Luciano Andolini é um artista multifacetado: compõe, canta, toca violão, grava vídeos e ainda arranja um tempinho para escrever sobre divagações do cotidiano no 'Papo de Homem'. O site é voltado para debate e dicas não só para o homem contemporâneo (como o nome sugere), mas para quem está aberto à reflexão. Ele conversou com o iBahia sobre carreira, inseguranças e sobre o momento do país. Ele estará presente no painel "Interações Sociais e Comunidades", que será realizado no domingo (19), no Painel Atitude Digital, na Caixa Cultural.
iBahia: Para você, o que é um "papo de homem"?
Luciano Andolini: Acredito que qualquer papo que uma mulher (cis ou não) ou homem (cis ou não) quiser ter.
Eu acho que vale mencionar que estamos num tempo diferente de quando o PdH surgiu. Na época, ainda fazia sentido em se falar de maneira mais definidora do que achávamos que era o papel de um homem. Quando o "Papo de Homem" começou, o fundador do portal ainda era bem jovem, acho que tinha uns vinte anos e, como é comum da fase, estava tentando entender suas dificuldades emocionais e, sim, tentando se afirmar, encontrando o próprio espaço. Daí, o nome, tendo um pouco essa carga.
Hoje podemos nos livrar dessas amarras e começar a tocar em feridas que aquela figura tradicionalmente reconhecida como "homem" jamais teria coragem de tocar. Pra mim, isso é um avanço.
iB: Os textos publicados por você às vezes têm uma certa carga de discussão, por vezes positivas. Qual é a importância deles para a sociedade?
Então, importância mesmo, nenhuma. hahaha
Mas de uma certa forma, acho que o meu grãozinho de areia nessa praia imensa é falar sobre a importância da gente se posicionar de forma a gerar benefícios onde quer que a gente esteja. Não numa jornada do herói ou numa cruzada pra salvar o mundo, mas com honestidade consigo próprio, autocuidado e carinho, pra gente seguir fazendo isso o máximo de tempo possível.
iB: Vivemos um momento de tensão política, onde pessoas perdem amigos por opiniões divergentes. Qual é a importância do diálogo neste momento? Como os blogs podem ajudar em casos assim?
Luciano: Eu acho que é bem problemático o fato de que a gente não sabe muito discordar uns dos outros. Parece que existe em nós um instinto de que aquele que pensa diferente precisa "morrer", ser expurgado como um obstáculo. E não é bem assim.
Muitas vezes, o cara que pensa diferente é a melhor coisa que pode nos acontecer, por que ele é quem nos mostra nossas dificuldades e nos faz aquelas perguntas que quem concorda com a gente muitas vezes sequer é capaz de fazer. E isso é ouro. Permite com que a gente se aprimore, tende responder essas perguntas difíceis e, quem sabe, comece a chegar a lugares que nunca pensamos.
Eu acredito, de verdade, que uma postura não sectária é extremamente importante. Nós precisamos falar sobre isso, sim, mas acima de tudo, precisamos cultivar no nosso cotidiano esses espaços nos quais uma pessoa possa falar o que pensa. Porém, isso carrega um paradoxo o qual eu nem sei se cheguei a resolver em mim, que é: isso não quer dizer que precisamos deixar falar uma pessoa que, por meio da sua fala, destrói o espaço dos outros.
Penso que o bem comunitário é mais importante que o ganho pessoal. Claro que a gente também precisa criar mecanismos pra que esse bem comunitário não se transforme em uma padronização doentia e apague as liberdades e caracteres individuais.
No caso dos blogs, acho que eles podem contribuir sendo eles próprios microuniversos disso. Tendo boa moderação, tão ativa quanto for possível, evitando que discursos e posturas nocivas se proliferem. E, claro, produzindo conteúdo de qualidade, com informação feita para gerar benefícios e não apenas audiência. O que, sim, eu sei, é um paradoxo também bastante difícil de resolver, já que o alcance gera a principal forma de sustento: a publicidade.
iB: Algumas pessoas têm certa preguiça de ler textos e preferem assistir vídeos. Como você faz para que as suas criações sejam interessantes para o internauta?
Luciano: Honestamente, eu não faço nada (risos). Meu foco é justamente gerar bons textos pro cara que quer ler. Eu acho que esse cara sempre vai existir por que a texto escrito e o vídeo são formas extremamente diferentes de se criar e transmitir conhecimento. Tem coisas que o texto escrito faz que o vídeo não consegue fazer e vice-versa. Na minha humilde opinião, cada coisa tem seu lugar.
Eu acho mais positivo a gente produzir algo bom pra quem quer o que a gente tá oferecendo (que não é pouca gente, aliás), do que fazer um texto "ruim" ou descaracterizado pra quem não tá interessado, tentando gritar pra fazer ele notar a gente.
iB: Algum leitor já te procurou para debater sobre algum problema pessoal?
iB: Você segue a risca todas as dicas que dá? Qual é a maior dificuldade na hora de fazer uma publicação?
Luciano: Eu nem sei se isso é importante! (risos)
Quando eu tô escrevendo um artigo, a responsabilidade não é só comigo, sabe? Claro que eu tento ser o mais fiel possível ao que sou capaz de fazer ou que já experimentei. A maioria gritante dos meus artigos vem de experiências pessoais, até por que, sem isso, é difícil fazer o conteúdo ressoar a nível humano. Não só gerar click e like, mas de gerar um impacto na vida da pessoa mesmo, dela levantar da cadeira e mudar positivamente algo por que viu que você falou sobre. Mas isso não é o Luciano. Não é que eu, como indivíduo, seja tão importante que sou capaz de fazer isso.
A questão é que, como humano, eu sou igualzinho a você. Eu tenho raiva, fico frustrado, acordo desanimado e tenho inúmeras vezes vontade de mandar todo mundo à merda. Então, se eu falo desse lugar, entendendo a minha própria humanidade, consigo posicionar a minha mente de maneira a gerar insights e meios hábeis úteis. Aí eu vou lá, experimento, erro, quebro cabeça e depois volto com experiências sobre as quais eu posso escrever. A questão não é nem se eu mandei a pessoa acordar às 5h da manhã. É mais que eu sei quais os prejuízos de não se fazer isso. Eu sei a dor que é não conseguir. Eu sei como é perder um dia remoendo um monte de pensamentos negativos que me impedem de levantar da cama.
E você também sabe disso! Você se sente como eu me sinto.
Falando desse lugar, a gente se comunica. E, se no meio disso, brota algo, a gente consegue ver se é ou não uma boa ideia, por que a gente tá no mesmo lugar. A conversa flui e a gente se transforma juntos. É mais sobre ir juntos do que sobre eu dar conta de fazer tudo perfeitinho, sem errar e ter a vida perfeita. Aliás, quem diz isso, provavelmente tá mentindo.
[youtube L_11swiFlNs]
O Painel Atitude Digital será realizado entre os dias 17 e 19 de agosto, na Caixa Cultural. Você pode obter mais informações na página do evento.
*Sob a supervisão do repórter Luiz Almeida
Veja também:
Leia também:
Redação iBahia
Redação iBahia
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!