Assustadas, duas vendedoras do Largo da Madragoa, na Ribeira, liam pela manhã a notícia de mais uma vítima do “maníaco da seringa” nas páginas do jornal desta quinta-feira (20). Sem perder de vista quem se aproximava, elas conversavam sobre o terceiro ataque no bairro, a uma estudante de 12 anos, que ocorreu duas ruas dali, onde trabalham diariamente e onde foi registrado o primeiro caso, contra um motorista que foi espetado por um passageiro do ônibus que dirigia, no dia 18 setembro.“Aqui na região está todo mundo assustado e desconfiado, a gente não para de olhar para os lados por conta dessa história que corre por aqui, tem sido horrível”, desabafa a vendedora ambulante Regina. O clima, segundo moradores ouvidos pelo CORREIO, tem mudado até a rotina da região. “A gente vem trabalhar por precisar, mas quando dá 13h agora a gente vai embora, antes ficava até depois das 15”, exemplifica a vendedora de cachorro quente Eliana.
O número de pessoas atacadas por seringa nas ruas de Salvador chegou a sete este ano, segundo a Secretaria da Saúde (Sesab). A Polícia Civil tem registro e apura quatro casos, três deles ocorreram na região da Península Itapagipana, nos bairros da Ribeira e do Areal. A última vítima foi uma estudante da Escola Municipal Maria José de Paula, atacada a poucos metros do colégio por um homem negro, de estatura baixa e de porte atlético, segundo a delegacia da área.Por conta do medo de algo similar acontecer com a filha de 17 anos, o taxista Ivo Conceição, 60 anos, recuou na liberdade que dava a filha para caminhar na rua depois das aulas. “Agora todo dia eu vou busca-la na aula, já disse que ela não pode ficar perambulando até que esse cara seja preso”, contou Ivo. “A gente não sabe o que tem nessa seringa, se é algo fatal, e isso é o que mais me assusta. Está todo mundo em alerta e comigo não tem outra, se vier eu vou entrar em luta corporal com ele”, completa o taxista que atua em um ponto próximo do Largo da Madragoa.Até uma atividade da escola Maria José de Paula, onde a menina atacada estudava, prevista para esta quinta-feira (20), foi alterada. Segundo funcionários da Biblioteca Municipal Reitor Edgard Santos, na Ribeira, por conta do ataque de ontem (19), uma turma da escola que faria visita a unidade cancelou a atividade externa. Na escola, a direção optou por não relatar o ocorrido ou o impacto do ataque nas atividades.
A comerciante Eliene Santos, 48 anos, vende lanches e mora em frente à escola municipal e relata que não tem percebido mudanças na rotina dos estudantes, mas reconhece que o medo no bairro ganhou um reforço. “Antes as pessoas ficavam preocupadas com o roubo de celular no ponto de ônibus, agora quem vai para o ponto tem ficado ainda mais com medo. Dizem que é onde o maluco da seringa mais gosta de atacar”, diz Eliene. Quando aguardava o coletivo distraída em uma parada de ônibus, a operadora de caixa Eliana dos Santos Pires, 41, foi atingida por uma seringa na região das nádegas por um homem.Nos relatos dos moradores, a falta de características precisas sobre o “maníaco” é o que mais assusta. Trabalhando diariamente caminhando pelas ruas da Ribeira, a agente de endemias Patrícia Araújo conta que os boatos também preocupam. “Eu trabalho com pessoas e é difícil ficar nas ruas. Ontem (depois do ataque à estudante) começaram a dizer que tinha acontecido novamente aqui e ali e isso assustou todo mundo”, relata. “Pode ser qualquer um e por acontecer tão perto da gente é de ficar em alerta”, opina a enfermeira Marli Barbosa, 37 anos, que aumentou a vigilância na rua com a filha de sete anos. Já o aposentado Valdemar Moura, 77, cobra uma maior presença da polícia nas ruas para dar maior segurança aos moradores. “Isso é moda dos Estados Unidos que estão trazendo pra cá, mas trazem por falta de autoridade”, queixa-se.Apuração A Polícia Civil investiga até o momento quatro casos, três deles registrados na 3ª Delegacia (Bonfim) e outro na 1ª Delegacia (Barris). De acordo com o departamento de comunicação da Polícia Civil, cada unidade está realizando apurações independentes, já que, até o momento, a investigação policial não aponta relação entre os ataques na região da Ribeira e o caso que aconteceu na Avenida Joana Angélica, contra um soldado do Exército de 20 anos, no dia 7 de outubro. Segundo o órgão, as características do suspeito repassadas pelas vítimas em ambos os casos são vagas e, mesmo assim, inicialmente apontam para mais de um agressor.
Portão da escola em que uma das vítimas estuda(Foto: Betto Jr.) |
A agente de endemias Patrícia(Foto: Betto Jr) |
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Redação iBahia
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