‘Eu vim / Eu vim da Bahia cantar / Eu vim da Bahia contar / Tanta coisa bonita que tem / Na Bahia, que é meu lugar”, cantavam juntos os consagrados Caetano Veloso e Gilberto Gil na turnê comemorativa “Dois amigos — Um século de história” (2015), em que cada um completava 50 anos de carreira. Ainda no início de sua estrada, outra dupla de grandes parceiros baianos, Danilo Mesquita e Danilo Ferreira aproveitam o lugar que ganharam ao sol no horário nobre da Globo para contar na TV mais coisas bonitas sobre a terra do axé.
Fãs dos cantores, os intérpretes de Valentim e Acácio na novela das nove têm muito mais que a baianidade em comum com os pais da Tropicália. Assim como os ícones da música brasileira, que dividiram uma casa no exílio, em Londres, os rapazes, ambos com 26 anos, moram no mesmo endereço no Rio e colecionam histórias emocionantes, divertidas e profissionais.
Para comemorar o Dia do Amigo, festejado na próxima sexta-feira, os dois se inspiraram no ensaio de fotos que Caetano e Gil fizeram para divulgar a turnê de 2015, aquela em que cantaram “Eu vim da Bahia”. Na hora dos cliques, o silêncio de uma sala dos Estúdios Globo é interrompido pelas gargalhadas dos Danilos. Nada dá mais prazer aos colegas de elenco de “Segundo sol” do que falar da amizade construída há oito anos. Nascidos em Salvador, os xarás só se conheceram na Cidade Maravilhosa, em maio de 2010, quando faziam parte da mesma agência de modelos. Ao narrar essa situação, Ferreira é “atropelado” por Mesquita: “O mais legal você pulou!”. “É que eu sou prático”, retrucou o intérprete de Acácio. Mesquita quer contar logo que, antes de ficarem frente a frente, o destino já arquitetava os caminhos para o encontro.
— O dono da agência, Sérgio Mattos, nos descobriu no mesmo dia, no mesmo lugar, só que em horários diferentes. Foi em novembro de 2009, num hotel, na Ondina, em Salvador. Ferreira foi lá por conta de uma convenção de moda que estava rolando. Eu tinha ido com meu pai pegar uns ingressos para um show. Serginho dizia que a gente deveria se conhecer, que deveríamos ser amigos. Só que não conseguíamos nos esbarrar nunca — lembra Mesquita.
Cinco meses depois, os dois, já no Rio, se cruzaram na agência, ainda sem conhecer o rosto um do outro.
— Passei por ele no corredor e alguém gritou: “Danilo!”. A gente virou junto e ficou olhando para a pessoa, que apontou o Ferreira. Quinze minutos depois, entrei na sala do Serginho, e ele estava lá. Então, fomos apresentados: “Esse é o Danilo e... esse é o Danilo! Até que enfim!” — relembra Mesquita.
A partir daí, a parceria se consolidou. Morando em São Gonçalo com os pais, Ferreira ficava na república onde o amigo vivia quando ia a eventos na Zona Sul do Rio. E Mesquita também teve a oportunidade de sentir a hospitalidade da família do xará quando ficou sem teto.
— Teve um tempo em que eu morava com uma namorada, e, quando a gente terminou, eu não tinha para onde ir. A mãe dele disse para eu ficar um tempo lá. Era para ser duas semanas, fiquei por sete meses (risos) — recorda o ator que vive o filho de Beto Falcão (Emilio Dantas).
Há cinco anos, os Danilos passaram a morar juntos. Primeiro, na Ilha do Governador; depois, na Penha; e, agora, na Zona Sul, onde dividem o espaço com a atriz Jéssica Ellen. Por serem soteropolitanos, compartilharem o mesmo nome e sobrenome (os dois têm Santos!), a mesma profissão e a idade, eles acabam colecionando confusões hilárias.
— Na primeira novela que Mesquita fez, “I love Paraisópolis” (2015), ele saiu na imprensa como sendo Danilo Ferreira. Já aconteceu de marcarem o meu nome numa foto dele no Instagram. Sem contar que o povo do restaurante onde a gente pede comida deve ficar louco. Faço meu pedido, dou o endereço e meu nome. Cinco minutos depois, liga Mesquita, com o mesmo nome e endereço, mas com um pedido diferente — diverte-se Ferreira.
Dentro de casa, os meninos têm características distintas. Enquanto Ferreira é o organizado, Mesquita é craque na bagunça — eles até lembram um pouco o perfil de seus personagens quando moravam juntos no Casarão da trama de João Emanuel Carneiro. O baderneiro bem que tenta se defender, mas o amigo lhe dá uma olhada, e o moço acaba se entregando.
— Ah... Bagunço meu quarto... Às vezes, como pão, fica aquele farelinho no prato, e o deixo lá do ladinho da cama... Demora uns dois dias para sair — brinca o rapaz, que muda rapidamente de assunto para ficar bem na fita: — Mando bem na cozinha. Faço o básico, mas também sou ousado. Gosto de cozinhar ouvindo um som, tomando uma cervejinha... Minha lasanha à bolonhesa é muito boa!
Ferreira concorda, balançando calmamente a cabeça. Mesquita, o mais agitado, ainda pede que o outro elogie seu feijão. “O do seu pai é que é barril”, provoca o parceiro.
A sintonia que parece inquebrável já teve ranhuras, segundo eles. Mas não demorou para a conexão ser restabelecida.
— Briga mesmo de bater boca, não querer mais falar, ir cada um para seu quarto... Aconteceram umas duas vezes. Mas ficamos de bem meia hora depois. É aquela briga de irmão, sabe? A gente está se odiando, mas quando se encontra na cozinha, diz: “Aí, pega água pra mim...” — constata Mesquita.
Além de irmãos — os dois consideram ter duas mães —, Mesquita já teve o melhor amigo como cunhado. O namoro de Ferreira com a irmã do intérprete de Valentim, Manuele, não seguiu, mas em nada abalou a amizade dos atores, que cada vez têm mais causos pra contar.
Rapidamente, Ferreira, às gargalhadas, se lembra de um carnaval em que estavam duros e acabaram dando a volta ao mundo para chegar a Salvador.
— Minha mãe tinha um amigo que comprava passagens de avião nas milhas dele, mais baratas, e fez um desconto pra gente. Poucas horas antes de viajar, vimos que o voo saía às 14h e chegava às 21h. Tinha quatro escalas: Galeão-Guarulhos-Ribeirão Preto-Vitória da Conquista-Salvador.
Mesquita complementa:
— Era meu aniversário, e passei voando. E não era um Boeing, era um jatinho desses com hélice, que tremiam. Um medo... Não conseguia ficar em pé no avião. Para ir ao banheiro, tinha que ir abaixado. Pra subir nele, a escada era a porta. Pensei: “No dia do meu aniversário, vou morrer (risos)”. Mas valeu, porque o carnaval foi incrível!
Mais uma vez inspirados pela amizade de Caetano e Gil, Mesquita e Ferreira afirmam que se imaginam envelhecendo juntos.
— A gente quer, sim, estar junto daqui a um século (risos). Esses caras são gigantes! Esse tipo de artista que é importante pra gente. Eles têm respeito à profissão! — diz Ferreira.
E Mesquita sonha:
— Se a gente chegar lá com 1% do que Caetano e Gil construíram, já vai ser tão bonito...
O caminho parece ser mesmo esse. Apesar da longa caminhada para atingir a marca dos conterrâneos, os meninos se orgulham do que viveram juntos até agora. E não foram só alegrias.
— Em 2013, meu pai ficou desempregado, e eu perdi algumas pessoas da minha família. Passei 11 meses em Salvador, precisava voltar ao Rio, retomar minha carreira, mas minha mãe só tinha R$ 500 para me mandar todo mês. Morávamos (ele e o amigo) na Ilha, e a grana dava para o aluguel e as contas da casa, mais nada. Ferreira era do elenco de apoio de “Malhação”, ganhava R$ 1.800, e, durante alguns meses, fez as compras de mercado sozinho. Se não fosse por ele, eu não teria o que comer, teria desistido. Quantas vezes eu não tinha o dinheiro da passagem para ir a testes, e ele me deu? Amizade é isso! Sem esse cara, eu não estaria aqui — conclui Mesquita, chorando.
Também aos prantos, Ferreira não consegue dizer uma palavra. Apenas abraça o amigo. A galhofa da sala se aquieta. Após alguns minutos, para quebrar o clima, ele avisa que, se tivesse dinheiro, daria um trio elétrico de presente para Mesquita no Dia do Amigo.
— Meu sonho é cantar num trio elétrico, não tenho coragem — explica o intérprete de Valentim, substituindo o choro pela gargalhada.
Já Mesquita presentearia o “irmão” com um jatinho “para ele viajar o mundo”. Ferreira limpa as lágrimas e, com um sorrisão, promete levar o xará junto. Sempre.
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Redação iBahia
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