Velhas conhecidas dos foliões cariocas, as marchinhas de carnaval que animam bailes e desfiles nas ruas viraram alvo de uma polêmica. Consideradas politicamente incorretas, músicas como “Cabeleira do Zezé”, “Maria Sapatão”, “Índio quer apito” e “O teu cabelo não nega” começam a sair do repertório de alguns blocos, como revelou a coluna Gente Boa, do GLOBO, na semana passada. Integrantes de grupos como Mulheres Rodadas, que surgiu do movimento feminista, Cordão do Boitatá e Charanga do França defendem que as letras sejam banidas dos desfiles. Mas a medida não é unânime.
— Se a gente é um bloco feminista, não temos como passar ao largo dessas coisas. Se isso está sendo considerado ofensivo, acho que a gente não deve fazer coro — disse Renata Rodrigues, uma das organizadoras do Mulheres Rodadas, em entrevista à rádio CBN.
CLÁSSICO DE FORA
Segundo Renata, a discussão em torno da palavra mulata, usada muitas vezes de forma pejorativa, diz ela, poderá tirar do repertório até mesmo um clássico da MPB: — A gente tocava “Tropicália”, do Caetano Veloso. Agora, com toda a onda desse questionamento, principalmente, em função da palavra mulata, a gente está discutindo e vamos decidir se continuaremos tocando essa música ou não.
Presidente do Cordão da Bola Preta, um dos mais tradicionais blocos da cidade, Pedro Ernesto Marinho discorda da proibição. Para ele, as marchinhas não foram escritas para desrespeitar as pessoas. — Não consideramos essas marchinhas ofensivas. Quem as compôs, certamente, não tinha essa intenção. Carnaval é uma grande brincadeira. Essa polêmica não vai levar ninguém a lugar algum e até desmerece o carnaval. O preconceito está mais dentro das nossas cabeças do que nas marchinhas — afirmou.
Mesma opinião é compartilhada pela presidente da Sebastiana, associação que representa 11 blocos cariocas, e pelo presidente da Folia Carioca, que reúne 22 grupos. — Nenhum bloco da Sebastiana está tirando marchinha do repertório. Os blocos acham que as marchinhas são antigas, tradicionais e tinham um contexto, sem ter preconceito. Foram criadas numa determinada época. A vida fica muito sem graça se tudo tiver que ser enquadrado, perdendo a leveza e a brincadeira, que são a essência do carnaval — opina Rita Fernandes, presidente da Sebastiana.
Já Roberto Vellozo, presidente da Folia Carioca, disse que os blocos estão mais preocupados em pagar as contas do que com essa discussão: — Vamos continuar tocando (as marchinhas). Essa discussão não agrega nada.
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Redação iBahia
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