"Eu preciso acreditar no mundo e a literatura é o que me salva". Esta foi apenas uma das
frases ditas por Conceição Evaristo que emocionou o público que estava presente na mesa
"Admiráveis olhos d’água que nos contemplam” realizada na noite deste sábado (13). A
escritora escolhida para ser a autora homenageada pela Festa Literária de Cachoeira
(Flica). A conversa foi mediada pela poetisa e professora universitária, Lívia Natália.
Com o claustro do Convento do Carmo lotado, Conceição contou alguns detalhes pessoais, como casamento, maternidade e religião. "Tenho três mulheres na minha vida: minha mãe, minha tia e Ainá, minha filha. A última para mim é um mistério, principalmente
pela síndrome genética que ela tem. Ela veio para afinar a minha sensibilidade, isso me
prepara para o mundo, isso me dá essa escrita, entende?", explicou.
Quanto o lugar de ser uma escritora negra em uma sociedade brasileira que se mostra
machista e racista, Conceição explica que ela sabe que esta voz não é só dela e que sua
existência confere uma representatividade.
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"A competência do sujeito negro é questionada a todo o momento. Foi preciso um prêmio Jabuti (como um 'oscar' da literatura brasileira) para legitimar minha escrita", ressaltou.
Polêmica na Academia Brasileira de Letras
Neste ano, Conceição Evaristo se candidatou para ocupar a cadeira número sete da Academia Brasileira de Letras (ABL) e, mesmo com uma campanha tão popular e com o trabalho reconhecido, recebeu apenas um voto. A vaga foi ocupada pelo cineasta Cacá Diegues. Durante a mesa, a escritora falou sobre esta polêmica.
"Um dos elementos que me levou a me candidatar foi que, ao ler o livro 'Casa Grande,
Senzala', de Gilberto Freire, com todas as críticas que tenho a ele, o autor explica que a
construção do português brasileiro se deu através também das mulheres africanas. As mães negras influenciaram a construção da língua ao cuidarem da prole colonizadora, ou seja, elas construíram o português falado no Brasil. Se nós, mulheres negras, modificamos o bem mais simbólico da nação, que é a língua, a ABL é nossa", afirmou.
Homenagem à Conceição
Antes de iniciar a conversa, o curador da Flica 2018, Tom Correia, explicou o cuidado que a festa tem em escolher as gerações mais antigas que estão em plena criatividade literária para serem homenageados pelo evento. "A sugestão de Conceição Evaristo surgiu da forma mais natural possível. O nome dela foi bem recebido pela potência que tem na literatura, pela representatividade da mulher negra e pelo posicionamento dela diante da vida", disse.
No momento, foi entregue à Conceição escultura produzida por uma artista cachoeirano. O presente foi entregue à autora por Arany Santana, secretária de cultura do estado da Bahia, e por Tom Correia.
Confira o vídeo completo da mesa:
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Redação iBahia
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