Um brasileiro e outro colombiano. As semelhanças entre os dois países foi a discussão na primeira mesa deste sábado (15) da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), no Recôncavo, com o cronista Antonio Prata e o escritor colombiano Juan Gabriel Vásquez. Com o tema 'Histórias de humor sutil, micromundos familiares e fratura generalizada' a mesa também tratou como o humor é utilizado para discutir assuntos sérios nos livros e histórias.
O filho de Mário Prata, autor do recente livro "Trinta e Poucos", afirmou que utiliza o humor de uma forma sutil para discutir com os problemas do Brasil. "A crônica é sempre um gênero de ficção que eu trato. A partir do momento que eu começo a escrever eu levo o narrador para onde eu desejo. O humor nasce de um conflito da realidade, de um descontentamento. O humor é um lubrificante que nos permite deslizar pela vida tão áspera."Durante o bate-papo, sob mediação de Zulu Araújo, Prata criticou o politicamente correto, mas também os humoristas que "preferem" fazer piadas com as minorias.Para o colombiano, a grande dificuldade é encontrar métodos de utilizar o sarcasmo para tratar da história "trágica", com a violência nos últimos anos. "Tenho tentado vários métodos para explorar a história trágica do meu país. Os escritores colombianos passaram anos tratando a violência do país. Mas a nossa grande preocupação é de como tratar a violência em nossa literatura", afirmou Vásquez.
Sobre o importante livro “Historia secreta de Costaguana” (2007), o escritor contou que tentou mostrar um conflito histórico de uma forma "estranha". "É um livro que conta um momento de muita dor, de mortes de irmãos e um país dividido. Isto termina em uma guerra que se deu na separação de Panamá. Eu escolhi contar toda esta história trágica com um tom de uma novela estranha. Isso me permitiu fazer de um conflito histórico uma ficção. Uma história que é ao mesmo tempo uma obra de aventura, mas também filosófica."Literatura brasileira e latino-americanaO escritor Juan Gabriel Vásquez falou sobre a dificuldade em competir com as "histórias mentirosas contadas pelos governantes dos países da América Latina". "Os escritores latino-americanos escrevem para saber o que é a literatura latino-americana. Os poderes contam muitas mentiras. Os latinos americanos tem que viver um passado que é mentiroso. Os livros daqui tem essa urgência de definir-se como latino-americanos, pois há um continente que essa história é mentirosa. A maravilha desta literatura é que não é solitária, que não fala de uma só coisa ou de uma maneira. Se algo sei é que temos uma vocação de reconstruir um retrato nosso, mas temos que competir com as mentiras dos governos." Já Antonio Prata criticou a visão que os brasileiros possuem dos países vizinhos. "O Brasil não quer parecer com seus primos pobres. Nós pobres queremos parecer com os EUA, a França. Nos referimos da América Latina de todos os outros países, mas não da gente. A gente tem uma participação muito pequeno na literatura desses países. O que é muito ruim", disse.Assista, na íntegra, a mesa com Antonio Prata e Juan Gabriel Vásquez na Flica 2016:
Juan Gabriel Vásquez, Zulu Araújo e Antonio Prata em mesa da Flica 2016. (Foto: Egi Santana/ Divulgação) |
Foto: Egi Santana/ Divulgação |
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Redação iBahia
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