O Dia dos Namorados começou a todo vapor. Nesta sexta-feira (12), o motel Del Rey, no bairro de Armação, recebeu o
iBahia para um tour em suas instalações, que já foram palco para histórias das mais variadas, desde pedidos inusitados à confusões no interior e exterior do lugar. Não é praxe, mas inegavelmente dá uma pitada a mais de tempero na calmaria do dia a dia. A chegada foi às 9h e 18 pessoas já estavam ocupando suítes. Uma hora e meia depois, o balanço já mostrava 40 quartos alugados desde a meia noite. Bem humorado, o gerente do motel, Claudio Carvalho, foi quem conduziu o passeio pelos 40.000m², divididos em três alas: administrativa, suítes e mansões.
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Entrada do Del Rey |
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Em um bate-papo, Claudio resumiu como funciona o empreendimento no dia 12 de junho. Segundo ele, o movimento inevitavelmente é diferenciado, mas não o suficiente para que um esquema especial seja montado. Como é melhor prevenir do que remediar, o Del Rey ainda assim aumenta o efetivo para não ser surpreendido. "Não muda muita coisa, mas fazemos um esquema especial. Eu mudo o horário dos funcionários. Garçom, por exemplo, coloco em um plantão de 12 horas, dois turnos. Se eu dividir por três, como fazemos em dias comuns, fico com pouca gente se houver uma demanda alta. Lavanderia, eu coloco para funcionar apenas das 6h às 22h, porque temos material o suficiente em estoque para trabalhar a noite toda", explicou. Gerente do lugar há seis anos, ele afirmou que os tempos mudaram consideravelmente no que diz respeito ao movimento na data de hoje. Nos três primeiros anos, por exemplo, Claudio chegou a precisar administrar filas com garçons servindo nos carros para não deixar os clientes insatisfeitos. "Tenho seis anos aqui. Nos três primeiros, já peguei fila de mandar servir bebida lá mesmo. A gente normalmente faz as reservas, mas isso não acontece no dia dos namorados. Para eu reservar um apartamento, eu tenho que parar ele, no mínimo, quatro horas antes. Eu poderia cobrar essa reserva, mas a questão é você chegar, eu ter o apartamento vazio e mesmo assim não te alugar. É sacanagem", justificou, antes de atribuir a mudança de comportamento dos casais aos novos tempos. "Antigamente, você não ficava com sua namorada na cama dela, na casa do pai dela. Hoje você fica e depois, se vacilar, ainda senta na mesa com o pai dela para tomar um café. Então as pessoas não tem mais necessidade de ficar indo para o motel. O motel hoje é muito mais para um fetiche, infidelidade ou contratação de garotas(os) de programa", analisou.
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Na mansão Gruta Azul só são permitidos até três casais |
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Cerca de 280 clientes passam pelo Del Rey diariamente, mas surpreendentemente, os horários onde o movimento é maior são pela manhã, ao meio dia ou no final da tarde. Com isso, há um esquema específico para não haver desperdícios, já que o custo para manter o empreendimento é alto. "Todos os dias pela manhã, principalmente no dia dos namorados, é feita uma faxina geral, onde o pessoal pega pesado mesmo. Durante o dia é apenas limpeza. O casal entrou, saiu, o quarto é todo higienizado. Passam o pano molhado com um produto especial, álcool na cama, porque nosso colchão não é de tecido, justamente para não molhar. Não usamos produtos domésticos, apenas produtos próprios para hotelaria. São mais eficazes", explicou. Durante o ano, os dias com maior movimento são um antes do Dia dos Namorados, do Natal e do Réveillon. O motivo? "O movimento sempre aumenta um dia antes dessas datas, que no caso seria o dia dos amantes. Natal mesmo, o movimento é fraquíssimo, mas antes do natal, dois dias antes, por exemplo. São João cai a zero. Carnaval é insignificante: nem pior, nem melhor", contou.
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Além da cozinha (à esquerda), o motel tem sua própria padaria |
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Babado, confusão e gritariaCláudio contou que, como qualquer motel, o Del Rey também já foi cenário para confusões das mais hilárias e constrangedoras possíveis. De acordo com o próprio, por uma questão ética, externar algumas se tornou inviável, mas sem citar nomes ou características, falou sobre outras saias justas que foi obrigado a passar graças a clientela. "Nós percebemos se tem muita gente no quarto pelo consumo. Você, sozinho, beberia 18 cervejas, 12 doses de whisky, 16 ices e comeria, sei lá, três jantares? Ou seja, dá para saber que tinha gente extra. Não tem como uma pessoa ou um casal consumir isso a sós. Só que na hora de sair estava lá, um período normal, um casal. Perguntei ao rapaz se poderia abrir a mala do carro e ele deixou, mas fez a maior confusão, mesmo sabendo que já não tinha ninguém lá naquele momento. Só que a gente sabe como eles fazem isso", adiantou, sem revelar o segredo. O gerente também admitiu que muitos clientes levam suas próprias bebidas e comidas para o local, mas que não é possível barrar ou negar itens como gelo, por exemplo. "Tem gente que traz tudo e ainda pede o meu gelo, a minha taça. Eu dou, claro. Como vou negar uma taça de vinho? É uma besteira. Mas por incrível que pareça, no que menos ganhamos é com o quarto em si. Sai muita coisa da cozinha e do bar. Não é todo mundo que tem esse hábito (de trazer)", disse. Certo dia, um cliente que só ia ao motel para assistir vídeos eróticos chegou a incomodar os empregados do local com insistentes pedidos para a mudança dos filmes, então ele se viu obrigado a tomar uma atitude curiosa. "Teve um cara que só vinha no motel para ver filme erótico. Ele pagava e ficava assistindo, mas toda hora pedia para trocar. Vivia falando com as meninas, toda hora, chegava a incomodar. Aí um dia eu liguei para o apartamento e questionei. Ele disse 'Ah, elas não colocam o filme que eu quero'. Então eu falei 'Olha, vamos resolver isso. Vou mandar instalar um DVD no quarto do senhor quando você vier. Aí você escolhe o que você quiser e fica tudo certo, ok?'. Ele então disse 'você vai fazer isso por mim?'. Eu disse 'vou'. E pronto, problema resolvido", contou bem humorado. "Outro dia, uma mulher saiu gritando do quarto e todo mundo ficou espantado. Quando a gente pensou que seria algo grave acontecendo, ela, na verdade, estava correndo do cara com medo de encarar o rapaz, porque ele era muito avantajado. As meninas que estavam próximas saíram correndo. Foi engraçado, mas quando atrapalha o bom funcionamento do motel, a gente tem que intervir", continuou.
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Mansão Afrodite foi desativada para a construção de uma mega-mansão |
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Segurança Claudio pontuou que os principais pilares do motel são ótimas segurança e higienização, mas que muitas vezes é difícil controlar situações que exijam uma firmeza maior.
Calotes"Várias vezes já saíram sem pagar. Dificilmente isso não aconteceu menos de dez vezes. É gente sem dinheiro para pagar que deixa celular, relógio, até carro. Entre sem o dinheiro e na hora de pagar diz que não tem. Aí tudo bem, pedimos para ele deixar outra coisa até ele voltar com o dinheiro para pagar. Vamos fazer o que? Já teve carro de ficar aí - no pátio - quatro meses, porque o cara não voltou para pagar antes. Já teve gente atravessando a cancela da saída, já teve cliente que puxou arma. Tem muita gente que pede comida, come e depois se nega a pagar alegando estar ruim...", pontuou. Ainda de acordo com ele, as confusões externas à administração também ocorriam com frequência, mas dos últimos três anos até hoje, diminuíram consideravelmente. "Já teve confusão com garota de programa, que o cara não tinha dinheiro para pagar e só falou depois à moça. Já teve uma mulher que pegou o marido aqui... Foi aquela confusão, mas nada demais. Cada um pagou a sua conta e foram resolver suas vidas. Até porque hoje em dia é muito fácil pegar o outro no ato. O localizador do celular, por exemplo. Esse negócio mesmo de 'Busque iPhone', ele dá em cima. Não tem como mentir", garantiu.
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Assim como a Afrodite, a mansão Apolo foi desativada |
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Achados e perdidosE como em todo lugar, no motel também há a ala dos achados e perdidos. Mas os mais espertinhos não acabam agraciados pelo bom senso do empreendimento, que já foi alvo de clientes abusando da má fé. "Tem gente que esquece sapato, dinheiro, relógio, carteira, até dentadura. Já teve gente que esqueceu um pé só de sapato. Roupa é o que mais tem... Mas a gente não se responsabiliza. A gente não tem a obrigação. Se acharmos, guardamos. Mas se perder, não pagamos, nem reembolsamos. Porque pode chegar qualquer um aqui, como já houve, de dizer 'esqueci meu celular' e ser mentira, só para pagarmos um celular novo", explicou, negando que já tenha existido alguma confusão no Dia dos Namorados.
Festas e famososFestas são constantemente organizadas por pessoas nas mansões mais caras do local, com exceção à famosa Gruta Azul, onde são permitidos apenas três casais. "Se você deixar muita gente na Gruta Azul, pode quebrar alguma coisa. Não é um espaço que acomode tanta gente assim. E lá você não consegue fazer retoques. Se quebrar, você vai ter que desmontar uma parede inteira para refazer. Nas mansões, não. É permitido até 20 pessoas, mas já vi festa lá com mais de 20. Já cansei de pegar gente nas malas. Se eu anotar a placa do seu carro e lançar aqui, eu sei quando você veio, quanto tempo ficou, em que quarto ficou, o que consumiu. A gente sabe tudo. Antes de você entrar no motel pela segunda vez, ao entrar, o sistema já vai sinalizar lá: placa com ocorrência. Aí eu vou ver o que você fez", avisou, antes de confirmar que jogadores de futebol e pagodeiros são os famosos mais fieis.
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Atualmente, a mansão Vênus é a única que comporta mais de três casais no local |
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O motel Del Rey funciona há 33 anos e atualmente está passando por reforma. A gerência estima que as mesmas sejam concluídas no primeiro semestre de 2016. Dos cerca de 130 quartos do local, apenas 80 estão ativos e, das quatro mansões existentes, duas — Apolo e Afrodite — foram demolidas para a construção de uma mega mansão, com 750m², que ainda está sendo projetada. No próprio motel, além da ala administrativa, como RH, financeiro e afins, há também marcenaria, estofaria, vidraçaria, eletrônica, lavanderia, cozinha, copa, padaria, central de ar, geradores e caldeiras.