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Bellaguarda: "só o fato de jogar aqui é uma honra para mim" |
Ele já havia abandonado o vôlei, não tinha mais perspectivas de voltar a pisar na quadra como profissional. Mas, aos 35 anos, um baiano criado no balanço do mar de Itapuã realizou o sonho de disputar as Olimpíadas, mesmo após ter ficado cinco anos parado. Jefferson Bellaguarda disputa o vôlei de praia pela Suíça, país que nem tem mar, e, terça, perdeu para a dupla favorita Alison e Emanuel. Somou a segunda derrota por 2 a 0 e resta um jogo, quinta, contra a Áustria. Apesar da provável precoce eliminação na primeira fase, sente-se um vencedor. “Só o fato de jogar aqui é uma honra para mim que não tinha a menor ideia de que um dia chegaria. E cheguei”, disse, ao CORREIO, buscando as palavras no seu português pausado e algo oxidado de quemestá há sete anos fora do Brasil. O baianês, não esqueceu. Ao perceber a presença do conterrâneo, antes de começar a entrevista, soltou, instintivamente: “Êêêta, porra”. Em 2004, Bella, como é conhecido, resolveu trocar o sol que arde em Itapuã pelo frio europeu. Fez a opção pela família e deixou o esporte de lado. Com a esposa suíça, que pouco se adaptou ao ritmo baiano, cruzou o Atlântico. “A partir do momento em que viajei de Salvador para a Suíça, o vôlei virou passado na minha vida”, recorda. Buscou o sustento em fábrica de persianas, mas não tinha muito jeito com as ferramentas. Pensava era na bola. “Fiquei cinco anos semjogar, trabalhando e sem saber se poderia voltar a esse nível. Até que, em 2009, recebi meu passaporte suíço e aí comecei a jogar de novo, mas sem pretensão nenhuma, só para ver a que nível poderia voltar. Foi dando certo, dando certo e hoje estou aqui”, comemora Bella, que disputou torneios internacionais com o também baiano Paulão, que fez dupla famosa com Paulo Emílio. Hoje, se sente realizado: “Amo jogar voleibol e estou feliz de ter voltado a fazer o que eu gosto”. Em Londres, Bella forma dupla como medalhista olímpico Patrick Heuscher, bronze em Atenas 2004, após perder para o mesmo Emanuel, na época parceiro do também baiano Ricardo, na semifinal.
Opiniões - O suíço-baiano ainda está em forma, garante Emanuel, considerado o melhor de todos os tempos. “Ele reforçou o estilo de jogo suíço, deu velocidade, porque lá eles jogavam muito alto emais lento. Ele faz com que o time jogue mais rápido”. Já Alison considera o “amigo tranquilão” um jogador “frio” e “habilidoso”. “Ele tem um braço muito rápido, difícil de marcar no bloqueio, e está sempre muito tranquilo em quadra. Nisso não deixou de ser baiano não”, sugere o capixaba, rindo. Estabelecido no novo país, Bella sente saudade da família e dos amigos, mas não pensaemvoltar. “Na Suíça, as pessoas são mais reservadas, não tem aquela algazarra que a gente faz. Mas é um país maravilhoso, só não tem o mar”, conta, antes de ouvir o companheiro Heuscher chamá-lo e sair arrastando os pés.