa liga americana.Do bairro de Mirantes de Periperi, em Salvador, até as quadras europeias, Sidão deu muitos arremessos contra as dificuldades e os olhares estranhos ao seu tamanho. Aos 15 anos e já medindo mais de dois metros, ele deixou a casa no subúrbio soteropolitano para tentar a carreira no Sudeste. Algumas passagens por times em São Paulo e no Rio de Janeiro e logo os olheiros levaram o garoto, naquela época com 19 anos, para jogar na Espanha.Ainda na juventude, foi o professor Gildásio Campos, técnico dos tempos de Asbac, quem mostrou a Sidão o "caminho" para a cesta. No reecontro com o ex-aluno, ele lembra de anos atrás: "A pegada que ele tinha era impressionante. Eu sempre acreditei na ascenção dele, sem sombra de dúvidas", declarou Gildásio, enquanto não tirava um dos olhos da quadra da Asbac, onde avaliava a seleção baiana de basquete sub-15.
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Treinador e aprendiz se reencontram e lembram os velhos treinos |
A trajetória no novo país logo deslanchou para o brasileiro. "Comecei jogando no Guadalajara, mas passei por vários clubes, e vi que meu futuro estava lá", disse o pivô do Caja Rioja, que está no time há três anos e o ajudou a chegar na primeira divisão do basquete espanhol na última temporada. Depois de quase uma década no país europeu e com proposta de renovação do clube, ele não esconde a vontade de voltar para o Brasil, o que pode acontecer ainda em 2011."Você sempre quer mais... Acho que é meu momento de chegar no Brasil, botar meu pezinho aqui e dizer: tô na área galera", brincou Sidão. Ele ainda afirmou ter propostas de times brasileiros e fez mistério sobre os possíveis destinos nacionais. A vontade é partilhada pela mulher, uma australiana, e o enteado, mas tido como filho, que ficaram em Logroño, cidade onde vive na Espanha: "eles são fissurados em morar no Brasil".Apesar da chance do retorno, nem tudo no país alimenta os sonhos do jogador, que é naturalizado espanhol. É curioso, mas Sidão tem mais vontade de jogar na seleção espanhola do que na brasileira. "Nunca me valorizaram como esportista aqui. Você acaba crizando raízes onde está. Deve ser por isso".
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Com 1,70m, o repórter fica ainda menor diante dos 2,17m de Sidão |
Um gigante - Nem tudo é vantagem em enxergar o mundo um pouco mais acima do que a maioria. Sapatos com número 50 e uma cama com 2,30m são algumas das medidas que fogem ao comum para dar conforto ao grandalhão. Mas ele aprendeu a lidar com isso: "Às vezes cansa, mas a partir do dia que eu coloquei na minha cabeça que eu sou assim, que isso nao ia mudar, eu comecei a desfrutar da minha altura. O mundo não vai se adaptar a você, então se adapte ao mundo".Verdade é que por onde passa o baiano chama a atenção pelo tamanho que o deixa quase imponente. Que o digam os garotos do Porto da Barra, como conta Sidão, lembrando de um episódio engraçado. "Uma vez eu estive lá com um amigo pra ver o pôr-do-sol. Uns moleques vieram mexer comigo. Aí o líder deles gritou que não era para abordar o gradão não, só com o pequeno".
Orgulho - "Sou a mãe mais feliz do mundo". A dona Sandra Maria foi incisiva na primeira frase que falou sobre o filho, e se disse orgulhosa de vê-lo sair da periferia e ter chegado onde está. Muito ligada à cria, a mãe logo percebeu qual era o seu sonho."Eu sabia que não era aqui que estava a felicidade dele. Ele estudava no colégio militar, mas não queria ser policial. Mesmo contra a vontade do pai, eu liberei ele para viajar. A única condição que eu impus foi que todo dia ligasse pra mim", contou Sandra, que não deixa de fazer a boa farofa que o filho sempre pede quando vem ao Brasil. Hoje o seu Wilson agradece à afronta da mulher quando deixou o filho sair tão cedo de casa: "por mim ele não ia, mas a mãe foi uma guerreira. Depois chegou a época que eu também tive muitos motivos para apoiar". Sobre a possível volta do filho ao Brasil, ele prefere não interferir. "Depende dele, o que for bom pra ele vai ser bom pra gente", disse o pai de um dos filhos ilustres de Mirantes de Periperi.