Duas horas da manhã. Um grupo de homens é acordado. Eles terão que flutuar em águas profundas com uniforme e armamentos pesados. Por quanto tempo? Não se sabe. Em outra madrugada, têm que treinar tiros de alta precisão em meio a obstáculos. A obrigação é não cometer erros. Não aguenta? Pede pra sair. Parece filme, mas isso fez parte da formação de policiais militares no Curso de Ações Táticas Especiais (Cate) da Companhia de Operações Especiais (COE) do Batalhão de Choque. Ao todo, 50 homens começaram o curso. Só 14 cumpriram as sete semanas de formação e desde o dia 17 integram a Tropa de Elite da PM baiana. Eles se juntam aos outros 39 membros do COE-PM, acionados para ações de alta complexidade, como sequestros, ocupação de áreas de risco, situações com bandidos perigosos e salvamentos em mata ou na água, por exemplos. A cerimônia de formatura, realizada no Batalhão de Choque, em Lauro de Freitas, contou com a presença do comandante-geral da PM, coronel Alfredo Castro, e do secretário de Segurança Pública, Maurício Barbosa. “Tenho orgulho de cada um dos senhores, que demonstram força de vontade para concluírem esse curso. As piores operações ficarão com vocês. Que Deus os mantenha em saúde. Boa sorte e fé na missão”, declarou Barbosa. De fato, um pouco de sorte não faz mal aos homens do COE. Basta ver a descrição do treinamento feita pelo policial Francisco Costa, 29 anos, 3º colocado no curso. “A gente terminava a pista de obstáculos esgotado e passava por uma pista de tiros com alvos de vários tamanhos. Tudo é feito sob pressão dos instrutores. Por mais rápido que esteja, gritam pra ir mais rápido. É uma forma de tornar o stress seja real”, relata. Há quatro anos na PM, Costa diz que decidiu se tornar um “cateano” (como se chamam os concluintes do Cate) porque buscava capacitação. “Recebi muitas instruções que, mesmo na polícia, eu não imaginava. A gente sofre mais no início do curso, com a adaptação física e psicológica”, afirma ele, que garante não ter pensado em desistir, mesmo sentindo muita falta da família durante o curso.
Quem passa pelo curso garante: “O treinamento é tudo aquilo que se vê no filme (Tropa de Elite) e um pouco mais”. A definição é do policial de Elton Mandias, 30. Comandante da COE há três anos, o capitão Fábio Boaventura explica o curso é dividido em módulos, abordando diferentes momentos de uma ação que exiga técnica apurada. “Tem módulo de tiro, explosivos, artes marciais, ações em helicóptero, além de prova teórica”, lista. ExaustãoSegundo o comandante, a maior exigência é psicológica. “A gente procura elevar ao máximo os testes. Apesar de ele estar cansado, ele não pode errar nunca, porque as ações envolvem vidas. Pegar de surpresa quando estão dormindo é a melhor hora”, explica. O tenente Esdras Boson, 30, 1º colocado no curso, afirma que todos os dias há motivos para desistência. “Nosso corpo é testado sempre, a falta de sono também maltrata muito. Você precisa estar focado no que quer”, enfatiza. Já Mandias diz que ver a desistência dos colegas também é ruim. “Você treina com seu colega e depois vê um amigo saindo. Saber lidar com a perda é muito complicado”, lembra ele, afirmando que a maioria dos policiais desiste nas primeiras semanas do curso.
Dentre as atividades do treinamento, os novos membros do COE afirmam que a simulação de tiros reais, com alvos específicos, era uma das mais difíceis. “Tinha simulação que o alvo que era metade o rosto de uma vítima e metade de um suspeito. Não podia errar. Às vezes esse tipo de treinamento durava horas”, conta Boson. AprendizadoApesar de todas as dificuldades, Francisco Costa afirma que alguns desafios acabam sendo naturalizados ao longo do tempo. “Hoje vejo que coisas que eu achava que não ia conseguir, já faço naturalmente”. Tanto treinamento, afinal, serve não só para as ações, mas também para a mente. “Hoje eu tenho responsabilidade sobre decidir os momentos mais críticos das ocorrências policiais que estão por aí. Pra enfrentar uma situação extrema, uma pessoa que você não tem mais chance de negociar, você vai decidir, vai tentar preservar a vida de todo mundo, mas nesse momento a nossa vida está sujeita a sucumbir também”, pondera Boson. No fim das contas, todo o esforço pode ser resumido por uma passagem da oração das Forças Especiais, lembrada pelo capitão Boaventura: “E que nunca envergonhemos a nossa fé, as nossas famílias, os nossos camaradas”. 'O homem preparado vale por dois', diz comandanteEste ano, 113 policiais militares se inscreveram para o processo seletivo que dá acesso ao Curso de Ações Táticas Especiais. No final da seleção, composta de exame médico, teste de aptidão física e de tiro, apenas 50 aspirantes foram declarados aptos para a formação. Depois das primeiras três semanas, 35 participantes já haviam desistido, sobrando os 15 homens presentes no treinamento aberto ao público, que aconteceu no Elevador Lacerda no dia 8 de agosto. Um dos policiais desistiu já na última semana de treinamento. Segundo o coronel Alfredo Castro, comandante-geral da PM, o pequeno número de homens que consegue concluir o curso revela, na verdade, a especialização do grupo de elite. “Temos que ter a consciência de que o homem preparado vale por dois. A gente tá trabalhando com a qualidade, não com a quantidade. Com isso nós ganhamos volume de ação e de trabalho”, diz Castro. Segundo ele, a especialização tem sido um esforço conjunto do Batalhão de Choque para levar tranquilidade à população em situações de extrema complexidade. Além dos 53 homens que atuam no COE, oito membros da companhia estão a serviço da Força Nacional de Segurança, ligada à União. Matéria original do CorreioPM forma mais 14 homens que vão atuar em ações de alta complexidade
PM forma mais 14 homens que vão atuar em ações de alta complexidade |
Já Mandias diz que ver a desistência dos colegas também é ruim |
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