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Entrevista: Bailarino de Daniela Mercury fala sobre preconceito

No Dia Internacional da Dança, conheça a história do coreógrafo baiano Jorge D'Santos

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29/04/2013 às 16:00 • Atualizada em 28/08/2022 às 22:07 - há XX semanas
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Jorge D'Santos
Jorge D'Santos é um daqueles artistas multitarefas da nova geração: é dançarino, ator, cantor, coreógrafo e professor. No auge dos seus 26 anos, o baiano já acumula no currículo importantes trabalhos artísticos. Veja a agenda de espetáculos programados para Salvador Jorge cursou Dança na Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), participou de inúmeras montagens do Teatro Castro Alves, atuou no cinema no longa 'Maelstrom', do diretor Belga Rudolf Mestdagh e coreografou diversos espetáculos de teatro, inclusive em 'A Paixão de Cristo'. Entretanto, ele tornou-se conhecido mesmo por ter trabalhado durante cinco anos como bailarino no corpo de baile de Daniela Mercury, cantora que ele define como uma "super artista", "guerreira" e "cheia de amor e vida". Novo talento da dramaturgia baiana, ele também é o nome por trás do personagem 'Bê', do musical 'Éramos Gays', que esteve em cartaz em Salvador no Teatro Módulo, desde o início de 2013. Dirigido pelo diretor norte-americano Adrian Steinway e escrito por Aninha Franco, o espetáculo receberá o troféu da 13ª edição do prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade concedido pela Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo (APOGLBT). Em entrevista ao iBahia, Jorge revelou segredos da carreira e deu dicas para outros rapazes que sonham em ingressar no mundo da dança. Veja: iBahia - Como você descobriu que gostava de dança? Jorge D'Santos - Sempre estive conectado com a dança e o teatro desde menino. Gostava muito de brincar na rua e não gostava de ficar em casa. sempre estive junto da turma que fazia som com latas, brinquedos, que estava envolvido com dança ou com arte. Nas festas, na igreja, na escola, o que mais me interessava era dança, teatro ou música. Minha mãe não alimentava esse meu gostar, então, ia buscar na rua o que gostava de fazer, que no final de tudo era estar dançando. iBahia - Como sua família reagiu quando você contou que gostaria de seguir a carreira? Jorge D'Santos - Eu não conheço meu pai e minha mãe eu perdi há sete anos. Quando a perdi, foi justamente no momento quando comecei a viver do que eu faço. Tenho hoje três irmãos por parte de mãe e não tive problema em assumir essa carreira, pois sempre fui muito independente. Mesmo a família não apoiando, de alguma forma driblava e fazia o que eu queria; antes de trabalhar com arte trabalhava lavando carro, vendia roupa que uma moça da minha rua fazia, limpava casas. Com esse dinheiro eu pagava meus cursos de teatro e dança. Com essa atitude, a minha família já sabia que mesmo não apoiando eu iria seguir essa carreira.
"Sempre sofri e ainda sofro preconceito por ser bailarino e artista"
iBahia - Sofreu ou sofre algum preconceito da sociedade? Jorge D'Santos - Sempre sofri e ainda sofro preconceito por ser bailarino e por ser artista, mas todos os preconceitos só me fazem fortalecer. É uma pena que a nossa sociedade ainda não entendeu que o artista é um trabalhador, talvez seja por falta de informação e conhecimento. O papel do bailarino na dança é de extrema importância. iBahia - Quais os cuidados com a saúde que um bailarino deve ter? Jorge D'Santos - Ser bailarino é uma vida muito parecida com a de um atleta, você precisa estar com a saúde sempre em dia, seu instrumento principal é o seu corpo e a saúde é o grande motor, por ser o corpo o principal instrumento, perdemos muito rapidamente vitaminas, minerais e energia na execução do trabalho. Por isso, se alimentar bem, beber muita água, descansar para reposição de energia e ter uma atividade de manutenção do instrumento corporal é fundamental para a saúde de um bailarino. iBahia - Qual o conselho que você dá para os garotos que também querem ser bailarinos? Jorge D'Santos - O primeiro conselho é pensar sobre esse desejo, se é realmente um sonho que te acompanha assim como as outras profissões. A dança é um território difícil para os seus executores, é como qualquer outra profissão, com suas dificuldades: muito estudo, dedicação, estar disponível para abdicar de uma vida social para estar trabalhando.
iBahia - Existe uma fórmula de sucesso? Jorge D'Santos - É um longo caminho de muito trabalho e esforço. Toda vez que me pedem um conselho, lembro das palavras de um grande mestre de balé, Carlos Morais, com quem tive o prazer de fazer algumas aulas e poder escutar as suas palavras: "Não se consegue nada se não cair uma gota de suor no chão". Se ser bailarino for verdadeiramente o seu sonho, irá conseguir realizar e eu ficarei muito feliz e orgulhoso em ver mais um bailarino baiano nascendo. iBahia - Você também é ator. O que levou a também seguir a carreira? Jorge D'Santos - Tenho um pensamento que as artes quando conversam é bem mais interessante. O meu grande barato é fazer isso, colocar as linguagens para conversar. Nunca pensei nas áreas separadas, sempre estive com o teatro, a dança e a música morando dentro de mim. Antes de me formar profissionalmente como bailarino, sempre atuei em peças na escola e na rua onde eu morava. Sempre era escolhido para fazer o personagem que atuava e dançava, e quando o personagem não dançava eu inventava uma dança ou movimentos para o personagem! [risos] iBahia - Dá para conciliar as duas profissões? Jorge D'Santos - Fiquei durante cinco anos sem fazer teatro por conta da minha formação como bailarino, foi quando me dediquei somente a dança. Tinha uma demanda muito grande no período de formação: acordava às 5h da manhã, tinha aula até às 13h, à tarde trabalhava numa companhia e, à noite, voltava a fazer aulas. Chegou uma hora que comecei a fazer shows e apresentações nos finais de semana e não sobrava tempo para fazer teatro. Há três anos voltei aos palcos e a ideia agora é trabalhar com as duas profissões em conjunto.
"O trabalho com Daniela me fez refletir a nossa função quanto artista no mundo"
iBahia - Como você começou a trabalhar com Daniela Mercury? Jorge D'Santos - Fui fazer uma audição para dançar em um show e acabei dançando durante cinco anos. iBahia - Certamente você acompanhou os noticiários e soube que ela assumiu um relacionamento com uma mulher... Jorge D'Santos - Quando vi as notícias fiquei muito feliz, por uma pessoa poder se assumir e não precisar esconder a sua felicidade. Daniela é um ser humano que admiro e respeito muito, é uma super artista. Aprendi com ela a amar mais ainda o que faço. Sempre agradecia quando estava com ela no palco, agradecia por poder dividir a cena com uma guerreira, com uma força e com uma criatura cheia de amor e vida. iBahia - O que você leva dessa experiência com Daniela? Jorge D'Santos - O trabalho com Daniela me fez refletir a nossa função quanto artista no mundo, viajei por muito lugares com ela, dentro e fora do Brasil e tive o prazer de ver felicidade no rosto das milhares de pessoas que assistiam aos shows. A força do trabalho de Daniela é algo precioso. Ver uma artista como ela ter encarado o mundo e falar do seu amor, é um ato de coragem e, acima de tudo, um ato de amor. Quantas pessoas ainda não amam e não são amadas porque a sociedade usou o preconceito para matar o direito de ser livre e feliz? Daniela é uma voz de milhões que somente desejam amar, amar e amar...
iBahia - Atualmente você integra o elenco do musical 'Éramos Gays', que trata da temática LGBT com bom humor. O que achou da repercussão do trabalho? Jorge D'Santos - 'Éramos Gays' é uma voz que representa o humano. Poder fortalecer e representar esta voz é uma evolução para o meu trabalho e para a sociedade. Tive a experiência de receber e-mails de pessoas agradecendo pelo fato de o espetáculo existir. Foi um presente para mim, um ator jovem, representar um texto tão maduro, potente e cheio de amor de Aninha Franco. iBahia - Vocês já ganharam vários prêmios... Jorge D'Santos - Acabei de receber uma ligação de Aninha comemorando, dizendo que o musical ganhou um prêmio em São Paulo, o 13º Premio Cidadania em respeito a diversidade. Olhe a repercussão do trabalho! É maravilhoso ouvir as pessoas e perceber o quanto 'Éramos Gays' coloca você para refletir sobre você mesmo, é uma maneira de ativar o respeito, a tolerância, a paz, e o direto de cada ser humano. iBahia - Quais são os seus próximos projetos? Pode adiantar alguma coisa? Jorge D'Santos - Tenho um filme e um projeto de teatro que ainda não estou autorizado para divulgar, mas acredito que vocês saberão logo em breve.

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