Em todas as suas obras, Oswaldo Goeldi imprimiu uma atmosfera de introspecção – de personagens, homens e mulheres, voltados para dentro. Mesmo quando optou pela cor, deixando de lado o preto e o branco rotineiro, nunca buscou se distanciar da atmosfera soturna, solitária, carregada em silêncio. Ainda assim, e sem soar desarmônico, Goeldi gravou imagens que transmitem absoluta esperança. Mesmo imersos em uma “atmosfera de chumbo”, como definiu Carlos Drummond de Andrade no poema em homenagem ao artista, seus homens e mulheres estão sempre na perspectiva e promessa de algo.
Tal característica, marca de seu trabalho, pode ser conferida na exposição Goeldi – Luz Noturna, em cartaz na Caixa Cultural de Salvador. Através de 60 xilogravuras, reunidas pela sobrinha-neta do artista, Lani Goeldi, o espectador tem acesso a uma visão de mundo que versa sempre entre dois lados, nunca traçados de forma antagônica. Claro e escuro, ir e vir. “Luz Noturna”, de 1960, escolhida para batizar a exposição e uma das últimas obras de Goeldi, sintetiza bem o seu trabalho: retratado no contraste preto e branco, um homem parece respirar fragmentos de luz.
Além das obras, a exposição reúne um amplo acervo biográfico. Recortes de jornais, manuscritos, objetos e uma cronologia ilustrada sobre a vida de Oswaldo Goeldi, em uma tentativa de aproximar seu nome, sua trajetória e seu cotidiano do público – a mostra, que agora chega a Salvador, é itinerante e já passou por outras capitais brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Moderno – Mesmo produzindo na época da efervescência modernista (Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Portinari, Anita Malfatti), Goeldi olhou pouco para seus conterrâneos e para os temas de forte cunho nacional. Não que tenha traçado um olhar distante, já que suas obras também retratam um Brasil de pescadores, sobrados, ruas e cidades. Mas Goeldi foi sempre mais sutil, reservado em um canto e sem permissão para os rompantes ideológicos modernistas.
Filho de um casal suíço, mas nascido no Rio de Janeiro, Goeldi encontro seu par, em tema e forma, ao lado do desenhista e ilustrador austríaco Alfred Kubin, que conheceu por ocasião de sua primeira exposição na Galeria Wyss, em Berna, e com quem manteve correspondência durante toda a vida. Kubin, além de trabalhar com a atmosfera que falava diretamente a Goeldi, possuía a mesma personalidade do gravurista brasileiro: era calado, firme no silêncio.
Na exposição Goeldi – Luz Noturna, o espectador tem a oportunidade de conhecer as obras de Oswaldo Goeldi e através delas chegar ao artista. Professor, ilustrador e referência como gravurista, Goeldi imprimiu, em cada traço de imagem, um pouco de sua personalidade silenciosa – que foi, ao mesmo tempo, espaço para uma extrema crença no outro.
SERVIÇO
Goeldi – Luz Noturna. Caixa Cultura Salvador, de terça a domingo, das 9h às 18h. Entrada Gratuita. Até 04 de julho.
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