Pouco tempo depois que Boogie Oogie (Globo, 18h) estreou, em agosto do ano passado, a personagem de Bianca Bin, a Vitória, já dizia que Carlota (Giulia Gam) tinha um segredo muito bem camuflado. Semanas depois, em meio a discussões, fofoca de empregada e ouvidos atrás da porta, deu-se início a uma operação para desvendar o que de tão podre Carlota escondia. Cinco meses após a estreia e faltando dois para colocar um ponto final, nada, ou praticamente nada, foi descoberto. Outros personagens como Luisa (Alexandra Richter), Sandra (Isis Valverde) e Cristina (Fabíula Nascimento) entraram na história do mistério, se arriscaram enfrentando a megera, mas se engana quem acha que até o capítulo de ontem alguma coisa foi revelada. E, pelo andar da carruagem, não seria loucura arriscar um palpite de que isso só deve ter desfecho nos capítulos finais. É uma bela maneira de enrolar e ganhar tempo, mas também de dar ao espectador uma impressão confortável de que tudo é mais ou menos previsível, o que acabando levando a trama em direção à contramão das telenovelas atuais, que têm sido mais hiperativas, dinâmicas, entregando desfechos sem demora ao público.
Rui Vilhena, o autor da novela, capricha nos truques folhetinescos. Na trama dele, a mocinha sofre tudo o que tem que sofrer, a vilã apronta tudo o que tem que aprontar, seguindo um modelo pré-estabelecido desde o primeiro capítulo da obra. Não há grandes reviravoltas. O que acaba por fazer, por exemplo, a história de Sandra e Rafael (Marco pigossi) perder a torcida do público, já que a trama deles, tão perturbada no início pela possessão de Vitória, foi empobrecida. Boogie Oogie tem boas interpretações e seu roteiro é muito bem costurado, mas a impressão que se tem, ao ver os capítulos diários, é que a novela não tem mais uma boa história para contar, já teve o prazo de validade vencido. Mocinhos e vilões já sabem quem tem bom caráter e quem não tem na trama. Não há mais máscaras. Os planos maquiavélicos das vilãs não surtem efeito e até o trunfo dos bebês trocados já foi revelado, com culpada apontada e sendo investigada pela polícia.
Crítica de TV: Império vai conseguir ser mais interessante até o juízo final? Para completar, as antagonistas da história parecem ter saído de um típico desenho animado. Vitória, a vilã júnior, é do tipo que rouba chave da casa dos mocinhos, entra escondida, joga balde de água gelada enquanto eles dormem e sai correndo. Suas cenas, com seu comportamento infantil, deveriam causar raiva a quem assiste, mas são tão bizarras que chegam a fazer rir. Suzana (Alessandra Negrini), a vilã perdida, anda ciclicamente, se mete em confusão, mas não chega a lugar algum. É do Rio, morou nos Estados Unidos, mas tem sotaque paulista. Já Carlota, a vilã sênior, pelo visto é capaz de roubar e de matar, uma bandida da pior espécie, mas até que se prove o contrário é uma louca que ameaça e grita com qualquer personagem que ousa cruzar seu caminho. Quando ela aparece em cena, é bom abaixar o volume da TV. Os capítulos são recheados de cenas com frases de efeito. No capítulo dessa segunda-feira, por exemplo, indignada porque Luisa foi escolhida para ocupar o cargo de Fernando (Marco Ricca) na Vip Turismo, Carlota disse para o filho, Beto (Rodrigo Simas), que Luisa só iria assumir a empresa “quando o inferno virasse uma geleira”. Ontem, Suzana, que só aparece para provocar, avisou para Carlota pegar logo a Vip Turismo para ela antes que Homero (Osvaldo Mil) fizesse “o que bebê gosta de fazer na fraldinha”. Pode-se concluir, então, que Rui Vilhena encontrou sua fórmula daqui para frente: trata-se mais de preencher o tempo com gritaria, discussões banais e, cá e lá, um toque de mundo bizarro. Resta saber se o telespectador, com mais 11 novelas na TV aberta à disposição atualmente, tem paciência de aceitar isso por muito tempo. A propósito, o que não fez diferença nesta novela, bem como não vem fazendo diferença em novela nenhuma, é a tal moldura temática que aparentemente dá roupagem à trama. Boogie Oogie tinha uma boate como plano de fundo. O assunto só apareceu em poucas cenas. Colocaram uma música agitada na abertura e dizia-se que discutiria a entrada do universo das discotecas no final dos anos 70. Discutiu coisa nenhuma.
*Com orientação e supervisão da repórter Marília GalvãoVeja também:
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