Arte acessível e inclusiva é a ideia de todos os trabalhos que ficam expostos no Centro Cultural Oi Futuro, no Rio de Janeiro. Na última segunda-feira (5), o espaço inaugurou as exposições “Somos Somas”, do jornalista e poeta Paulo Sabino, e a "ArtSonica", Residência Artística promovida pela Zucca Produções, com apoio da Oi e da Oi Futuro, que ficam disponíveis para visitação até o dia 15 de setembro. Eu e mais um grupo de jornalistas de diferentes localidades do Brasil tivemos a oportunidade de realizar uma visita guiada pelas mostras e acompanhar os próprios artistas falando do seu trabalho.
O tour começa apresentando a poesia por uma outra perspectiva, visual e digital, com a exposição “Somos Somas”, que tem curadoria de Alberto Saraiva. O trabalho reúne 19 poemas de Paulo Sabino declamados pelo próprio poeta e por convidados virtuais. Entre eles: Charles Gavin, ex- Titãs, Mabel Velloso, Claudia Roquette-Pinto, Ricardo Silvestrin, Maíra Freitas, Péricles Cavalcanti, Adriano Nunes e Carlos Rennó. Em uma sala no térreo do Centro Cultural, a gente sente como se estivéssemos assistindo às declamações ao vivo com os vídeos, gravados em celular, que são projetados nos quatro cantos da sala.
Os poemas, que também fazem parte do livro Somos Somas de Paulo Sabino, abordam a pluralidade humana através de diferentes temáticas. Em entrevista ao iBahia, o autor da obra explicou que o seu trabalho reflete o ser humano que é composto de somas de afetos, forças, personalidades e características. Na ocasião, Paulo também falou sobre características da sua personalidade artística e do seu trabalho.
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“Não gosto da ideia de que a poesia é para poucos, gosto de popularizar. Ela é só mais uma forma de arte que quando toca às pessoas comunica. Eu costumo dizer que a poesia deveria ser o prato principal do brasileiro – o feijão com arroz”.
A exposição ainda conta com um grande painel que reproduz a biblioteca de Paulo Sabino, cenário constante em seus vídeos poéticos divulgados nas redes sociais, e três monitores para exibir obras inéditos do poeta. Os trabalhos ocupam o térreo e o 2° piso do Centro Cultural.
ArtSonica - Residência Artística
Após conhecer a exposição “Somos Somas“, você será levado para uma verdadeira desconstrução da arte através dos nove projetos da “ArtSonica”. A residência artística te conecta a arte sonora de diversas formas e mostra que todos, independente de limitação física, podem sentir o poder do som.
Aurora Cassino do Sol
O “Aurora Cassino do Sol”, de Brayann Ivanovick, apresenta o primeiro desfile no formato de fashion filme brasileiro transposto para realidade virtual através de um óculos VR 360°. Com os óculos, o visitante consegue ver imagens de diversos pontos icônicos cariocas e cearenses e da personagem Aurora, que foi desenvolvida a partir do perfil de seis mulheres (personalidades que retratam poder, beleza, noite, justiça, luz e jogo), em suas múltiplas versões.
Som
Imagine uma pessoa com deficiência auditiva ou visual sentir um vídeo de dança com o som de vários instrumentos? Isso é possível com o projeto "Som", de Clara Kutner, uma plataforma vibratória que possibilita o visitante sentir a melodia vibratória de uma performance de dança e música através do uso de uma mochila vibratória e de locais para apoiar os pés e as mãos.
Em cena, os intérpretes e seus respectivos instrumentos te fazem literalmente sentir cada nota musical. São eles: Lucas Guilherme de Ciça Salles (trombone), Miguel Alonso e Chica Batella (alfaia), Clara Kutner e Luciano Câmara (baixo), e Bruno Ramos e Alejo (Cajón). Confesso que fiquei com vontade de presenciar uma sessão com uma pessoa com deficiência para ver suas reações diante desse projeto.
Seu Quebra Barragem
Como a arte também serve para ampliar debates e fazer refletir catástrofes, a exposição conta com o projeto “Seu Quebra Barragem”, de Gabriela da Cunha. Uma performance que reúne testemunhos humanos e não humanos diretamente atingidos pelo rompimento da hidrelétrica de Belo Monte, incluindo o próprio rio Xingu.
Na sala do projeto, em muitos momentos me senti no próprio Xingu, ouvindo pessoalmente o depoimento das pessoas, porque os sons tornam tudo muito real e muito forte (a dor, o desespero, a decepção e raiva de cada personagem). É impossível sair de lá sem se perguntar quantas outras tragédias serão necessárias para que os povos parem de se exterminados.
Máquina de Contato
A “Máquina de Contato”, do Koletivo Machina, é uma experiência imersiva que alia tecnologias digitais e ancestrais na criação de um ambiente ritualístico ancestrais-futurista. Na sala, o visitante deve entrar descalço ou optar por colocar uma espuminha no pé. Sentado (a) usando uma túnica preta e máscaras, sentindo a terra gelada nos pés, parece que você é transportado para um outro universo a cada nova imagem projetada nas paredes do ambiente. Imagens que mudam conforme os estímulos do cérebro de cada participante no decorrer da experiência. A “Máquina de Contato” me trouxe a sensação de que meus pensamentos estavam sendo observados.
Espectros Computacionais 360°
Já pensou se você pudesse ouvir o cérebro? Essa é a proposta do trabalho “Espectros Computacionais 360°”, de Luiza Guimarães. A sala do projeto tem várias imagens de ressonâncias eletromagnéticas cerebrais que foram submetidas a tecnologias de sonificação de dados. Me senti imersa em imagens provenientes de cérebros semelhantes ao meu e na música de sinais sonoros por eles emitidos.
Memorial para um Apagamento
Para quem gosta de história, visitar o “Memorial para um Apagamento”, de Ismael Monticelli, é uma ótima pedida. O projeto tem como objetivo mostrar a história do morro do Castelo e o motivo dele ter desaparecido. Ismael realizou uma pesquisa iconográfica, bibliográfica e documental do morro do Castelo, núcleo urbano inicial do Rio de Janeiro, que abrange quase 400 anos de história.
Ouvidochão – Cartas Quilombolas
A sensação de se sentir projetado em um outra realidade também é possível na sala do “Ouvidochão – Cartas Quilombolas”, de Gabriel Muniz e Irla Franco. O ambiente conta com um sistema polifônico que reproduz continuamente as ambiências dos três territórios escolhidos pela dupla - Valongo, Camorim e Quilombá – para representar possíveis trajetórias da negritude no Rio.
A projeção apresenta paisagens, mapas e retratos animados das pessoas entrevistadas nas três localidade para aproximar o espectador das características simbólicas, culturais e discursivas de cada povo.
Além disso, nessa sala você ainda consegue interagir com plantas comuns de cada uma das regiões. Folhas de dendezeiro, espada de Ogum e Peregum estão ligadas a uma tecnologia que emite efeitos sonoros sintetizados pelo toque.
Heterotopia – A Escuta em Situação
E se você pudesse sentir os lugares que passa diariamente através de vibrações? A “Heterotopia – A Escuta em Situação”, de Yuri Bruscky, problematiza a realidade (multissensorialmente) vivenciada nos fluxos da vida cotidiana. Yuri Bruscky gravou diversas regiões do Rio de Janeiro e processou o material para que as mudanças nas características do local pudesse ser sentidas pelo indivíduo através de uma poltrona de massagem com sistema de funcionamento alterado e do uso de fones de ouvido conectados em um tablet.
Cada gravação tem uma dinâmica e intensidade diferente nos motores vibratórios da cadeira de massagem, que atua ao longo do corpo de acordo com as particularidades morfológicas dos sons em questão.
Perspectivas do Helicóptero
No tour pela exposição ArtSonica, você também será levado a refletir sobre um dos problemas mais sérios do nosso país, a desumanização dos favelados através do atual plano de segurança pública com relação às favelas. Com dois óculos de tecnologia 3D para exibição em 360 graus, a "Perspectivas do Helicóptero", do Coletivo Fluxos Urbanos, me apresentou a perspectiva dos moradores das favelas e sua realidade diária e a visão dos policiais em suas incursões nas favelas cariocas usando helicópteros para encontrar/exterminar bandidos.
Esse projeto foi o que mais me tocou durante toda visita, porque eu fiquei me questionando como você dar ordens de “abrir fogo” do alto onde todos se assemelham tanto e até um guarda-chuva pode parecer um revólver.
Serviço
Exposição Somos Somas, de Paulo Sabino
Visitação: 5 de agosto a 15 de setembro de 2019
Terça a domingo, 11h às 20h |
Local: Térreo e Nível 2 do Centro Cultural Oi Futuro
Endereço: Rua Dois de Dezembro, 63, Flamengo - Rio de Janeiro
Entrada franca | Classificação etária: livre
Informações: (21) 3131-3050
ArtSonica Residência Artística
Visitação: 6 de agosto a 15 de setembro de 2019
Terça a domingo, das 11h às 20h
Local: Centro Cultural Oi Futuro; Rua Dois de Dezembro, 63, Flamengo - Rio de Janeiro
Entrada franca | Classificação etária: livre
Informações: (21) 3131-3050
*Jornalista viajou a convite da Oi e da Oi Futuro
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Redação iBahia
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