“Mano, você é meu sangue, mais que um amigo/ Me dizia coisas que até hoje eu sigo/ E será pra sempre um pedaço de mim. (...) Mano, as suas palavras me fizeram de aço/ E hoje eu sei que em tudo que eu faço/ Eu posso cantar e contar com você”. Como dizem os versos da música em que Leonardo homenageia o saudoso Leandro, seu parceiro de vida e arte, Zezé Di Camargo e Luciano também se completam, são letra e melodia. De aparências e personalidades distintas e com 11 anos de diferença entre eles, os dois filhos famosos de Seu Francisco e Dona Helena escrevem sua história na música sertaneja, lado a lado, há três décadas.
— Mesmo antes de cantar com ele, eu sempre tive a visão de Zezé como um pai, por ele ser o mais velho de todos os irmãos. Hoje em dia, somos oito, mas originalmente éramos dez. Antes de Zezé nascer, existiu uma menina, Maria, que viveu somente por seis horas ou seis dias, meus pais sabem dizer ao certo. E depois perdemos Emival (com quem Zezé formou sua primeira dupla, Camargo e Camarguinho), ainda criança, num acidente de carro (em 1975), como mostra o filme (“Dois filhos de Francisco”). Mas lá em casa sempre houve essa coisa da hierarquia, do respeito ao mais velho. Se ele puxa a minha orelha, eu baixo a cabeça — afirma o caçula.
Zezé confirma essa relação paternal com os irmãos mais novos e diz que, apesar de conviver bem mais com Luciano, por conta do trabalho, o carinho por todos os outros está no mesmo patamar.
— Não existe preferência, seria injusto da minha parte dizer que amo mais um irmão do que outro — diz ele, lembrando ter sido arrimo da família Camargo: — Por ser o mais velho, desenvolvi um papel de pai, ainda mais num lar humilde como o nosso. Eu ajudei, verdadeiramente, a criar todos os meus irmãos. Quando adolescente, arrumei emprego para levar dinheiro e comida para dentro de casa. E, quando precisava dar umas palmadas, eu dava.
Às vésperas do Dia do Irmão, celebrado na próxima quinta-feira, 5 de setembro, o EXTRA encontrou Mirosmar José de Camargo, de 57 anos, e Welson David de Camargo, de 46, nos bastidores da turnê “Amigos”, em Barretos (SP), para conversar sobre afinidades e diferenças, qualidades e defeitos... Parceria, enfim. E constatamos que, no caso desses goianos, “É o amor” que sempre prevalece.
Maior orgulho
Zezé: “No dia em que ele chegou lá em casa em São Paulo, ainda um menino de 16 anos, determinado a me acompanhar na música. Eu não botava muita fé, mas Luciano saiu de Goiânia num ônibus, ligou pra mim e disse: ‘Estou na rodoviária, vem me buscar. Vim pra cantar com você durante 15 dias. Se eu não prestar, pode me mandar de volta’. E está comigo até hoje. Ele foi o oxigênio que eu precisava naquele momento para continuar brigando pela música. Tenho um orgulho imenso dessa determinação que ele teve de acreditar no sonho da dupla, de cantar comigo”.
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Luciano: “Costumo dizer que Zezé é como capim: enverga, mas não quebra. Independentemente da situação, eu me orgulho de ver que meu irmão permanece sempre de pé. Agora, um orgulho específico que eu tenho é ter estado presente quando compôs ‘É o amor’. Naquela madrugada, eu disse: ‘Quero ficar do seu lado, Mira (eu chamava ele assim), ver você compor’. É um orgulho tardio, porque essa música se transformou no grande sucesso da nossa história”.
Deu raiva
Zezé: “Quando nós brigamos lá em Curitiba (em 27 de outubro de 2011, Zezé subiu ao palco sozinho depois de uma desavença no camarim com o irmão. Na ocasião, Luciano chegou a mencionar o fim da dupla). Mas, no dia seguinte, ele passou mal, foi para o hospital, e eu comecei a chorar e segurei na mão dele. Coisa de irmão, não tem jeito. Você fica bravo, mas ama. O amor supera tudo”.
Luciano: “Nunca tive raiva dele. Posso dizer com toda a franqueza que esse sentimento eu não tenho, não. Já discutimos, é natural entre irmãos, mas nunca partimos para a agressão física. Não me lembro de Zezé ter levantado a mão pra mim, nem quando eu era criança. Marlene (outra irmã), sim, me dava uma surra por semana (risos), sempre foi a minha segunda mãe. Mas reafirmo: sou uma pessoa que não guarda raiva. Posso até ficar triste, mas passa depois. Eu e Zezé ficamos sem nos falar, no máximo, por um dia. Era o tempo de chegar a hora do próximo show para chorarmos abraçados um com o outro. Até mesmo quando anunciamos a separação da dupla foi por um motivo bobo. Discutir com quem você ama é besteira!”
Declarações de amor
Zezé: “A gente fala ‘Eu te amo’ um para o outro todo dia que a gente se vê”.
Luciano: “Declaro meu amor a Zezé em todo show, no abraço, no olhar, com a voz... Acho que sou mais emotivo que ele, acabo demonstrando mais meu amor pelo meu jeito. Mas, com um afago, Zezé me diz mais que mil palavras. Eu sempre digo que tenho um privilégio muito grande: ser o primeiro a escutar a voz dele. Quem está ouvindo da plateia, tem um delay (atraso no som). Eu escuto o retorno no meu ouvido, segundos antes de todo mundo, e digo isso para me gabar (risos). Sou muito fã do meu irmão!”.
Semelhanças
Zezé: “Nós não somos parecidos em mais nada, a não ser no amor pelos filhos, pela família e pela música”.
Luciano: “Eu não me acho parecido com Zezé. Até fisicamente, outros irmãos se assemelham muito mais a ele. Mas acho que nós dois temos grandes corações, somos pessoas muito justas. Independentemente do tamanho da dor que possa vir em seguida, a gente vai sempre agir com justiça em relação ao próximo”.
Diferenças
Zezé: “Somos bem diferentes nos gostos pelas diversões. Luciano é recluso, já eu sou igual carneiro, adoro andar em bando. Acho que sou mais sociável que ele, nesse sentido”.
Luciano: “Eu sou bem mais caseiro mesmo... Gosto de ficar com a minha mulher e meus filhos, ele adora uma festa cheia de gente”.
Qualidade admirável
Zezé: “A grande virtude do Luciano é que, mesmo sendo um cara explosivo, ele é muito amoroso. Tem um coração molenga demais, um amor absurdo pelos irmãos, pela família, por mim... Ele coloca o sentimento à frente de tudo o que vai realizar”.
Luciano: “Esse coração imenso que Zezé tem é lindo demais!”.
Defeito incorrigível
Zezé: “Não ter paciência. Luciano não aprendeu a contar até dez até hoje!
Luciano: “Zezé não tem defeitos (risos)! As qualidades são tantas, que sufocam qualquer traço ruim. Parece piegas, mas não é... Ah, tá, lembrei de uma coisa: eu dou sempre bronca nele por se atrasar demais. Meu irmão não é nada pontual”.
Amigos de fora
Zezé: “Tenho muitos amigos no meio artístico. Adoro o Luan (Santana), por exemplo. É um cara que demonstra carinho e respeito por mim também. Por ser mais jovem que eu, mantenho uma relação paterna com ele: torço, elogio... O Santiago (da dupla Guilherme e Santiago) é outro irmão que a vida me deu”.
Luciano: “Amigo mesmo, tenho dois: Vinícius, filho da Fátima Leão, meu produtor musical; e Júnior, parceiraço meu e da minha mulher. Outros extrapolam a questão da amizade: meu cunhado Tu (Mário), irmão da Fau (Flávia Camargo, sua mulher); meu filho Nathan (de 24 anos, fruto do relacionamento com Mariana, irmã de Leandro e Leonardo); e minhas duas cunhadas, Alessandra e Talita. São pessoas para quem eu ligo no dia a dia, chamo pra perto. Amigo não é aquele que você encontra, é aquele com quem você conta. E, no meio artístico, eu sei que também posso contar com Chitão, Xororó e Leonardo, além do Zezé”.
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Redação iBahia
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